Terra à vista

A cada dia somos bombardeados com notícias sobre a agressão ao meio ambiente causada pela civilização industrial, atualmente em franco processo migratório para a periferia do sistema, pela absoluta falta de espaço, infraestrutura e meios para sua ampliação nos países do centro.

Assim é que China, Índia, Brasil, África do Sul e outros vêm recebendo notáveis volumes de investimentos em novas indústrias, recebidas auspiciosamente pelos líderes políticos desses países, com a velha e surrada desculpa de vão gerar empregos e riqueza.

Toda pessoa medianamente informada sabe que não é bem assim que as coisas se dão. Serão gerados empregos, é verdade. Não tantos, porém. Os processos industriais de hoje prescindem cada vez mais de trabalho humano. A automação, a informática e a robotização ocupam hoje espaços de trabalho antes reservados a pessoas menos preparadas. A geração de riqueza para a sociedade local também não se dá em nível tão digno de nota. De início, os governos concedem toda uma série de benefícios fiscais e tributários visando atrair os investidores. Por seu turno, os salários na periferia do sistema são muito inferiores aos praticados no centro do sistema. São salários que permitem apenas a sobrevivência do operário, sem permitir que ele avance na escala social.

Adicionalmente, os investimentos implicam cada vez mais em encomendas de equipamentos e serviços industriais produzidos nos países de economia mais avançada ou em suas filiais no Terceiro Mundo. No final, tudo acaba ficando entre eles mesmos. Importam-se plantas industriais prontas, como pacotes fechados, conservando-se o conhecimento guardado a sete chaves nos bancos de patentes do Primeiro Mundo. Em resumo, os capitais oriundos dos países ricos têm toda a proteção nos países mais pobres, inclusive a garantia da remessa dos lucros para suas matrizes a cada balanço anual.

Cabe, entretanto, uma questão: no frigir dos ovos, o que sobra para os países periféricos, além de sub-emprego, exploração e exportação de capital? A resposta é simples: além do que já foi dito acima, é nos países mais pobres que ainda se encontram as maiores reservas de energia do planeta – petróleo, gás e carvão. Não há mais espaço nem clima moral para europeus, norte-americanos e japoneses prosseguirem na sua orgia energética em seus próprios territórios. Daí a migração!

Esquecem-se, todavia, que no médio prazo seus excessos vão prejudicar toda a natureza, inclusive eles mesmos. Não nos surpreendamos, contudo, com esta aparente miopia. A lógica do lucro a qualquer preço é que articula esses movimentos e produziu a atual migração. E ela se faz de cega.

Felizmente para todos, já se fazem prognósticos sobre o deslocamento do atual eixo de comando da economia do velho e desgastado Ocidente para o exótico e surpreendente Oriente, fazendo antever uma nova aurora da civilização chinesa - a mesma que deslumbrou Marco Polo - com seus valores diferentes, como um parâmetro para o futuro.