Petróleo no Brasil - um desastre em termos de planejamento

Temos ouvido e lido com muita frequência ultimamente o adjetivo “estratégico” aplicado ao nosso petróleo. Em nossos dicionários mais conhecidos, o adjetivo “estratégico” está ligado à arte de planejar operações de guerra, à arte de combinar a ação das forças militares, políticas, morais, econômicas implicadas na condução de uma guerra ou na preparação da defesa de um Estado ou ainda à arte de dirigir um conjunto de disposições.

Se observarmos a aplicação do petróleo e seus derivados em nosso país, veremos com clareza que o adjetivo “estratégico” não pode ser aplicado ao petróleo cá entre nós.

Nos dicionários, uma das características do adjetivo “estratégico” é o planejamento. No Brasil não se pode ver o planejamento aplicado à questão do petróleo.

Países com grande extensão territorial, como os EUA, consideraram o petróleo estratégico e planejaram cuidadosamente a aplicação de uma série de medidas consoantes com esta característica, ainda no final da década de 40 do século XX, a saber:

  1. Investir maciçamente na exploração de petróleo em seu território;
  2. Controlar militar, política e comercialmente as principais fontes de petróleo no exterior (Oriente Médio em especial). Comercialmente isto ocorreu através de suas multinacionais (5 das 7 “irmãs”): Esso, Gulf, Texaco, Mobil e Chevron;
  3. Controlar o mercado global de suprimento de petróleo e seus derivados através de 5 das 7 “grande irmãs” com sede nos EUA já citadas;
  4. Incentivar o consumo de derivados de petróleo ao fomentar uma avançada, para a época, indústria montadora de veículos automotores, em Detroit, para consumo interno e exportação. Cresceram então a General Motors, a Ford e a Chrysler.
  5. Dotar o país de uma verdadeira malha de rodovias de norte a sul e de leste a oeste, além de rodovias de menor alcance;
  6. Construir uma eficiente malha ferroviária para transporte de cargas de longa distância, além de trechos menores para transporte de passageiros.

Há, evidentemente, diferenças entre o Brasil e os EUA. Todavia, ambos se equivalem em extensão territorial. O Brasil merecia, na mesma época, um planejamento similar tendo em conta suas características. Este planejamento não existiu.

Entre sua criação, em 1953 e o primeiro choque do petróleo, em 1973, a Petrobrás limitou-se a importar preguiçosamente petróleo barato, sem se preocupar em explorá-lo em nosso território.

No setor de transportes, dos anos 40 do século XX para cá, o que se tem visto em nosso país são o sucateamento e a desativação das ferrovias de média distância, dado que nunca houve ferrovias de longa distância em nosso país.

Atualmente, cerca de 70% do petróleo consumido no Brasil destina-se ao setor de transporte largamente rodoviário, sabidamente menos eficiente.

A falta de planejamento fica mais evidente quando constatamos que o consumo de combustível no transporte rodoviário chega a ser 3 a 4 vezes superior ao consumo deste mesmo combustível no transporte ferroviário para a mesma tonelagem.

Nosso principal item de exportação, os grãos, é cultivado em grande parte na região oeste do Brasil, ao passo que os portos para exportação se localizam na parte leste do país. Esta questão geográfica obriga, a cada safra, o deslocamento ineficiente de milhões de toneladas de grãos por via rodoviária, por falta de algo mais inteligente e de planejamento. Esta situação aumenta o custo de nossos produtos e reduz sua competitividade no mercado internacional.

Em relação aos veículos de passeio, a opção brasileira foi a importação das montadoras estrangeiras: GM, Ford, Volkswagen ainda nos anos 50.

A opção europeia para viagens de curta distância foi pelas ferrovias altamente seguras e confortáveis ou as rodovias também seguras e bem cuidadas, cabendo ao cidadão escolher o modal.

Para transporte de cargas, os países europeus também escolheram as ferrovias por sua maior eficiência e menor custo.

Nos transportes urbanos nas grandes cidades dos EUA e da Europa predominam os trens e metrôs eletrificados. O serviço de ônibus existe em ambos os casos, mas é complementar e altamente limitado.

No Brasil, ao contrário, os transportes públicos nas grandes cidades são dominados pelos ineficientes e cartelizados serviços de ônibus movidos a diesel. Há, em alguns casos minoritários, serviços de trens e metrôs. Todos vemos que esses serviços não são ampliados para não ferir os interesses dos empresários de ônibus aliados aos interesses dos políticos eleitos com financiamento desses empresários.

Isto resulta em cidades congestionadas pelo excesso de veículos – ônibus e carros de passeio – num espaço que não comporta seu deslocamento.

Para culminar, a matriz de derivados de petróleo brasileira é distorcida pela aumentada demanda de gasolina e óleo diesel para atender esta frota mal pensada. Para atender esta demanda, nossa economia tem que importar petróleos mais leves e bem mais caros e exportar nosso petróleo mais pesado e mais barato. Este desequilíbrio produziu este ano, até agora, um déficit de R$ 15 bilhões, apenas na conta petróleo.

Positivamente, em sã consciência, o que se vê no caso de nosso petróleo é uma grosseira improvisação.

Improvisação não combina com planejamento.

Falta de planejamento não combina com estratégia. Portanto, quem considera que a questão do petróleo no Brasil foi tratada como estratégica precisa rever seus conceitos. Não houve e não há planejamento.

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