Bom futuro para os preços, mas nem tanto para os pobres

fao28072014 Bom futuro para os preços, mas nem tanto para os pobres
Sementes autóctones de arroz armazenadas em jarros de barro e etiquetadas no banco genético da comunidade de Tentulipar. Foto: Manipadma Jena/IPS

Roma, Itália, 29/7/2014 – As previsões oficiais para a agricultura até 2023 são otimistas com relação à produtividade e aos preços dos frutos da terra, mas é pouco provável que os benefícios da bonança sejam compartilhados pelos mais pobres do mundo. A mescla de boas e más notícias consta do informe Perspectivas Agrícolas 2014-2023, divulgado conjuntamente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), no dia 11 deste mês.
O documento examina as tendências em matéria de preços, os hábitos dietéticos e outros fatores, como produção e demanda, além de avaliar os principais desafios políticos que o setor enfrenta. Este informe, o vigésimo de seu tipo, “analisa as perspectivas dos países em desenvolvimento sob a suposição de que sejam mantidos os padrões meteorológicos médios e as políticas atuais”, explicou Holger Matthey, economista da Divisão de Comércio e Mercados da FAO e editor da publicação.
“Fornece uma visão geral do mercado mundial dentro dos próximos dez anos, na suposição de que não haja perturbações”, afirmou Matthey à IPS. Espera-se que os preços dos cultivos se estabilizem abaixo dos máximos recentes, embora provavelmente se mantenham acima dos níveis anteriores a 2008, enquanto os picos dos preços da carne e dos produtos lácteos ocorrerão em 2013-2014.
“Somos muito positivos com relação às perspectivas da agricultura para os países em desenvolvimento, porque têm os recursos para ampliar a produção e também espera-se que mantenham fortes taxas de crescimento em seu consumo”, explicou Matthey. “Mais de 80% da produção adicional se originará nos países em desenvolvimento e 50% da produção e do consumo adicionais durante a próxima década terão lugar na Ásia”, assegurou.
Mas persistem muitos obstáculos para que a totalidade da população aproveite os benefícios de uma maior produtividade agrícola. “Ainda temos o desafio do acesso à alimentação. Os preços altos dos alimentos impõem inegáveis dificuldades às pessoas mais pobres do mundo, que gastam grande parte de sua renda com comida. Também causaram mais danos do que bem aos agricultores pobres, que na maioria das vezes são compradores de alimentos básicos”, disse o secretário-geral da OCDE, o mexicano José Ángel Gurría, durante a apresentação o informe.
“É necessário ampliar a proteção social para amortizar as consequências das crises de preços e ajudar os agricultores a administrarem os riscos e continuar investindo na produtividade agrícola”, afirmou Gurría, acrescentando que “lidar com esses fatores de forma que sejam inclusivos e sustentáveis ao mesmo tempo é um desafio formidável”.
O novo informe Perspectivas Agrícolas se centra no caso da Índia, segundo país mais povoado do mundo e lar do maior número de pessoas que sofrem insegurança alimentar. A situação prevista nesse país é “relativamente otimista”, já que FAO e OCDE “projetam que manterá o crescimento de sua produção e de seu consumo de alimentos”. Em 2013, a Índia adotou a lei Nacional de Segurança Alimentar (NFSA), para garantir maior acesso aos alimentos de baixo custo.
A lei dá a mais de 800 milhões de pessoas o direito de receber, cada uma, 60 quilos de comida em grãos por ano, a preços 90% inferiores aos do mercado. O diretor geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, garante que a lei indiana é a maior política aplicada no mundo do direito à alimentação e repercutirá na segurança alimentar do planeta. Porém, o informe também alerta que a aplicação da NFSA não será fácil.
“Embora a produção alimentar seja suficiente, o acesso aos alimentos, sua distribuição e o consumo saudável dos mesmos são desafios pendentes”, em função de uma dieta adequada e do acesso à água potável, ao saneamento e à atenção sanitária, pontuou Peter Kenmore, representante da FAO na Índia.
Por exemplo, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) diz que 48% das crianças indianas sofrem atraso em seu crescimento devido à desnutrição crônica, uma doença com consequências de longo prazo para o desenvolvimento físico e mental, tais como debilitação do sistema imunológico e redução da produtividade em idade adulta.
Falta maior eficiência na infraestrutura, que inclua armazenamento e transporte, bem como os sistemas de distribuição. “Vale a pena completar o circuito da produção, aquisição, armazenamento e distribuição de alimentos para as pessoas que carecem de acesso, como acontece em muitos lugares cobertos pelo programa brasileiro Fome Zero”, apontou Kenmore à IPS. Este programa foi lançado em 2003 com a meta de erradicar a fome e a pobreza.
Kenmore alertou que “o fato de o preço dos grãos alimentícios subsidiados ser 90% inferior também representa um forte incentivo para os oportunistas conseguirem este alimento subsidiado para revenderem no mercado aberto”. “Neste momento há milhões que se beneficiam do sistema de distribuição pública, que está em expansão no contexto da NFSA, mas muitos não. A exclusão, discriminação e execução menos que ótima do programa são as principais preocupações”, enfatizou à IPS.
O representante da FAO afirmou que existe a necessidade de melhorar os mecanismos de prestação de contas e apresentação de queixas para que as pessoas possam reclamar caso não tenham acesso aos alimentos subsidiados, e “esses mecanismo não devem ser meramente teóricos, mas eficazes”. Envolverde/IPS
(IPS)

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