O bilhete premiado

É curioso que até há pouco tempo, era constante a abordagem pela mídia do tema do esgotamento das reservas de petróleo no mundo. Já havia até data marcada para o fim da era do petróleo. De repente, são anunciadas grandes descobertas e imensas áreas promissoras em várias frentes, desde o fundo gelado do Ártico até a camada pré-sal, ao largo do litoral brasileiro. Sendo verdadeiras as avaliações preliminares, é possível que essas novas áreas de exploração acrescentem cerca de 30% ao atual volume de reservas conhecidas no plano mundial. A euforia que tomou conta dos brasileiros parece incontida. O governo anuncia que vai gastar o dinheiro em atividades sociais e já se fala do Brasil como grande exportador de derivados de petróleo.

É surpreendente como a visão unidimensional dos fatos empobrece o ser humano. Justamente num momento em que a humanidade tem que encarar o impacto do uso de combustíveis fósseis sobre o clima que, ao que tudo indica requer uma avaliação honesta e multidisciplinar, já que milhões de vidas de diversas espécies animais e vegetais estão em jogo, o Brasil é premiado com mais petróleo. Ressurge das cinzas o discurso ufanista e irresponsável, tomando conta do espaço brasileiro, sem qualquer avaliação crítica. A única discussão em pauta é sobre quem, quando e como vamos explorar os novos campos.

É curioso ler informações a respeito da nova riqueza apontando para redenção de nosso povo excluído através da riqueza gerada pela exploração do novo petróleo do pré-sal. Se levarmos a sério o que lemos, seremos induzidos a crer que o Brasil alijou, até aqui, milhões de seus cidadãos dos benefícios a que eles sempre fizeram jus simplesmente por que não tínhamos petróleo.

Atribuir à falta de petróleo o fracasso crônico que tem sido o Brasil como sociedade e espaço digno para a vida de milhões de seus cidadãos é demonstração da mais pura miopia social e política.

Por outro lado, a Petrobrás, até aqui orgulho de um país em que pouca coisa deu certo, seria, naturalmente, a responsável pela exploração. Entretanto, fatos novos ocorreram e as notícias sugerem que Petrobrás perdeu a confiança da sociedade, já que cerca de 60% do seu capital pertencem hoje a especuladores estrangeiros, arrematados na esteira do modismo e da euforia da globalização em Wall Street. Ao lado disto, a Petrobrás de hoje tem dezenas de parcerias exploratórias com empresas multinacionais de todas as origens e latitudes, mesmo em áreas muito próximas das regiões em questão e isto também a contra-indica para novas incursões no desenvolvimento do pré-sal.

Como, portanto, chamar a sociedade à realidade? Como ajudar nossas cabeças pensantes a colocarem os pés no chão? É possível que corporações e autoridades tenham uma visão mais holística da realidade? Parece impossível. O capital não tem auto-crítica e as autoridades e políticos postos a seu serviço menos ainda. Infelizmente, não tenho respostas. Uma elite intelectual bem formada, informada e nacionalista pouco poderá fazer contra a mesma classe política que predomina há séculos, contra interesses do capital e contra uma sociedade alienada e desmobilizada. O bilhete premiado saiu para os mesmos de sempre, mais uma vez.

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