Sobre os atentados na França e a situação atual

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Proletários de todos os países, uni-vos!

Condenamos e repudiamos a guerra de agressão imperialista contra o Oriente Médio!

Os cruentos acontecimentos de 13 de novembro em Paris, tal como destacou o representante máximo do imperialismo francês, o presidente da república, Hollande, são consequência da destacada participação da França na guerra do Oriente Médio, na Síria e Iraque.

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Cidade síria completamente destruída após bombardeios e confrontos armados

Ele disse: “A França está em guerra” e os ataques são “atos de guerra do Daesh (Estado Islâmico)”. O próprio representante máximo do imperialismo francês declarou que se encontram em guerra no exterior e no próprio país. Fica, pois, confirmado o que assinalamos na ocasião dos acontecimentos de janeiro deste ano na mesma Paris: “a guerra imperialista regressa a sua casa”.Isto é muito importante no desenvolvimento da situação política e da situação revolucionária desse país imperialista e no mundo.

O caráter desta guerra é: guerra de agressão imperialista por nova repartilha. O botim dessa nova repartilha são os países do Oriente Médio (Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, etc.). É guerra imperialista de agressão que se desenvolve em sucessivos episódios desde começos da última década do século passado e vai se estendendo cada vez mais a novos países. É guerra de agressão imperialista contra os países e povos desta região de grande importância estratégica (econômica, política e militar) para o domínio imperialista (contradição principal).

Quem encabeça a guerra de agressão é o imperialismo ianque em sua condição de superpotência hegemônica única, em conluio e pugna com a outra superpotência atômica russa e as demais potências imperialistas (desenvolvimento da terceira contradição).

Desde o começo de outubro, os imperialistas russos entraram diretamente a bombardear o país e implantar algumas tropas terrestres (2.000, segundo seus porta-vozes; 4.000, segundo outras fontes), previamente acordados com os imperialistas ianques, se pode ver. Até bem pouco, o faziam através de terceiros (os governos de Irã e Síria). Agora, os imperialistas e seus lacaios estão celebrando conversações em Viena (Áustria) para chegar a acordos sobre a base da nova correlação de forças alcançada no terreno militar. Em todo caso são avanços e acordos temporários.

Desta maneira se desenvolve sua guerra de agressão: pugna interimperialista que leva a  novo conluio entre os imperialistas, para nova agudização da pugna entre eles, etc.

Os imperialistas ianques, desde 2006, com Bush Jr., já haviam planteado chegar a “acordos” com o Irã para avançar suas peças​ em prejuízo dos imperialistas russos nessa região. Veja que o governo imposto pelo ocupante e o exército estruturado por eles era pró-ianque até o tutano, porém, tinha um ponto fraco: sua base social é xiita. O novo governo não é muito diferente. São brigadas xiitas que atuam no terreno junto com os peshmergas  e outras forças curdas da Síria e Turquia, contra o Estado Islâmico.

Por isso, para avançar no problema com o Irã, os ianques impulsionaram, nos bastidores, primeiramente acordos de cooperação em matéria de energia nuclear entre o governo de Lula do Brasil e dos aiatolás. Logo do governo de Erdogan da Turquia, sobre a mesma matéria, com a república islâmica do Irã (xiita) e, logo, do governo da Argentina de Cristina Fernandes Kirchner com o governo do Irã sobre cooperação judicial (em 2011) para facilitar uma saída para o problema dos funcionários iranianos acusados pelo atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA)  (ver declarações do ministro de relações exteriores da República Argentina no seu regresso de Washington em setembro último em que faz declarações muito reveladoras a respeito. Em síntese, ele disse que foi a pedido de funcionário do governo do USA).

Logo, o governo latifundiário-burocrático de confissão islamita do Irã firmou um acordo de desarmamento, submetendo-se aos  ditames do imperialismo ianque. Para isso, fez méritos enviando aviões e brigadas para combater no Iraque contra o Estado Islâmico (EI). Hoje, estão sentados à mesa de negociações sobre a Síria junto com serviçais do imperialismo ianque como os sauditas e os turcos de Erdogan, donde o Irã terá que ceder parte do que avançou como poder regional em benefício de outros. Porém, por trás de todos eles, estão as superpotências e potências imperialistas.

Hoje, os imperialistas estão em um grande conluio  contra os povos desta região, porém, logicamente, a pugna prossegue porque esta é absoluta entre eles. Os imperialistas sustentam que sua guerra é contra o terrorismo, agora representado pelo EI. Tratam de apresentar sua guerra de agressão imperialista por nova repartilha — donde o botim são esses países oprimidos — como uma guerra entre “civilização e barbárie”, ou seja, como guerra justa. O plano que estão levando a cabo os imperialistas é o da divisão do país, sua balcanização em diversas zonas de influência, atiçando e justificando, com​  a divisão étnica e religiosa e cometendo os mais bárbaros e gigantescos genocídios

É o Estado Islâmico um inimigo útil dos imperialistas? É necessário analisar brevemente isso: até junho de 2014, os imperialistas ianques e seus aliados — com França como seu mais próximo “aliado” e ponta de lança da intervenção militar no Oriente Médio ampliado, junto com outros países imperialistas, por um lado, com seus serviçais, as monarquias do Golfo encabeçadas pelos sauditas (sunitas salafistas), e o governo latifundiário-burocrático de confissão islâmica da Turquia — financiavam e armavam toda classe de grupos, incluídos os que eles mesmos chamam de “terroristas”, para derrubar o governo de Assad,  atiçando os grupos sunitas contra os xiitas e outras minorias étnicas e religiosas. Este governo, como representante máximo deste Estado, tinha que assumir a defesa da integridade territorial do país e opor-se à mudança da situação semicolonial do mesmo por uma colonial, embora tenha se modificado dentro das tentativas de capitulação.

A situação antes revisada, o vazio de poder assim criado em amplas zonas do território sírio e os meios  pelos quais foram parar em suas mãos, foi utilizada pelos fundamentalistas do EI para terminar de recompor-se logo de sua saída apressada do Iraque a partir de 2009, forçada pela “Surge” — ofensiva militar ianque a partir de 2007 — contra a Resistência Iraquiana às forças imperialistas “coligadas” encabeçados pelos ianques, da qual formaram parte. Assim, a agressão militar do imperialismo ianque, francês e outros, beneficiou o EI para ocupar um extenso território na Síria e, logo, avançar até o Iraque e unir-se a rebelião sunita contra o regime imposto pelo ocupante imperialista (de maioria xiita).

O que acabamos de afirmar marcou o ponto de inflexão no desenvolvimento da guerra de agressão e o passo a seu novo episódio, quer dizer, o passo à maior intervenção militar direta imperialista com os ataques principalmente aéreos da “coalizão”, combinado com o uso de tropas nativas de diversas cores e dos mais variados e contraditórios interesses, como “botas sobre o terreno”. Para os imperialistas ianques, a “opção curda” para a divisão desses países, a vêm aplicando desde a primeira guerra contra o Iraque de Saddam Hussein (começo dos anos 90 do século passado). O velho Estado turco latifundiário-burocrático a serviço do imperialismo, principalmente ianque, se viu beneficiado com isto ao anexar-se economicamente ao “curdistão iraquiano”. Prosseguindo com suas vitórias militares no Iraque e a tomada de Ramallah, o EI declarou seu “Califado” em parte do território do Iraque e Síria sob seu domínio.  É um ponto de inflexão que marca a entrada de uma nova situação da guerra pois, ao declarar-se como “Califado”, anuncia sua pretensão de mudar não só os regimes ou formas de governo dos Estados latifundiários-burocráticos submetidos ao imperialismo, mas erigir-se em um Estado único, com domínio sobre todos estes países,  trocando os setores das classes dominantes desses países por outros de seus setores ainda mais fundamentalistas que os próprios fundamentalistas da Arábia Saudita e outras monarquias ou republiquetas da região.

Nós não cremos na teoria da “grande conspiração” — que esgrimem imperialistas russos através de seus diferentes porta-vozes e os revisionistas do “Partido de Esquerda” na Alemanha — que sustenta que o EI é uma criação dos ianques. Porém, como se vê, sim, é um “inimigo útil”. As contradições entre ambos são reais e a guerra entre eles também é real. Alguém pode duvidar disso agora?

Não se pode esquecer que Marx, ao estudar a história do Oriente, destacou que o islã teria um elemento revolucionário contra o colonialismo que consistia no mandamento que diz que não devem permitir que “nenhum infiel (estrangeiro) pisoteie a terra do Islã”. Não esquecer tampouco que isso foi usado pelo imperialismo contra os comunistas para tentar arrebatar a direção do movimento de libertação nacional nesses países fomentando, impulsionando, financiando e armando movimentos islamitas para que nos combatam.

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Uma das rebeliões da juventude que sacudiram os subúrbios de Paris em 2007

Isso também utilizaram os imperialistas para  empurrar uns contra os outros para a repartida imperialista, por exemplo, quando o  império otomano entrou em afundamento final. Para a nova repartilha, com a Primeira Guerra Mundial, e para uma nova repartilha, com a Segunda Guerra Mundial, e tudo o que vem depois, até os dias atuais. Foram os imperialistas ianques (a CIA do USA), juntos com outros, contando com o serviço, principalmente, da monarquia saudita e outras do Golfo, que mobilizaram, organizaram, financiaram e armaram os “jihadistas” modernos para enfrentar os social-imperialistas soviéticos. Aí tem seu ponto de partida o atual “jihadismo” islamismo em sua vertente sunita. O outro é do Irã e dos aiatolás e da shiaá [Nota do AND: uma denominação do Islã]. Estes últimos, se bem que se acobertam sob o poder atômico russo, têm toda uma história de serviço à agressão militar do imperialismo ianque nesta região, no Afeganistão, no Iraque, etc., em diferentes momentos. Assim é: todos eles são forças latifundiário-burocráticas a serviço do imperialismo, principalmente, que os domina. Porém, como nos ensinou o Presidente Mao, em determinadas circunstâncias, essas forças podem passar a formar parte da frente única nacional. Este é o caso quando se dá a invasão e ocupação militar do país para mudar seu status semicolonial e convertê-lo em uma colônia. Ver também o papel que joga Assad.

Agora, regressemos à situação política na França: não só é guerra exterior ou ataque externo. Os autores desses atos de guerra (Hollande) foram cidadãos franceses. O que nos indica isto? Que uma parte da população é contrária e odeia o Estado imperialista francês. Os próprios filhos dos operários imigrantes, que vivem nos bairros mais pobres, os “beieus”, o declaram nas entrevistas aos meios de comunicação. Dizem: “Nós temos que nos manter juntos senão não temos nada. O Estado põe na fachada de todos os edifícios onde vivemos: Liberdade! Igualdade! Fraternidade! Porém, isso não é para nós. Não vemos isso”. E isto é mais agudo agora, que completam dez anos de quando se produziu a rebelião dos jovens destes bairros (banlieues) ante o assassinato dos jovens por policiais. Rebelião que hoje estamos comemorando.

Tudo nos mostra o desenvolvimento da segunda contradição (burguesia-proletariado), atiçada pela ação reacionária de agressão militar no estrangeiro e a maior repressão interna contra os mais pobres, os operários e filhos de operários de origem estrangeira, até chegar agora, com a ocupação militar do próprio país.

O que corresponde aos maoístas que vivem e atuam nesses países, na França em particular, é transformar a atual situação em revolução. Dar um maior impulso ao trabalho de massas, unindo-se a massa mais pobre e profunda. É uma tarefa que já está atrasada e sem a qual não haverá a alavanca fundamental que permita à classe mover o mundo.  Para isso, corresponde impulsionar o movimento contra a guerra imperialista no estrangeiro, contra a ocupação militar do país e o desenvolvimento da guerra reacionária interna, da guerra contra o povo.

Observem como a reação trata de usar os últimos acontecimentos cruentos para impulsionar opinião pública favorável à sua guerra de agressão no exterior e à sua guerra contra o povo internamente. Agitam para levantar o sentimento “contra a barbárie” e “pelas vítimas inocentes”.

Mas, aos sujos imperialistas, não importam as “vítimas inocentes” (danos colaterais) pelas quais dizem se condoer e derramam lágrimas de crocodilo. Os imperialistas dizem: “estamos em guerra”, e isso implica uma resposta, um custo, e isso eles o têm previsto. Isso não tem importância para eles.

Em 10 de outubro passado, a revista Der Spiegel nº 42, apontava: “os críticos[Nota: de Putin na Rússia] sustentam a possibilidade de que o Estado Islâmico possa reagir com uma resposta assimétrica”, “algo assim como atos de terror em território russo”. Portanto, isto estava também no cálculo dos imperialistas franceses para usar o justo sentimento de dor das massas para ter opinião pública favorável e escalar a guerra no Oriente Médio e ocupar militarmente o país para reprimir o povo.

As consequências de sua própria ação reacionária são usadas pelos imperialistas para agitar o nacionalismo, o fascismo e o chauvinismo. Já estão falando em internar os muçulmanos em campos, de lhes retirar a nacionalidade. Agora estão pensando em campos de concentração para os muçulmanos como na Segunda Guerra Mundial foi para os judeus.

Temos que denunciar tudo isso. Denunciar a situação em que vivem essas famílias de trabalhadores migrantes. São filhos de trabalhadores imigrantes, de operários. A república imperialista não lhes dá nada, mas assim os priva de tudo, os aplasta. E eles vão se atraindo para a luta contra o imperialismo, contra os “sujos imperialistas franceses” e “ianques” que matam os muçulmanos como eles em sua própria terra, e também, como se costuma dizer “seduzidos pela remuneração”. E quando regressam, estão com mais ira por tudo que representa esse sistema e com a ideologia distorcida que não lhes permite fazer diferenças.

Eles, os islamitas, têm uma teoria militar feudal que vêm do século VI que diz:“olho por olho e dente por dente”“Se os imperialistas degolam os nossos filhos e executam os nossos jovens fazendo estalar suas bombas e fazem desaparecer nossas casas e povoados inteiros, nós temos que lhes dar o mesmo”. Esta é a lógica que guia sua atuação.

Quem atuou no dia 13 de novembro em Paris não está armado, como os maoístas, com a teoria militar do proletariado, a Guerra Popular, que perseguem destruir as forças vivas do inimigo e conservar as próprias, guiados pela necessidade de servir a imensa maioria do povo para que triunfe a revolução. É isto que se tem que ir mostrando às massas: as guerras populares que estão em curso, para que seu exemplo ilumine e impulsione a transformação de todas as lutas que estão se dando no mundo para garantir o desenvolvimento vitorioso da nova grande onda da Revolução Proletária Mundial, que se encontra na etapa de sua ofensiva estratégica e defensiva estratégica do imperialismo.

Corresponde rechaçar o chamamento a unidade nacional em  nome “das vítimas e dos valores” para que todos se comprometam em uma maior guerra de agressão. As vozes de condenação aberta ou encoberta ou os chamados hipócritas ou sinceros, só ajudam a legitimar a guerra de agressão imperialista e não nos permitem golpear com toda a nossa força quem são os verdadeiros culpados de todas as desgraças que padecem hoje os povos do mundo. Não permitir que se divida o movimento contra a guerra imperialista e que se desvie ao branco.

Tudo em serviço de cumprir a tarefa já atrasada e, uma forma de fazê-la avançar nesses países, é opondo-se à guerra imperialista de agressão e apontar quem são os mais arquicriminosos genocidas. Eles mesmos reconhecem: é guerra.  É, portanto, guerra lá e guerra aqui. Não é mais como nas guerras coloniais do passado. Já na anterior, da Argélia, viveram seu regresso a casa. Porém sua repercussão não será nunca comparável à que se vai desenvolver.

Têm, pois, sua resposta. Não é a nossa, porém, é a consequência da que eles mesmos desataram e pensam escalar. Destacamos sempre a superioridade da nossa: da guerra popular marxista-leninista-maoísta, que persegue ganhar a imensa maioria da população, seu caráter de classe, e que seu objetivo é terminar com todas as guerras.

Forjar um poderoso e amplo movimento contra a guerra de agressão imperialista no Oriente Médio!

Contra a ocupação militar do próprio país pelos imperialistas franceses e à defesa da vida e dos direitos das massas de origem árabe e crença religiosa muçulmana!

Contra o chauvinismo imperialista na Europa!

Movimento Popular Peru (CR)

Novembro de 2015