Um falso dilema

Recebi uma mensagem de um antigo companheiro da Petrobrás, o Roldão Simas, químico experiente, multidisciplinar e lúcido, sobre dos debates relacionados à questão do suprimento de gás natural para as usinas termelétricas que têm a função de gerar energia elétrica nas situações de falta de chuvas que alimentam os reservatórios das hidrelétricas.
 
Escreve com propriedade o Simas: “há grande preocupação com a possível escassez de gás natural para as termelétricas montadas quando do apagão havido no governo FHC. Seria mesmo inadmissível que estas usinas, feitas para garantir o fornecimento de eletricidade quando o mesmo viesse faltar por baixo nível de água nos reservatórios das hidroelétricas, também viesse a falhar. As usinas hidroelétricas dependem de água represada, as usinas térmicas dependem da queima de materiais que não se limitam ao gás natural. Ou seja, as termelétricas a gás natural podem (e devem) ser como os automóveis modernos: flex fuel (movidos a diferentes combustíveis). Com poucas adaptações, podem operar também com óleo combustível, derivado residual da refinação de petróleo, disponível nas nossas refinarias, que podem fornecê-lo sem dificuldade”.

Demonstra com clareza o autor da mensagem a pobreza do debate e das preocupações dos nossos políticos. Usinas termelétricas a óleo combustível e a carvão mineral pululam na Europa, América do Norte e Ásia. Os puristas alegarão: a queima de óleo combustível agride o meio ambiente. Cabe lembrar que toda queima de combustível de origem fóssil agride o ambiente, inclusive a do gás natural.

Para entender a questão, precisamos conhecer a qualidade da maior parte do petróleo produzido no Brasil e os processos de refino a que ele é submetido. Aqui são encontrados os chamados “petróleos pesados”, isto é, aqueles que, quando submetidos aos processos de refino mais simples e mais baratos, produzem boa quantidade de derivados de maior densidade (mais pesados) e de baixo valor de mercado, como os óleos combustíveis e os asfaltos. Ainda assim, nem toda a produção desses derivados é consumida por alegadas razões ambientais, sendo, em geral, o excedente usado na própria refinaria. A opção dos refinadores tem sido investir em processos de refino mais caros visando dar um fim a esse incômodo problema, como a produção de coque de petróleo que tem inúmeras aplicações, inclusive como substituto do coque siderúrgico, derivado do carvão mineral.

Além dessa utilidade, a queima eventual de óleo combustível nas termelétricas atenua o problema da dependência de gás natural importado da Bolívia. Evidentemente, o ideal seria que mantivéssemos um intercâmbio comercial saudável com nosso vizinho. No entanto, as relações neste campo andam meio azedas no momento. As autoridades bolivianas estão zelando por seus interesses nacionais, enquanto a Petrobrás tem hoje que dar satisfações a seus acionistas em Wall Street, em detrimento da integração regional.

Este panorama mostra que a questão do suprimento de combustível para as termelétricas é um falso dilema. Há múltiplas opções para resolvê-lo. Uma adaptação simples e barata dos queimadores das caldeiras dessas usinas permitiria que queimassem gás natural produzido aqui ou importado da Bolívia e, nos casos de necessidade, óleo combustível produzido a baixo custo nas refinarias nacionais. É um problema técnico de simples solução, como o comprova o Simas do alto de sua simplicidade, experiência e perspicácia. O erro está em deixar que os políticos façam política com assuntos sérios como este. 

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