A Petrobrás já foi melhor em planejamento

A Petrobrás acaba de divulgar seu Plano de Negócios para o período 2009-2013 e suas metas para 2020. Sobressaem neste plano alguns números interessantes e outros preocupantes. Por exemplo, a produção de óleo e gás deve crescer cerca de 90% até 2013 e 150% até 2020 (ver quadro abaixo). Evidentemente, este acréscimo significativo estará baseado em maciços investimentos a serem feitos na camada pré-sal, cujos contornos estão cada vez mais definidos a partir da crescente atividade exploratória. O que a Petrobrás não divulga com esta clareza são os custos de produção nestas novas bacias frente às oscilações dos preços de mercado do petróleo, já que sabidamente não é ela que define estes preços.  

Por outro lado, o crescimento do refino de petróleo em suas refinarias no Brasil – as existentes e as que serão construídas no período – ficará bem aquém do volume a ser produzido (ver quadro abaixo). Esta observação permite concluir que a empresa pensa em exportar mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia em 2020, algo como o volume exportado pela Venezuela ou os Emirados Árabes Unidos atualmente.

Petrobrás - Metas Corporativas
Indicadores Realizado 2008 Metas 2013 Previsão 2015 Previsão 2020
Produção de Óleo e Gás Natural - Brasil (boed)(*) 2.176.000 3.310.000 4.140.000 5.100.000
Produção de Óleo e Gás Natural - Total (boed)(*) 2.400.000 3.651.000 4.626.000 5.732.000
Carga Fresca Processada - Brasil (bpd)(**) 1.859.000 2.270.000 -
3.012.000
Fonte: Petrobrás – Plano de Negócios 2009-2013
(*) barris de óleo equivalente por dia;
(**) barris de óleo por dia

 
O que preocupa é ausência de menção à agressão que o petróleo tem causado ao meio ambiente ou a timidez com que este tema é abordado num plano de tão largo alcance no tempo. Naturalmente, ninguém advoga uma radical e imediata eliminação do petróleo como fonte de energia primária, especialmente na matriz de transportes. Todavia, um processo responsável visando sua substituição gradual já deveria estar em andamento, já que os prejuízos causados ao planeta e a seus habitantes são hoje consensualmente reconhecidos. Um simples análise do uso que se faz no Brasil (e no mundo não é muito diferente) permite perceber, com um pouco de raciocínio lógico, a extensão dos males causados pelo petróleo e seus derivados. No Brasil, conforme quadro abaixo, 56% do petróleo consumido é queimado em motores de veículos automotores (sob a forma de óleo diesel e gasolina). É fato reconhecido, mas pouco divulgado, que esses motores apresentam indicadores de eficiência ridículos ou mesmo inaceitáveis no momento tecnológico que a humanidade vive hoje – da ordem de 25 a 27%. Ou seja: cerca de 75% da energia térmica gerada pela combustão são desperdiçados. No caso dos motores a diesel esta eficiência é levemente maior – na faixa de 33 a 35% - em função da maior temperatura em que se dá a combustão. Mesmo assim, o desperdício alcança alarmantes 65% da energia fornecida ao motor.

Petrobrás - Perfil de Refino
Óleo Diesel 37%
Gasolina 19%
Óleos Combustíveis 15%
Nafta e Querosene de Aviação 12%
Outros 16%
Fonte: www.petrobras2.com.br  

Agregue-se a isto que há no país atualmente cerca de 50 milhões de veículos automotores, sendo que mais da metade deles trafegam nas capitais, em meio a um trânsito caótico e também sem planejamento, fato que contribui para ampliar a ineficiência dos veículos e do sistema. Porém não basta. A mera observação dos milhares de veículos enredados nas malhas do trânsito urbano revela outro problema tão grave como os demais. Trata-se um problema de educação e cidadania: Quase 80% dos veículos congestionados e que se arrastam nesse emaranhado inútil transporta apenas o motorista, embora sejam projetados para transportar, em alguns casos, até cinco pessoas. O preocupante é que a Petrobrás se prepara para ampliar sua oferta de produtos para esse mercado caótico, o que irá incentivá-lo a crescer em meio à desordem, já que as campanhas publicitárias incentivando o uso do transporte individual são cada vez mais sofisticadas e constantes.  

Há ainda, a oferta de querosene de aviação destinado a acionar os motores dos jatos da aviação comercial tão ou mais ineficientes que os motores a explosão dos veículos rodoviários. Por fim, mas não menos pernicioso do ponto de vista da sustentabilidade da vida, há a produção de nafta (um derivado com algumas características semelhantes às da gasolina) destinada, em boa parte, a suprir as centrais de matérias-primas da indústria petroquímica.  

É das indústrias de segunda e terceira gerações da cadeia petroquímica que provêm os plásticos, as fibras e outros materiais sintéticos cuja absorção na natureza é extremamente difícil tal a estabilidade química destes compostos. Como resultado, temos hoje, não apenas nos lixões do mundo inteiro, mas também nos mares, florestas e lagos, volumes crescentes de restos de material plástico produzidos pela indústria petroquímica e para os quais não se tem solução ou destino, já que reciclá-los custa mais caro que fabricar novos, visto que a lógica dominante é a de que o principal valor deste sistema é o dinheiro.  

Assim, caminha-se não apenas para um mundo em que a vida estará ameaçada pela agressão que os ainda imensos estoques de petróleo nos reservatórios representam para a humanidade e outras espécies, mas também pela sujeira propiciada pela descontrolada oferta de plásticos e fibras não-degradáveis que ameaçam cobrir a superfície do planeta.  

É triste ver gente séria se posicionar a favor da Petrobrás nestes termos, sem qualquer preocupação com as questões aqui mencionadas. Aparentemente, o desejo destes auto-intitulados "patriotas" é que a Petrobrás continue a cometer todos esses crimes, com uma única diferença:  que o faça sob controle do Estado. Boa parte do percurso já foi superada: a Petrobrás já está entre as 15 maiores empresas petrolíferas e agressoras do planeta.

Diversamente do sonho desses nacionalistas e no frigir dos ovos, qualquer cidadão minimamente pensante está apto a diagnosticar os problemas que envolvem a atuação da Petrobrás dos dias de hoje. Outrora uma empresa lúcida, competente e com visão social, hoje não passa de uma simples ferramenta de mercado, ocupada, de maneira até mesmo irresponsável, em faturar para seus acionistas – na maioria privados e em boa parte estrangeiros – à custa do país, da sociedade e do meio ambiente.
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