O desenvolvimentismo frustrado no Brasil

“O desenvolvimentismo foi uma resposta aos desafios e oportunidades criados pela Grande Depressão dos anos 30 nos países centrais. Os projetos nacionais de desenvolvimento e industrialização na periferia nasceram no mesmo berço que produziu o keynesianismo nos países centrais” - (Centro Internacional para o Desenvolvimento Celso Furtado).

Ainda que tenha havido alguma melhora nas condições de vida das populações marginalizadas nos países da periferia nesse intervalo, o liberalismo que se seguiu conseguiu demolir boa parte desses limitados ganhos.

Na América Latina, as ditaduras militares tiveram um papel desastroso nesse aspecto ao ignorar que países são espaços ou sociedades onde vivem pessoas, seres humanos. A mente dessas pessoas foi direcionada para o vazio com o auxílio da mídia. A partir de gráficos e números, o economicismo passou a vigorar sem a menor preocupação com o bem-estar e a distribuição de renda.

No Brasil, as palavras de ordem passaram a ser Transamazônica e Belém-Brasília, hoje invadidas por quem de direito, a floresta. Ao lado dessas obras faraônicas e inúteis, o que se viu nesse período foi a chegada de empresas industriais multinacionais que passaram a remeter para suas matrizes todo o lucro obtido com negócio. O crescimento desse PIB falseado, o volume de vendas no comércio, a taxa de câmbio ou a safra de soja passaram a contar bem mais que a qualidade e o alcance da saúde e da educação públicas. Enfim, o desenvolvimentismo não alcançou o Brasil.

O fim da ditadura no Brasil deu de cara com a gestação de um novo liberalismo, cópia piorada do experimentado no século XIX. Este, iniciado nos anos 70 e implantado aqui em meados da década de 90, teve como dogma a retirada do Estado da gestão de negócios e sua transferência, a qualquer custo, para a iniciativa privada. Muitas dessas transferências ainda merecem uma investigação séria, visto que empresas de porte internacional, como a mineradora Vale do Rio Doce, foram vendidas ao setor privado pelo preço de uma padaria de subúrbio.

É verdade que, passado aquele momento, há hoje alguns auxílios temporários para os mais pobres. Temporários porque tão logo o poder seja transferido a outro grupo, esses auxílios serão simplesmente extintos. Falta visão aos governantes no sentido de que é muito mais eficiente dos pontos de vista social e econômico cuidar bem de crianças tão cedo quanto possível do que combater jovens marginais em seus desvios. É bem mais simples orientar jovens para o trabalho e para os estudos do que ocupar as favelas onde vivem com tropas e blindados.

Infelizmente, priorizar a preocupação com o tamanho do PIB, com o volume de vendas do comércio no Dia dos Namorados ou com a taxa de câmbio impede que os que tomam decisões percebam que crianças são indivíduos e como tal devem ser encaradas. Nada é mais claro que o crescimento do PIB ou das vendas no comércio continua beneficiando de forma concentrada um pequeno grupo de indivíduos.

De novo, não se pode esperar que um país cuja cultura (ou falta de cultura) transforma em ídolos indivíduos como Eike Batista, Roberto Civita ou Walter Moreira Salles, que gastaram suas vidas ocupando-se apenas em ganhar mais dinheiro, avance no sentido de cuidar de sua gente, elevando de forma sustentável seu padrão de vida. Aqui vale a questão: de que adianta ser a sétima economia do mundo se nossa gente vive tão mal?

Por fim, é fácil concluir que o desenvolvimentismo não alcançou o Brasil durante a ditadura militar, durante a fase neoliberal nem mesmo agora no período pós-neoliberal.

Argemiro Pertence – 11/06/2013

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