A madrugada boceja

Imprimir

A noite aprisiona e adormece toda possibilidade.
Que permanece muda, aos fios das horas, atada.
Sons incoerentes gritam nossa maior verdade
Pendem da pesada bruma, que cobre a esplanada.

No previsível invólucro, o arremate da tormenta.
Alonga as asas um sentimento ainda entorpecido
Ensejando o primeiro vôo matutino na brisa lenta
Lança-se no azul, a um endereço desconhecido.

E o punhado de vida, que vagava sem rumo certo.
Permite que a alma nômade ao insólito se lance
Peregrina, ante a visão de um oásis ao seu alcance.

Sobrevive às intempéries e a aridez do deserto
Quando por uma fresta, a luz dissipa a noite calada.
E sob a aragem fresca da brisa, boceja a madrugada.

Glória Salles