Clima: as energias "limpas" sentem falta de crédito para pesquisa

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A sete meses da conferência mundial do clima em Paris (COP 21), cujo objetivo é selar um acordo universal que permita conter a alta de 2ºC das temperaturas no fim deste século, a Agência Internacional de Energia (AIE) vai publicar nesta segunda-feira, 4 de maio, um relatório dedicado à inovação tecnológica no domínio da energia (Energy Technology Perspectives 2015).

Nele se encontra a chave da luta contra o aquecimento climático, afirma Maria van der Hoeven, diretora executiva da Agência, que deverá apresentar as conclusões deste estudo ao ministério francês da ecologia. "Existe um importante e inexplorado potencial de aceleração da inovação nas tecnologias de energia, enfatiza o documento, que denuncia também a insuficiência de esforço público de pesquisa e desenvolvimento em favor das "energias limpas", ou seja, de "baixo carbono".

Aumentar o ritmo da eficácia energética

Para manter o alvo dos 2ºC, a intensidade energética das economias mundiais (isto é, a relação entre consumo de energia e o Produto Interno Bruto ou PIB) deverá ser reduzida "em cerca de 60% daqui até 2050". Isto significa duplicar o ritmo anual de crescimento da eficácia energética, elevando-o de 1,1% para 2,3%.

Ao mesmo tempo, o recurso às energias ricas em carbono (carvão, gás e petróleo) deverá ser fortemente limitado. Especialmente nos sistemas de aquecimento e resfriamento dos locais e das instalações industriais que representam aproximadamente 40% do consumo final de energia do planeta, à frente dos transportes (27%). Esses sistemas, atualmente 70% alimentados por recursos fósseis, estão na origem de 30% das emissões mundiais de gás carbônico (CO2). O relatório recomenda reduzir a parcela dos combustíveis fósseis para menos de 50% na metade do século, passando a utilizar, naquela altura um montante de mais de 40%,às energias renováveis.

Quatro vezes mais energias renováveis

Todos os setores reunidos, no horizonte de 2050, as fontes renováveis deverão atender cerca da metade da demanda de energia primária mundial, a saber, quatro vezes mais do que se usa hoje. As energias eólica e solar fotovoltaica, em particular, poderiam "assegurar 22% da redução anual das emissões (de gases de efeito-estufa) do setor elétrico".

Em todos os setores, a Agência promove "uma abordagem sistemática da inovação". É nos países emergentes, China, Índia ou Brasil, que esta abordagem "poderá gerar os avanços mais importantes e mais rápidos sob a ótica da luta contra as mudanças climáticas". Tendo em conta seu peso crescente na demanda por energia e na economia mundiais, a adoção de "procedimentos inovadores" por esses países poderá estar na origem de cerca de três quartos da redução de emissões industriais de CO2. Os países ricos deverão então "apoiar essas ações empreendidas pelos países emergentes".

Aumentar a Pesquisa e o Desenvolvimento no setor energético

Todavia, adverte o relatório, o investimento atual em pesquisa e desenvolvimento (P&D) não permitirá alcançar os objetivos climáticos a longo prazo. Se os gastos públicos mundiais em P&D no setor energético cresceram, em números absolutos, a partir dos anos 1990, até atingirem um total de 17 bilhões de dólares (cerca de 15 bilhões de euros), sua parcela nas despesas totais de P&D, englobando todos os setores, caiu 11% no início dos anos 1980 para apenas 3 ou 4% nos anos 2000.

O esforço público deveria ser "pelo menos multiplicado por três", segundo a AIE que acrescenta: "os governos não serão capazes de eles próprios garantirem um nível de investimento em energias limpas compatível com o objetivo de 2ºC, sendo, portanto, indispensável mobilizar o capital privado".

Nessas condições, estimam os autores do relatório, "é realista e economicamente benéfico que nos dirijamos a um sistema energético de baixo carbono". Além disto, convocar os responsáveis políticos a "levar em conta as múltiplas vantagens que a transformação do sistema energético poderá trazer à sociedade".

Pierre Le Hir 
Journaliste au Monde


Climat: les énergies « propres » en panne de crédits de recherche

Le Monde - 04/05/2015

Par Pierre Le Hir

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A sept mois de la conférence mondiale sur le climat de Paris (COP 21), dont l’ambition est de sceller un accord universel permettant de contenir la hausse des températures à 2 °C à la fin du siècle, l’Agence internationale de l’énergie (AIE) publie, lundi 4 mai, un rapport consacré à l’innovation technologique dans le domaine de l’énergie (Energy Technogy Perspectives 2015).

Là se trouve la clé de la lutte contre le réchauffement climatique, affirme Maria van der Hoeven, directrice exécutive de l’agence, qui devait présenter les conclusions de cette étude lundi au ministère français de l’écologie. « Il existe un potentiel important et inexploité d’accélération de l’innovation dans les technologies de l’énergie », souligne le document, qui dénonce aussi l’insuffisance de l’effort public de recherche et développement en faveur des « énergies propres », autrement dit « sobres en carbone ».

Accroître le rythme de l’efficacité énergétique

Pour garder le cap des 2 °C, l’intensité énergétique des économies mondiales (c’est-à-dire le rapport entre la consommation d’énergie et le produit intérieur brut, ou PIB) devrait être réduite « d’environ 60 % d’ici à 2050 ». Ce qui suppose de doubler le rythme annuel de l’augmentation de l’efficacité énergétique, pour le porter de 1,1 % à 2,3 %.

Dans le même temps, le recours aux énergies carbonées (charbon, gaz et pétrole) doit être fortement limité. Notamment dans les systèmes de chauffage et de refroidissement des bâtiments et des installations industrielles, qui représentent environ 40 % de la consommation finale d’énergie de la planète, devant les transports (27 %). Ces systèmes, aujourd’hui alimentés à 70 % par des ressources fossiles, sont à l’origine de 30 % des émissions mondiales de CO2. Le rapport préconise d’y réduire la part des combustibles fossiles à moins de 50 % au milieu du siècle, en faisant appel, à hauteur de plus de 40 %, aux énergies renouvelables.

Quatre fois plus d’énergies renouvelables

Tous secteurs confondus, à l’horizon 2050, les ressources renouvelables devraient couvrir près de la moitié de la demande d’énergie primaire mondiale, soit quatre fois plus qu’aujourd’hui. L’éolien et le solaire photovoltaïque, en particulier, pourraient alors « assurer 22 % de la réduction annuelle des émissions [de gaz à effet de serre] du secteur de l’électricité ».

Dans toutes les filières, l’agence prône « une approche systématique de l’innovation ». C’est dans les pays émergents, Chine, Inde ou Brésil, que cette démarche « pourrait générer les avancées les plus importantes et les plus rapides dans l’optique de la lutte contre le changement climatique ». Compte tenu de leur poids croissant dans la demande énergétique et l’économie mondiales, l’adoption de « procédés innovants » par ces pays pourrait être à l’origine de près des trois quarts de la réduction des émissions industrielles de CO2. Les pays riches devraient donc « appuyer les actions entreprises dans les pays émergents ».

Augmenter la R&D dans le secteur énergétique

Mais, prévient le rapport, « l’investissement actuel dans la recherche et le développement (R&D) ne permettra pas d’atteindre les objectifs climatiques à long terme ». Si les dépenses publiques mondiales de R&D dans le secteur énergétique ont crû en chiffres absolus depuis la fin des années 1990, pour atteindre un montant annuel de 17 milliards de dollars (environ 15 milliards d’euros), leur part dans les dépenses totales de R&D, tous domaines confondus, a chuté de 11 %, au début des années 1980, à seulement 3 % ou 4 % depuis les années 2000.

L’effort public devrait être « au moins multiplié par trois », selon l’AIE, qui ajoute : « Les gouvernements ne seront pas en mesure à eux seuls d’assurer un niveau d’investissement dans l’énergie propre compatible avec l’objectif de 2 °C et il est donc indispensable de mobiliser les capitaux du secteur privé. »

A ces conditions, estiment les auteurs du rapport, « il est réaliste et économiquement bénéfique de se diriger vers un système énergétique à bas carbone ». Et d’appeler les responsables politiques à « prendre en compte les multiples avantages que la transformation du système énergétique peut apporter à la société ».

  Pierre Le Hir 
Journaliste au Monde