No tempo em que se dava "bom dia" na rua Direita

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A tardinha ainda recebia os finórios do Sol vindos das ilhas nativas e Macaé ainda respirava ventos com cheiro de mato. A rua principal, dificilmente era sobressaltada por ruídos de carros. Durante este período de meio dorminhoco, dois ou três automóveis teimavam em aparecer. As vezes  era o táxi de Francisco de Assis Mattos (o bom Chico Cachaça (que não bebia), ou então  era Otacílio Caramelo que na contra mão inexistente cruzava com Benício, pai do Teatrólogo Moadyr. Era uma Macaé viva, cumprimentativa, feliz e pura...

Havia momentos em que passar na Rua Principal, dar boa tarde a seu Bebe Marques da alfaiataria, rever o velho e simpático Rubens com seu sorriso alegre; olhar o belo Dudú Trindade na sua casa de Café;  Dona Yaya Pena, rever o bondoso médico Moacyr Santos na vizinha Farmácia do Edmundo: passar e inteligenciar-se com Faustino, Otto, Jota Viana. Doca Barreto, Joãozinho e Ênio da Padaria Lima, ser ativamen­te obrigado a saudar o elegante Jorge Chaloub; Alfredo Mussi do inesquecível Bazar América, seu Marques da Farmácia e pai de Samuel do Luiz. Era mais ou menos assim as caminhadas.

Tudo isso sem deixar de conhecer as delícias de dona Dadá; seu Bar no Centro da cidade era mesmo algo de extremo privilégio. Macaé era uma cidade extensivamente macaense. Carlinhos Curvello, pai do nosso Serginho, Seu Waldemiro Bittencourt, José Batista de Mattos, Leandro Soares, Rui de seu Abílio e Ivan Chaloub e Faetinho no Império..

Às vezes, com o Sol se pondo, era hora de pequenas chegadas, de papos intermináveis. Falava-se de tudo. No Bar e Restau­rante-Belas Artes, que ficava nas confrontações da Conde de Araruama com a Rua Direita. Ali era que, ao fim da  tarde, quando Sol que se escondia por detrás da Ilha do Francês, tudo se desenvolvia em  dias dos papos intermináveis.

Mesas espalhadas por todos os cantos, empresários, bancários, pseudo ­intelectuais, marginais, políticos, vagabundos. Gente do folclore, médicos, juris­tas, presos albergados, enfim, tudo se mistura num só mundo.

Nestes anos as pessoas conheciam os carteiros, os lixeiros e os vendedores de leite de cabra em carrinhos empurrados,  cantados em rodas ruidosamente sonoras.

Era Macaé, no seu conjunto da reunião das minorias que dava a grande maioria no conjunto.

 Deste Bar e Restaurante BELAS ARTES  era que se desenhavam as decisões de toda a comunidade.

Em período eleitoral não havia candidato que não deixas­se de lá aparecer. Jogadores de Baralho, mini-aspirante a bicheiro, dono de bordel, joalheiro, carpinteiro, sartreano, freudiano, marxista, direitista, comunista, fascista, se misturavam em desfiles permanentes por suas mesas onde o Toninho (que trabalhou depois   no Zé Mengão) nos atendia nas bandejas de prata, nos cafezinhos e água torneiral com gelo.

Onde a gente encontra mais nesta cidade um Bar onde Toninho e Marinho, sob as vistas meigas de Diniz e Dona Maria, servem CAFEZ1NHO EM BANDEJA COM ÁGUA FILTRADA COM GELO?. Era a pergunta afirmativa de Alvinho, na roda com o Patriarca dos Maias, Firmin, Antão, Carlos Augusto e Filhinho Monteiro .

Quando a Madrugada caminhava para o dia que vinha, com o fechamento dos puteiros do Quadrado, Continental e Curral das Éguas, a socialização do intelegível humano era latente. A divisão das classes deixavam de existir no etílico que irmanava todos na manhã que nascia na madrugada macaense.  Inexistia o contraditório e sumia nas fumaças as contradições.

Final de noite:

  Iberê com sua velha Moto. Bar sendo fechado e o remanescente indo para o IMPERATRIZ, ponto dos ônibus da Santo Antônio, onde Flaubert e Dimas se revezavam na venda de  milho verde e papa. O Imperatriz era um bar que não tinha portas. Ficava aberto dia e noite...