A poesia de Valdely Siqueira Pinto

ESTILHAÇOS

Pega
rasga
esfrega.
E parta em partes,
em pedaços, estilhaços.

Nega,
dilacera
e entrega.
Em gota única,última
que arrebenta,sangrenta.

E una partes, os cacos.
E recolha,sem escolha, no espaço
Um sem fim de pedaços.

E quando enfim,
terminada a colagem
e uma brisa de aragem
roçar o rosto
e secar o suor
da batalha travada ...
Não te iludas.

Outros ventos
que não a aragem soprarão.
E ... novamente haverás,
de re-começar
a re-construir
de outros pedaços
novos estilhaços
espalhados no chão


SENHOR DOUTOR ( ou "a fila" )

Preencha
Carimbe
Depois assine
logo acima
Em uma via ...
Duas vias ...
Quantas vias afinal ?

Agora entregue
Naquela fila
Não nesta fila !
Estás errado
É o guichê ao lado
Que está ocupado
Com um homem apressado
por estar atrasado
no horário marcado
com não sei quem.

Não se apoquente
Senhor Doutor
que o dia está quente
e a vida é assim.
E nem é tão ruim,
apesar das filas
que dobram esquinas
em zig-zags
que levam ao nada
ao lugar nenhum.

Não se espante
seu doutor
com o marasmo
com o comodismo
com o sarcasmo
com o cinismo.

Tudo isto é a fila
essa imensa fila
essa mesma fila
que não leva a nada
a lugar algum.


MÃOS

Mãos :  momentos em movimentos lentos
Mãos :  leves mãos
Mãos :  mãos sobre mãos
Minhas mãos, suas mãos.

Mãos que delineiam
Mãos cansadas
Mãos e tato.

Tato :  laço que desato
Mãos em desacato
Feito aço
Feito fato
Feito ato.

Mãos.
Mãos sobre o peito
Mãos sobre o leito
Pretérito perfeito
Futuro imperfeito.

Mãos ...
Minhas mãos
Suas mãos.
Por onde andam nossas mãos ?


NUM ÁTIMO

Num átimo
vejo passar frente a mim
um vulto estranho.
Esguio, disforme, assustador.

Que assume formas desconexas,
parte-se em quinas
nas esquinas.
Caminha junto ao meu passo,
brincando ...
zombando do que faço.

Paro e espreito.
Acelera o peito,
pela certeza,
que parou
o vulto suspeito.

"E se eu correr acelerada,
ao comando das batidas do meu peito?
consigo enganar-te?
Ludibriar-te?

E se eu ficar paralisada eternamente ?
Ficarás aí, esperando, sorrateiramente?

Não há sinal de resposta.
Desconheço este vulto
que ao mesmo tempo
por não sei que razão,
torna-se próximo
companheiro
na solidão.


ANJO TORTO

Nos meus delírios vi um anjo                            
Estendeu-me suas mãos e disse-me                  
Venha !                                               
Posso conduzi-la até o céu                                
E como em um sonho                                       
Bailarmos por entre estrelas.

Venha !                                               
Quero provar os seus lábios                             
E embriagar-me                                               .

Não tenha medo                                              
Velarei seu sono                                              
Quando exausta                                              
No meu ombro se entregar                               
.                     
Nos meus delírios vi um anjo
Doce anjo,
Por entre fresta
No raio de um sol.

Falou comigo e me amou.
Acordei
Não vi o anjo.
Doce ilusão.

Nos meus delírios vi um anjo
Um anjo torto
Anjo roto
Que nada me diz
E tudo me fala.
.
Que é grande
Por ser pequeno
Forte pela fragilidade
Bruto na delicadeza.

Nos meus delírios
Vi um anjo
Que sem asas,
Sem poderes,
Sem magia,
Mostra-se homem.


O VENTO

O vento bate forte em meu rosto
E uma gota escorre face abaixo
Seguindo seu curso,
Percurso traçado
Nos sulcos antes escavados

O vento forte bate em meu rosto
E conduz, cada fio de cabelo
Numa dança, trança ou novelo.

O vento bate em meu rosto outrora forte
E me envolve
Como se fora arrancar-me
As raízes do chão, por mais que implore

O vento bate agora, também em meu peito
Trêmula bandeira que desbrava a frente
qual tenente fardado ou enfadado
que se impõe na resistência
e levanta em punho, uma luta ferrenha
a cada rajada de vento.

E o vento bate
Eriça pelos e poros
contorna meu corpo
e novamente me envolve...

E o vento forte passeia suave
quando não mais a batalha é travada
E posso então, deixar-me,
Simplesmente levar,
Pelo sabor do vento.


DE MI VENTANA

De mi ventana
vejo-nos no azul
entrelaçados
ao som de um blues.

De mi ventana
vejo-nos no céu
eu e você,
num bolero de Ravel.

De mi ventana
vejo-nos no sol
desejo incandescente
caliente.

De mi ventana
vejo-nos nos pássaros
a bailar, a volar
a misturar as línguas
los tonos de los sonos
y de los colores.

De mi ventana
vejo-nos no mar
num mergulho alucinante
por entre ondas e espumas
que van y vien
en sintonia, en sinfonia.

De mi ventana
- los ojos de mi vida -
vejo-nos no ponto
grande e pequeno ponto
no infinito do horizonte.


OPOSTOS

Tuas coisas são delicadas
As minhas exageradas
Se vejo no azul o futuro
Teimas no cinza obscuro
Se envolvo-me em tempestades
Passas por calmarias
Se vivo a alegria
Tu te angustias
Se me assusto
Te enterneces
Se me afasto
Te aproximas
Se me embreago
És lucidez
Se acho o rumo
Perdes o prumo
Se encontro ganhos
Percebes danos
Se voas alto
Sou pé no chão.

E, como é puro
quando próximos nos encontramos
No prumo e no rumo
Nos ganhos e nos danos
E nos embriagamos na lucidez
Não do que eu sou
Nem do que tu és
Mas do que podemos ser
Ao sermos nós.


CRIANÇA  QUE OCULTO

A uma terra antiga                                         Criança que abraço
retrocede-se com o vento                              No afeto de laço
no espaço e no tempo,                                               No afago que faço
no brilho do céu,                                            De coração.
no rubor das chamas
o ardor que reclama
estas leis : inquisição.                                     Criança que oculto
Criança se cala
Numa Espanha sofrida                                  Criança não fala        
estância ruída                                                 Linguagem de adulto
de terra batida                                                           Linguagem adúltera
caminha-se só :                                              Sem emoção.
irmão com irmão.

Mas ... dos buracos e becos                           Criança que vai
revive a criança :                                            Se desvanece
criança de rua,                                                           Num tempo perdido
criança de lua,                                                Num tempo esquecido
criança tão nua,                                              Em qualquer dimensão.
criança antiga                                                 Criança sem terra,
eterna amiga.                                                 Sem pais e sem chão.

Criança que em coro                                      Sem tempo e espaço ...
grita, lamenta.                                                Criança resiste,
Afugenta seu choro,                                      Criança existe,
seu mau agouro.                                             Em qualquer coração.
Criança em bando,
sem canto.
Criança implorando,
acalanto.


DESCOMPASSO

A meia luz
No silêncio da noite
no frio da lua,
um coração pulsa.

Pulsa
descompassado
e desgovernado

Pulsa
por alforria
por teimosia
e denuncia

Ah! coração criança.
Bata e pulse
Mas sobretudo calado
Surdo-mudo
Abafado

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