O FIM DO REINADO DA FALSA ESQUERDA

Imprimir

Há dez anos atrás, superando, com base no acordão, a chamada “crise do mensalão”, Luiz Inácio sentava as bases para a ofensiva demagógica que o levaria a surfar em elevados “índices de popularidade”. Ademais da cruzada propagandística –o governo nunca deixou de remunerar, e muito bem, os monopólios de imprensa, com gorda verba publicitária -a elevação do preço das commodities e a liberação de crédito permitiram a Lula e depois Dilma formarem a maior “base aliada” da história do Congresso, domesticar os “movimentos sociais” oficiais, trazer a Copa e as Olimpíadas para o Brasil, pensando construir um reinado que duraria mil anos.

Não se pode enganar a todos durante todo o tempo, contudo, como diz antigo adágio popular.

A quem pertencia o tríplex no Guarujá, ou com que motivos foi cedido e reformado o sítio em Atibaia, é o que menos importa, realmente. Após três governos petistas temos menos indústria nacional, nosso sistema de ensino piorou em todos os níveis (apesar do aumento quantitativo, devido principalmente ao boom do ensino privado), o SUS encontra-se na UTI, o problema agrário agravou-se, com reforçamento do monopólio da terra e aumento do assassinato de camponeses e povos indígenas, a população carcerária dobrou entre 2005 e 2015. O recente desastre de Mariana, quando o governo não entregou uma casa sequer às famílias atingidas, que têm que por sua conta brigar contra gigantescas corporações, revela um País desnacionalizado, posto de joelhos ante transnacionais que só fazem sugar nossas riquezas estratégicas, beneficiárias que são de concessões infames.

Quem diria, o partido que se formou nos fins de 1970 com um discurso aparentemente “radical”, atacando a CLT ( “Carta del Lavoro”) e o velho sindicalismo pelego como heranças malditas herdadas de Vargas, esforça-se agora para apresentar seu líder como sucessor político e histórico do velho caudilho! O que, de resto, é uma injustiça: alguém imagina Lula dando tiro no peito por alguma causa ou alguém? Em entrevista concedida a blogueiros amigos, o ex-presidente assume-se abertamente como um liberal pragmático, mostra sua tendência ao conchavo (reclama não ter mais acesso aos donos dos jornais, “como antigamente”), reclama –acreditem! –que há no PT quem tenha o hábito de deixar “companheiros pra trás”, quando ele próprio jamais saiu em defesa pública de quem quer que fosse, e outros choramingos mais.

Os que falam estar sendo Lula perseguido “pela direita” esquecem sempre de nomear quem seria a tal direita: seriam os bancos, para os quais Luiz Inácio, ainda candidato, escreveu a “Carta aos brasileiros”, premiando-os com lucros recordes nos anos seguintes? As empreiteiras, que locupletaram-se com PAC, megaeventos, “Minha Casa Minha Vida”, removendo dezenas de milhares de famílias e povoados inteiros para construir represas e reformar estádios de futebol? Os latifundiários, que tiveram ano após ano suas dívidas perdoadas, crédito ampliado e representantes diretos nomeados para o Ministério da Agricultura? O imperialismo, que na figura de Obama, o mesmo que mantém (apesar das promessas) a base de Guantánamo e a guerra suja aos povos do Oriente Médio, chamou Lula de “o cara”, para desavergonhada vaidade colonizada deste último? Seriam os leilões do petróleo e alienação de minerais estratégicos, como o xisto, algum tipo de “nacionalismo” indecifrável?

Lula, Dilma e o PT governaram sempre com a direita, isto é, com o imperialismo, a grande burguesia e o latifúndio. O Brasil não está dividido entre tucanos e petistas, como querem nos fazer crer os sociólogos chapa-branca (os mesmos que inventaram uma nova “classe média” que derreteu em poucos meses de recessão), mas em classes sociais, e a que classes tal ou qual governo serve segue sendo o único critério científico para avalia-los. O “lulismo” é responsável direto pelo baixo nível da politicalha oficial, pois suas ações ideológicas voltaram-se sempre a estimular o consumismo e a despolitização entre as massas, de modo a legitimar o toma-lá-dá-cá que constitui o cerne do seu modus operandi, desde os tempos do ABC.

Ao povo brasileiro resta não aceitar o que dizem os lobos em pele de cordeiros, que lhe apontam o triste destino de escolher eternamente entre o pior e o menos pior, numa versão reformada do “rouba mas faz”. Temos o direito, e o dever, de almejar e lutar pela verdadeira independência nacional e social, o que nenhuma das siglas que se têm sucedido no Planalto poderá nos garantir.