EM MINHA VIDA tive raros e felizes prazeres, muitos dos quais intraduziveis aos mais jovens. Quando garoto minha mãe me levava sempre ao cinema, e assim vi muitos filmes de Charles Chaplin restaurados, verdadeiramente em película, e em tela grande. Eu estava lá aguardando as cortinas se abrirem para assistir "Uma Aventura da África" com Bogart e Hepburn... me emocionei com Victor Mature e Hedy Lamarr em "Sansão e Dalila" de Cecil B. DeMille... e estive também em ótimos shows de rock, e a felicidade de, ao menos, chegar perto do George Martin em pessoa, quando esteve no Brasil. Levei anos ouvindo as músicas dos Rolling Stones e dos Beatles nos discos de vinil ingleses stereo. O prazer de retirar o LP do envelope de papel branco com os dizeres "Made and Printed in Great Britain" era o máximo! Som espetacular jamais igualado! Que saudade de tudo isso, dos velhos livros capa dura de Charles Dickens e Mark Twain que eu apanhava da prateleira na casa de meus avós... Até hoje fico com os olhos molhados quando me lembro do Vagabundo e o olhar da florista cega quando o reconhece no final de "Luzes da Cidade", ou quando o centurião romano fica confuso ao olhar para Jesus Cristo em "Ben-Hur", com Charlton Heston. Hoje tudo está digitalizado, frio, fácil, empastelado na internet, em pen drives, sem capas, sem glamour, sem emoção, sem arte... As pessoas "mordem" os filmes e as músicas como se fossem barras de chocolate barato, e não raro jogam a outra metade na sarjeta. Ah, como eu queria um pouco de Technicolor neste mundo RGB!