Paz verde

No dia 15 de setembro de 1971, doze pessoas, entre jornalistas, hippies e ecologistas, zarparam para a pequena ilha de Amchitka, no arquipélago das Aleutas, onde os Estados Unidos fariam um teste nuclear. Embarcados no Phyllis Cormack, um velho barco de pesca, os ativistas pretendiam impedir a prova nuclear. Nascia, assim, a organização Greenpeace.
Durante a viagem, Robert Hunter, um dos tripulantes, leu um livro sobre lendas indígenas e encontrou nele a previsão da velha índia Olhos de Fogo, da nação Cree: “Um dia a terra vai adoecer. As aves cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos nas correntezas dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris.”
Os doze pacifistas passaram a se considerar guerreiros do arco-íris. Alguns anos depois, o nome Rainbow Warrior (Guerreiros do Arco-Íris) foi pintado no casco do primeiro navio do Greenpeace. Pude visitar o Raibow Warrior em 1992, por ocasião da Conferência Mundial Rio-92. O navio já está na sua terceira versão e virá ao Brasil em 2012 para a Conferência Rio+20.
Também em 1971, foi fundada, no Rio Grande do Sul, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), da qual José Antônio Lutzenberger foi o primeiro presidente, um verdadeiro guerreiro do arco-íris. A preocupação com os destinos do planeta chegava ao Brasil. Ainda nesse longínquo ano, ofereci-me para integrar uma comitiva de intelectuais peruanos que tentariam impedir um teste nuclear da França no Oceano Pacífico. Concebi também um livro com 12 poemas-processo relacionados aos problemas ambientais planetários.
A década de 1970 foi muito rica em movimentos sociais. A questão ambiental ganhou visibilidade e suscitou a construção de uma filosofia denominada na época de ecologismo. Este sistema empreendia uma radical crítica ao modo de produção industrial, presente tanto nos países capitalistas quanto socialistas. O ecologismo concluiu que o desenvolvimento clássico, nascido da primeira revolução industrial, chegara a um ponto insustentável pela Terra. Para seus pensadores, não se tratava de reduzir o peso do industrialismo nem de amainar seus impactos ambientais. Era preciso construir um outro estilo de civilização.
Para tanto, não bastava apenas propor um outro modelo de desenvolvimento, mas de lutar pela sua construção. Lúcidos, os pais do ecologismo estavam cientes da dureza e da resistência da civilização industrial. Uma mudança abrupta não seria possível. Então, os ecologistas estabeleceram estratégias a serem alcançadas no longo prazo e táticas de luta praticadas no cotidiano.
De todas as organizações ativistas, o Greenpeace é a mais longeva e a mais consequente. Os nacionalistas não gostam dela por sua ação em vários países. Olham-na como uma instituição multinacional a interferir nos assuntos de cada estado nacional. Imputam-lhe o caráter de agência que defende os interesses de empresas transnacionais e de países poderosos. Primeiramente, o Greenpeace soube se manter distante de governos e empresas. Seus recursos financeiros são obtidos única e exclusivamente de cerca de um milhão de simpatizantes em todo o mundo.
Em segundo lugar, trata-se de uma organização mundialista que superou a divisão do mundo em estados nacionais. Estes, na sua louca corrida pelo desenvolvimento convencional, contribuíram muito para a crise ambiental da atualidade. A outra contribuição vem dos empresários. É em nome da Terra e dos pobres que o Greenpeace atua. Como tática, a organização luta em defesa dos oceanos, das florestas tropicais, contra a poluição, em prol da biodiversidade etc. Ele está em todas as partes do mundo. No momento, sua luta no Brasil foca a reforma do Código Florestal e a proteção dos Abrolhos, no sul da Bahia, contra interesses de companhias petrolíferas.
Sou colaborador do Greenpeace com enorme prazer. Já que o velho Soffiati não tem mais tanta força para lutar nem pode estar em muitos lugares, que o Greenpeace esteja por ele. Também sou um guerreiro do arco-íris, um guerreiro sem armas de fogo, um guerreiro cuja única arma é a palavra. Compartilho com os ecologistas a esperança de um planeta (não apenas de um ou de alguns países) mais limpo e mais belo, com lugar digno para todos os seus habitantes, de organismos unicelulares ao ser humano.

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