Bento XVI, infalível no desastre

Publicado originalmente na Tribuna da Imprensa  

O papa Bento XVI, nos primeiros anos em que ocupa o que Otto Maria Carpeaux chamava de "A cátedra de São Pedro", praticamente destruiu o princípio milenar de que o sumo pontífice é infalível nas questões de fé e nos dogmas da Igreja Católica. Infalível, isso sim, no desastre. Um atrás do outro. Erros sociais e políticos incríveis e ataque ao próprio mundo cristão que não se limita às paredes do vaticano, mas se estende obviamente a todo universo do Protestantismo.

Bento XVI - inacreditável - vem confundindo tudo, provocando e atritando com as demais religiões, desafiando a lógica. Há poucos dias, publicou um estranho documento, despropositado, "Respostas a questões relativas a aspectos da doutrina", quando pessoa alguma sequer lhe dirigiu perguntas. Através do Vaticano, ele próprio perguntou, ele mesmo respondeu. As perguntas, que só existem na sua elaboração intelectual, já se direcionavam para as respostas que desejava transmitir. Todos os jornais publicaram. No Brasil a melhor edição foi da "Folha de S. Paulo" de 11/07.

A Igreja Católica, disse ele, é a verdadeira e única igreja de Cristo. As igrejas protestantes não podem ser chamadas de igrejas, acrescentou espantosamente. Nos 550 anos da dissidência lançada pelo bispo Martinho Lutero, o segundo maior dissidente da história universal - o primeiro é o próprio Jesus Cristo - jamais um papa se dirigiu assim aos demais cultos e religiões. Desfechou um ataque gratuito e inútil. Só perdeu com sua atitude.

Mas não ficou nisso. Acrescentou: Cristo constitui sobre a terra uma única igreja e a instituiu como grupo visível e comunidade espiritual. Neste ponto, especificamente, Bento XVI cometeu simplesmente uma falsidade. Jamais Jesus Cristo, e ele sabe muito bem disso, instituiu religião alguma, muito menos única. Nasceu judeu e morreu judeu no trágico e terno desfecho de Jerusalém. "Vim para cumprir as leis", segundo o evangelho de Mateus.

Que leis seriam essas? Só podiam ser duas: as leis políticas da Judéia, invadida por Roma e dominada pelo exército do imperador Tibério, e as leis do judaísmo. Não se encontra em qualquer parte do Novo Testamento qualquer afirmação de Cristo lançando as bases de uma nova religião. Ora, se ele, expulsou os vendilhões do templo, é porque preservava sua verdadeira finalidade. Bento XVI faltou com a verdade.

Tenta manipular a história, a exemplo do que fez o concílio de 1870, vejam só os leitores, quando o Vaticano afirmou a vitória do dogma sobre a história. O cardeal Joseph Ratzinger recuou 137 anos no tempo. Voltou às cavernas do fundamentalismo do passado. Um radical, um homem extraordinariamente culto, grande figura do Vaticano nos bastidores do período João Paulo II, conservador ao extremo, apagando avanços do vaticano com João XXIII e Paulo VI. Mas não é um personagem da linha de frente. Os exemplos são múltiplos.

Ao visitar Auschwitz, indagou onde estava Deus naqueles momentos torpes do nazismo. Depois, indiretamente, atacou Maomé e o islamismo. Mais recentemente, agrediu de forma estúpida e sobretudo desnecessária os divorciados e os que se casam mais de uma vez, como se estes não tivessem direito a reconstituir suas vidas, encontrar novos caminhos, formar novas famílias. Como anátema que desfechou não muda nada, não sendo mais forte do que a realidade, só ele ficou mal no episódio. Mas não parou aí. Agrediu os indígenas da América Latina, colonizados por Espanha e Portugal.

Ignorou massacres especialmente na América espanhola. Sentindo a reação generalizada, uma verdadeira onda contra suas palavras, voltou atrás e procurou desdizer o que havia afirmado. Na última semana, partiu contra o protestantismo. Focalizou, sem nexo, diferenças entre Roma e os protestantes. Condenou o protestantismo pela não existência de santos em seu universo religioso. Pergunto eu: o que isto tem a ver com Jesus Cristo?

Cristo, em sua curta passagem pela Terra, não defendeu jamais a santificação de quem quer que seja. Exaltava os profetas, não os santos. Inclusive não havia santos. Não havia papa. Pedro, contemporâneo de Cristo, foi morto por Nero trinta anos depois da crucificação. Viria a ser eleito primeiro papa da Igreja de Roma, trezentos e trinta e dois anos depois de Jesus Cristo e, portanto, trezentos e quatro anos após sua morte, crucificado de cabeça para baixo, por Nero em Roma.

A cela em que esteve preso, antes de ser executado, é hoje ponto de visitação turística. Na curva de uma rocha, bem perto do Coliseu. Paulo, também assassinado, foi decapitado três anos depois. Decapitado porque era cidadão romano, judeu convertido. A crucificação não se aplicava aos romanos. Nem Pedro nem Paulo, assistiram à introdução do catolicismo pelo imperador Constantino, quando da Ata de Milão.

Bento XVI é um fugitivo da história, revelando-se infalível só no desastre. Cristo é o maior símbolo humano, o maior e mais forte de todos. É o símbolo do amor. Bento XVI errou terrivelmente. Em todos os sentidos. Criou forte constrangimento até para o catolicismo. Como é possível alguém cometer tantos erros em tão pouco tempo? Um mistério. 

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