Em tempo de luas magras

UM CERTO SOL SOBRE SÃO PAULO

                 para maria josé oiticica

o sol se põe em são paulo

a brisa rasteira
rasteja meus pés
que se põem entre o azul
e o mostarda do sofá da tua sala

o sol se põe
sob os aviões da planície
e eu
pássaro aceso
                     espero
nesta casa de marias
que voam nas asas da panair

o sol se põe sob são paulo
e eu
pássaro sem saída
                     grito
teu nome de ateu

são paulo anda à margem

à margem de mim
à margem de ti
à margem de nós

são paulo anda à margem do mar
e o pôr do sol voa mais alto
que as luzes de neon

 

MILENA

gosto quando milena fala
dos homens
que comeu durante a noite

é a única voz soante
nesta cantina de repartição

onde todos contam:
do filho drogado do preço do pão
do sapato carmim, exposto na vitrine
da rua sicrano de tal do bairro
de casa amarela
onde você pode comprar
e começar a pagar apenas em abril

sem a voz de milena
o café desce amargo

O CAMINHO DA FACA

parte em arco
rumo ao corpo amado
flecha a fera, exposta
à chaga

cruza a dor, o sonho
escuta

zunindo a lâmina
flamejante alcança
artérias e vasos
aquedutos pontes

parte em seta
rumo ao corpo amado
serena ira, ao amor
alcança

desdobra a carne
desnuda a veia
instala certeira
a eternidade

pára qual âncora
dentro do corpo amado
ferina flor, ao corpo
planta

 

URBE

hoje na minha boca
não cabem girassóis

cabe um poemapodre
cheiro de mangue capibaribe

um poemaponte
galeria esgoto chuvas de abril

um poemacidade
fumaça ferrugem fuligem

hoje na minha boca
cabe apenas o poema

o poema hóspede da agonia

CÉU DE CONFEITEIRO

uma fatia de céu
é dada
nesta noite de maio

quinhão que cabe ao homem
que da janela espera

a urbe apita
e o calor
se faz bruma e precipício

uma fatia de céu
é dada
aos amantes da varanda

quinhão que cabe ao amor
em tempos de luas magras

 

MORTE SOB CARBONO

a floresta (dentro
da sala)
espia o homem
que se apóia na caneta

nomes números nódoas

as velhas esperam
o ventilador gira
o café esfria o bigode do funcionário

— papel poeira pesares
— idades vãs
entre
um documento e outro
um carimbo e outro
uma certidão e outra

as velhas

acertam um grampo na alma
e pactuam um prazo com a morte

O ORIENTE DA CIDADE

entre pombos e putas construí poemas

a cidade era lúcida
a radiola de fichas juntava nossas coxas
os retalhos eram enfeites de salão

entre pombos e putas construí poemas

a cidade era música
cama de loucos e as mulheres livres
para o copo para o corpo para as ruas

entre pombos e putas construí poemas

a cidade era à prova de balas
a ponte era à prova de sonhos
a dor visitava o capibaribe

entre putas e pombos construí poemas

DIFERENÇA

meu amor ouve fado
não rodopia
apenas baila e espreita.

eu gosto de tango.

minha mãe sempre diz:
seus olhos são trágicos.

 

O SURFISTA

um tempo

passa kombi
passa corpo
passa poste
passa árvore
e o menino pendurado na lanterna

dois tempos

passa moto
passa morte
passa gente
passa carro
e o menino pendurado na flanela

três tempos

passa ônibus-bicicleta-caminhão
pega brisa
pega onda
pirueta — flamboaiã
flexão — fio de cobre
e o menino pendurado na banguela

passa a via
passa o vulto
passa a vida
passa o passo
paira o ar
               sangue e vidro 

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