Lavagem cerebral

A ecologia é bastante complicada. Um pouco de pedagogia, às vezes, é necessário. Vamos lá. Um automóvel é um veículo movido por um motor de combustão de derivados de petróleo. A combustão de derivados de petróleo resulta em emissões de gás carbônico. O gás carbônico é um gás que produz o efeito-estufa, cujo acúmulo na atmosfera provoca mudanças climáticas. Seria desejável limitar as alterações climáticas, reduzindo as emissões de gases de efeito-estufa, ou seja, usando menos carros.
Os carros percorrem as estradas. Algumas estradas, especialmente equipadas, são chamadas de auto-estradas. Nas auto-estradas, os carros de passeio se deslocam mais rapidamente e, portanto, emitem mais gás carbônico. Além disso, a experiência mostra que as auto-estradas permitem um tráfego mais intenso de automóveis nas estradas que conduzem até elas. A fim de limitar as alterações climáticas, é desejável parar a construção de auto-estradas.
Em 14 de dezembro deste ano, logo após o término da Conferência de Cancun sobre as Alterações Climáticas, na França foi inaugurada a auto-estrada A65, que liga Pau a Langon, na Aquitânia: políticos locais, empresários e funcionários públicos se congratularam. Há duas hipóteses: ou essas pessoas são ignorantes sobre as ligações entre os automóveis, o petróleo, as auto-estradas e as alterações climáticas ou são irresponsáveis.
Durante a campanha de divulgaçação que anunciou essa inauguração, as emissões de gases de efeito-estufa nunca foram mencionadas. Por um processo que nossos amigos anglo-saxões qualificam de greenwashing, e que pode ser traduzido simplesmente como "lavagem cerebral ecológica", os construtores da rodovia destacaram que os ambientes naturais destruídos pela nova rota serão "compensados"; outras terras terão sua biodiversidade mantida ou restaurada. Por enquanto, apenas 160 hectares estão sendo "compensados", enquanto que a rodovia destruíu cerca de 2.000 hectares de reservas naturais, florestas e campos. E, por outro lado, as terras procuradas para serem objeto de compensação não podem ser criadas ex nihilo, mas são elas mesmos prados, pântanos ou florestas já existentes: logo, o ganho líquido da biodiversidade é zero.
Tudo isto visa a dissimular a realidade: nós continuamos a destruição em nome de um regime econômico ultrapassado. E, ao mesmo tempo, enfraquecemos os meios concretos para fazer viver a biodiversidade: o projeto de lei de orçamento para 2011 que acaba de ser aprovado pelo Senado reduziu de 4.000 para 2.000 euros o montante do crédito fiscal a ser atribuído aos agricultores que se converterem à agricultura biológica. Auto-estradas de um lado, a paralisia da agricultura biológica do outro: viva o desenvolvimento sustentável!

Le Monde - 21/12/2010