Descobertas tardias

Numa entrevista ao jornal "O Globo" do dia 5 de fevereiro último, o economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, declarou que não se pode superar a atual crise do capitalismo com a fórmula de Keynes: aumentando a produção, estimulando o crescimento econômico e gerando empregos no setor público. Segundo ele, esbarramos num obstáculo intransponível. Superar a crise com crescimento econômico significa aprofundar a crise ambiental. Nem sequer podemos pensar em atacar a crise social, pois a solução para ela também tocaria nos limites da natureza.
Só faltou ao conceituado economista mais clareza quanto aos caminhos a serem seguidos diante do impasse crescimento X limites naturais. Ele fala em reduzir o consumo, valorizar mais as relações humanas, dedicar-se mais à família e ao espírito. Lara Resende revela que sofreu grande influência de Paul Gilding, em seu livro "The Great Disruption", ainda não editado no Brasil. Li apenas uma entrevista de Gilding, que já lutou nas fileiras do Greenpeace. Ele também não avança muito quanto aos caminhos a serem trilhados e aos objetivos a serem atingidos. Assim, tanto da parte de Resende quanto da de Gilding, temos um bom diagnóstico do sistema capitalista na fase atual, mas não uma boa terapia ou uma saída para ele.
O modelo apontado pelo economista brasileiro é o Japão, cuja economia mostra-se estagnada há 15 anos. Sem grande crescimento, o povo japonês, que reduziu as desigualdades sociais e atingiu patamares de consumo que permitem cultuar valores espirituais, continua a viver num contexto capitalista. E também a usar técnicas e tecnologias antiecológicas, como a energia nuclear, por exemplo. Assim, o caminho para superar a crise deve nos conduzir a um ponto em que as necessidades de consumo sejam atendidas para os pobres e limitada para os ricos a ponto de promover justiça social.
O que impressiona é o desconhecimento, por parte dos economistas da nossa época, de todo o vigoroso pensamento filosófico, político e social da década de 1970. Pensadores como Rudolf Bahro, Ivan Illich, Michel Bosquet, Herman Daly, Jean-Pierre Dupuy, Ignacy Sachs, Dominique Simmonet, Laura Conti, René Dumont e muitos outros diagnosticaram a civilização industrial, tanto capitalista quanto socialista, como insustentável pelo planeta por muito tempo. Isto porque capitalismo e socialismo, com objetivos sociais distintos, buscam o mesmo fim: um crescimento ilimitado dentro de um mundo limitado. A terapia também era original: construir, nos buracos abandonados pelos dois sistemas ou não ocupados por eles, uma civilização ecologista.
O economista E. F. Schumacher, discípulo de Keynes e autor do livro "O negócio é ser pequeno", afastou-se do mestre por entender que medicamentos keynesianos não podiam ser receitados indefinidamente. O rigoroso matemático e economista Nicholas Georgescu-Roegen valeu-se, no livro "A Lei da Entropia e o processo econômico", de 1971, da segunda lei da termodinâmica para demonstrar a grande contradição do capitalismo, maior que a contradição social: a incapacidade da Terra em sustentar uma economia calcada em recursos finitos.
Parece que esses autores foram esquecidos. Parece que os economistas capitalistas estão descobrindo os limites do crescimento agora. Até Delfin Netto está flertando com o tema. Antes tarde do que nunca. Mas é pouco tomar o Japão como modelo para um desenvolvimento estável. É pouco sustentar que o problema reside não na civilização industrial, mas nos que a controlam, como faz o marxismo tradicional. Como exemplo, tomemos o complexo industrial portuário do Açu. Para os capitalistas, o controle deve ficar com os empresários. Estes vão gerar empregos e impostos. Tomarão eles até mesmo medidas de mitigação dos impactos ambientais. Para os marxistas clássicos, o controle deve ficar com os trabalhadores.
Para o ecologismo, a questão é mais profunda. O desenvolvimento deve ser promovido por grandes empreendimentos, sejam eles controlados por empresários "iluminados" ou por trabalhadores? O que os ecologistas rejeitam são as técnicas e tecnologias de grande planta e consumidores de recursos não-renováveis. Por mais que o complexo do Açu adote medidas para mitigar os impactos ambientais, a questão central se refere às dimensões do empreendimento, ao uso de recursos finitos e ao desrespeito àqueles que se dedicam à produção de bens verdadeiramente úteis. É o que tentarei demonstrar no próximo artigo.

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