Diário de uma mulher

O dia estava sendo um saco, como são alguns deles. Chovera, a manhã toda. Bem, pelo menos quando levara o filho a escola não chovera. Ela amava o frio, mas aquela chuva era inconveniente e aborrecida, tirava o brilho dos -4 graus Celsius que estava lá fora.

Ela sentou para trabalhar, há algum tempo andava sem inspiração, mas precisava escrever algo para um blog do qual gostava muito de fazer parte. Não queria falhar de novo com eles. Sentou no sofá, era ali que ela trabalhava, sentada no sofá com a televisão ligada, o iPhone perto para conversar com a melhor amiga pelo Whatsapp e o som tocando. Ninguém entendia bem como ela podia trabalhar assim, cheia de distrações. Ela não entendia como as pessoas podiam fazer apenas uma coisa por vez...

Ela sentia muita frustração, estava difícil conseguir novos contatos para novos projetos. Parecia que ninguém se interessava por patrocinar um livro de fotos sobre os países do Oriente Médio ou uma nova aventura de moto de Londres até Istambul. Pessoal sem imaginação. Ela estava frustrada, num grau de frustração que batia na estratosfera.

Preparou o chá, puxou o Mac e começou a escrever, ou melhor, pensar. O pensamento seguira para o lugar onde vivia agora: Londres e seus habitantes. Ela gostava de Londres, dos museus, facilidades, transporte, o trânsito muito mais civilizado do que no Brasil, mas sua relação com o britânicos era outra coisa.

Ela era afável, educada, cheia de regras para si quando no convívio social. Odiava ser inconveniente, porque detestava que o fossem com ela. Mantinha sempre postura discreta (não tanto quanto se pensa), educada e cordial. Sorria, o sorriso era franco e real, não apenas um esboço. as palavras "por favor" e "obrigada" eram parte de seu vocabulário. Mas, ali tudo lhe incomodava.

As pessoas pareciam estar sempre apressadas, até demais. Como se o trem fosse partir sem elas, ou a vida de alguém estivesse em perigo. Os carrinhos de bebê eram armas poderosas nas mãos de mulheres sem qualquer sentido do espaço do outro, mesmo que esse outro fosse uma criança. Os idosos baixavam sua cabeça e jogavam suas cadeiras elétrica sobre quem ousasse atrapalhar seu objetivo. Isso, sem pedir com gentileza ou agradecer. Aliás, palavras de agradecimentos são raras por Londres. Como se falar com um estranho fosse um sacrilégio. Ela sorriu, sim, ficava imaginando o que pensavam quando a viam cruzar Turnham Green com sua botas, fones de ouvido e o gingar de quem dançava.... Na verdade, ela sabia bem, uma senhora havia implicado com ela outro dia, na frente de uma loja... A resposta dela foi sorri e continuar.

Nas filas as pessoas olhavam como cães raivosos, caso você ameaçasse o lugar deles. Certo dia no Starbucks ela queria ler o nome de um bolo que o filho pedira para comprar, a mulher que estava na frente quase a esmurrou, pensando que ela estava tomando seu lugar. Dizem que os Romanos são loucos, pelo menos Asterix diz, mas sinceramente, os britânicos também...

Você anda nas calçadas e de repente tem um fungando atrás de você, ele não pede passagem, apenas fica a 3 cm de suas costas fungando. as mulheres parecem mais soldados que mulheres, elas caminham em marcha furiosa de um lado para outro. Os homens são feitos de pedra, pedra bem gelada. Não é para menos que, existe uma piada sobre os homens britânicos e sua frieza.

Depois de 1 ano e 3 meses morando em Londres, ela percebeu que nunca teria calor humano, apenas uma polida educação em alguns lugares e nem isso na grande maioria. Decidiu então que iria conquistar algum espaço para seu jeito boa praça. Começou no Starbucks, onde fez amizade com Jesse uma loirinha simpática e divertida. De Jesse ela conseguiu alcançar os outros funcionários. Agora eles sabiam seu nome e suas preferências. Fez o mesmo no supermercado, onde os funcionários se divertiam em vê-la dançar pelos corredores enquanto comprava ou passava as compras na caixa de auto-atendimento. Na banca de frutas, os rapazes e mesmo os mais velhos a cumprimentavam, ainda que não estivesse fazendo compras. Enfim, aos poucos estava construindo um espaço onde pudesse ter alguma socialização. Sim, os britânicos não são seres sociais, são reprimidos, frios e preconceituosos.

Ela sorriu de novo e tomou um gole do chá. Ah! Como sentia saudade de Istambul e do povo turco, ela os amava, todos eles. Pegou uma bolacha de amêndoa, olhou para a televisão e pensou: agora entendia porque os britânicos foram decretados os segundo povo mais mal humorado e mal educado da Europa.... Sim, agora ela entendia.

(Diário de uma Mulher)


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