O ESTADO ARACRUZ/VALE (ANTIGO ESPÍRITO SANTO) E O EXEMPLO DE SANTA CRUZ

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Outdoor da ARACRUZ em Vitória, capital do antigo Espírito Santo. Registre-se que os índios são os habitantes nativos do local e a ARACRUZ invadiu e ocupou suas terras.

O modelo de "progresso" a que a ARACRUZ se refere implicou no ano de 2003 em gastos per capita de 100 reais por morador da capital do estado em doenças provocadas pela poluição. Isso significa um gasto anual de 3,7 bilhões a 4,4 bilhões de reais por toda a população para tratar de doenças da contaminação ambiental. Tente atualizar esses números.

"As chaminés da VALE, da CST e da BELGO despejam sobre os moradores da Grande Vitória 264 toneladas/dia, (93 360 toneladas anos) de poluentes só no ar. São 59 os tipos de poluentes, sendo 28 altamente nocivos à saúde". Os dados foram levantados por Ubervalter Coimbra, jornalista do SÉCULO DIÁRIO.

El nacimiento de un mundo
Se aplazó por un momento
Fue un breve lapso del tiempo
Del universo un segundo

Sin embargo parecia
Que todo se iba a acabar
Con la distancia mortal
Que separó nuestras vidas

Ubervalter Coimbra revela que em assembléias de moradores e associações para discutir o assunto estiveram presentes infiltrados agentes do serviço de inteligência da Polícia Militar do estado ARACRUZ/VALE (antigo Espírito Santo). Cumpriam ordens do gerente geral Paulo Hartung, que atende pelo título nominal de governador.

O projeto "A VALE, A VACA E A PENA", que consiste na exposição de uma tela à poeira da capital do estado, sobre mesa em varanda coberta no jardim interno do ateliê de Kleber Galvêas, mostra há doze anos a intensidade da poluição gerada pelo "progresso".

Amanhã, seis de maio, às 12, acontece a décima segunda edição do projeto. Exposta desde o dia 17 de março, portanto 50 dias, a tela poderá ser comparada com as dos anos anteriores e dimensionado o aumento da poluição.

Mais da metade das crianças que nascem em Vitória, chegam ao mundo com problemas respiratórios, muitos de natureza grave e até os cinco anos de idade todas as crianças terão tido acidentes respiratórios por conta da poluição. A incidência desse tipo de infecção em idosos é das mais altas do mundo e de um modo geral toda a população de Vitória tem a clássica rinite.

Uma observação simples para se medir a poluição na capital e no estado. Quem quer que ande descalço por meia hora terá a sola do pé toda preta, por conta do pó que habita o ar que respiram os que lá estão. Todos incólumes em nome do "progresso e da geração de empregos" que essas empresas geram.

Vitória é uma das cidades mais violentas do mundo e a renda per capital é igualmente das mais altas.

Realizavan la labor
De desunir nossas mãos
E fazer com que os irmãos
Se mirassem com temor

Cunado passaron los años
Se acumularam rancores
Se olvidaram os amores
Parecíamos estraños

Com uma diferença em relação a centros mais "atrasados". O cidadão tem a sua data de validade reduzida pelo "progresso". Você morre de renda per capita que não quer dizer distribuição per capita da riqueza. Se você ganhar dois e eles dez, a renda per capita nesse grupo é seis. Eles ficam com mais de oitenta por cento.

Empresários como os que operam a ARACRUZ (Antônio Ermírio de Moraes), ou a VALE, a BELGO/ACELOR, a CST, se acham acima da lei e de tudo e todos. Usam "progresso" e "geração de empregos" como forma de desviar a atenção dos males que geram e causam aos trabalhadores e cidadãos de um modo geral. O crime que praticam é legalizado, diferente dos de Marcola ou Beira-mar. Só que provocam o mesmo efeito devastador que as drogas provocam.

Na esteira desse "progresso" vem a corrupção. Transformam governadores em capatazes, privatizam a instituição policial em função de seus interesses, acima dos interesses comuns da coletividade e formam estados autônomos com apoio de "nacionalistas" e "defensores da soberania nacional" como o general Augusto Heleno, suposto comandante militar da Amazônia dita brasileira.

A tela exposta pelo artista Kleber Galvêas recolhe durante 50 dias os itens do "progresso".

De quebra dispõem ainda de um senador, marido da deputada Camata, pronto para dizer, a polpudas contribuições para suas campanhas eleitorais, que a ação contrária tem o dedo das FARCs-EP. E num gesto de "solidariedade" estende essa denúncia ao amigo que governa Minas, num grau de amizade que supera laços consangüíneos. Os poderosos são solidários no poder e na distribuição de benesses entre si. Repartem as riquezas, quaisquer que sejam, no festim das elites.

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A quem os índios ameaçam? Trabalhadores, ou os donos do estado ARACRUZ/VALE? Quando os primeiros colonizadores chegaram ao antigo estado do Espírito Santo, os índios lá estavam, eram os donos das terras.

Que distância tão sofrida
Que mundo tão separado
Jamás se hubiera encontrado
Sin aportar nuevas vidas

E quem garante que a História
É carroça abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa estação inglória

No estado boliviano de Santa Cruz, onde se concentra a elite boliviana e onde estão os grandes negócios, os "geradores" de "progresso" e "empregos", se rebelaram contra a decisão do povo boliviano que elegeu Evo Morales presidente da República. E, em seguida, deu a Evo Morales, a maioria absoluta de deputados na nova Assembléia Nacional Constituinte.

A brincadeira de democracia vale até o momento que não ameaça os interesses dessa gente. São iguais lá, ou no estado ARACRUZ/VALE. Elites não têm pátria. Têm interesses e têm negócios no mundo globalitarizado (globalizado pela força das armas).

O direito ao voto livre é apenas o do oprimido escolher o opressor. Se com vaselina, ou com areia.

Em nenhum momento a grande mídia no Brasil noticiou que o Parlamento da Suécia determinou a venda das ações da ARACRUZ, que o governo daquele país dispunha. Era parceiro do projeto original e não aceitou a transformação do mesmo em quadrilha de predação ambiental e assassinato de índios e quilombolas, em sistema de escravidão de trabalhadores supostamente beneficiados pelo "progresso" e pela "geração de empregos"

Na Bolívia, em Santa Cruz, o referendo autonomista foi um fracasso a despeito da defesa feita pelo embaixador dos EUA do "direito" separatista dos "ameaçados" pelos indígenas (a maioria da população boliviana). Menos de 30% compareceu às urnas e o resultado não significa apoio à proposta das elites. Mais de 500 mil indígenas e trabalhadores se reuniram em Cochabamba para repudiar a manobra.

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Esse carro circulou por Santa Cruz de La Sierra no dia 4 de maio em defesa do "direito" à autonomia do estado de Santa Cruz. Você não viu na GLOBO, não vai ver em nenhuma grande rede de tevê, jornal ou revista, mas vai ouvir os resultados "favoráveis" aos separatistas, na mentira da mídia, um dos principais instrumentos das quadrilhas separatistas em todo o mundo.

A Bolívia tem tradição de golpes militares. Um espirro de um general Heleno da vida por lá e logo o presidente é deposto. No dia seguinte outro espirro e o mesmo e assim por diante. Um deles, Garcia Meza, foi preso em São Paulo, faz tempo, por ligações com o tráfico de drogas. O comandante das Forças Armadas bolivianas advertiu ontem que a manobra separatista colocava em risco a soberania nacional e admoestou os defensores do referendo considerado ilegal pelo governo e pela Corte Constitucional.

Não significa que o general esteja defendendo a legalidade e a democracia. Significa que, neste momento, o general sabe que o povo está nas ruas defendendo os seus direitos e isso pode significar uma guerra civil.

A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue

É um trem riscando trilhos
Abrindo novos espaços
Acenando muitos braços
Balançando nossos filhos

Para os norte-americanos, para as elites, uma guerra assim é irrelevante. Vão morrer, como no Iraque, na Palestina, cidadãos inocentes, trabalhadores, homens e mulheres e crianças. Vão ser presos os que classificam como "terroristas" e o general William Bonner, robô de última geração, vai ter orgasmos infinitos ao pronunciar a palavra "terrorista".

Importa a essa gente que os negócios fiquem sob controle.

Lo que brilla con luz propia
Nadie lo puede apagar
Su brillo puede alcanzar
La oscuridad de otras costas

Quem vai impedir que a chama
Saia iluminando o cenário
Saia incendiando o plenário
Saia inventando outra trama

Quem vai evitar que os ventos
Batam portas mal fechadas
Revirem terras mal socadas
E espalhem nossos lamentos

É assim em Santa Cruz na Bolívia. É assim na Palestina, onde as pessoas morrem por falta de atendimento médico (Israel impede o acesso a hospitais no cerco a Gaza). É assim em Guantánamo, onde prendem suspeitos e depois de anos libertam com um pedido de desculpas pelo "erro". É assim no Brasil onde gente como Ermírio de Moraes e os donos da VALE, os condes e marqueses do império FIESP/DASLU contratam banguelas para garantir o direito à sonegação.

Você pode até acreditar que é preciso levantar às seis, tomar o transporte sete e vinte, chegar por volta das oito e subir no elevador até o quinto (quinto dos infernos) e fazer de conta que não é nada consigo, mas cumpre o seu dever. Não vai escapar da sanha dessa gente, pois não percebe que tem data de validade e essa não inclui qualquer conteúdo humano ou respeito.

E enfim quem paga o pesar
Do tempo que se gastou
De las vidas que costó
De las que puede costar

Já foi lançada uma estrela
Pra quem souber enxergar
Pra quem quiser alcançar
E andar abraçado nela

São pastas e escaninhos onde guardam as bolas/seres encaçapados na ilusão da realidade que se materializa na suástica dos defensores do "progresso" e da "geração de empregos".

O mundo real. O da barbárie disfarçada nas cores e brilhos das tevês e dos jornais e revistas, que ensinam como emagrecer, como entrar em forma e ainda oferecem a chance de ter a bunda como a das cariocas, basta contratar um personal trainer, passar por um treinamento específico e uma cirurgia plástica. Ou virar um sucesso se seguir as indicações de um tal Roberto Justus.

No meio disso tudo, achando que é presidente de alguma coisa e que acelera o crescimento (acelera sim, o deles), Luís Inácio Lula da Silva, que um dia chamou esses caras de pilantras e hoje elogia Médice e Geisel.

Esse modelo é deles. Ao trabalhador cabe abrir a janela e enxergar a roseira. Ou a constelação CFT. Do contrário, a lata de lixo e o esgoto onde jogam seres humanos vai se enchendo cada vez mais, assim que termina a data de validade.

É uma simples escolha. Ou sou, ou meu nome é ninguém.

Já foi lançada uma estrela
Pra quem souber enxergar
Pra quem quiser alcançar
E andar abraçado nela

(Canción por la unidade latinoamericana – Chico Buarque e Pablo Milanês)