CRÔNICA DO EU

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Jamais deixo que palavras estratégicas, maliciosamente, colocadas num contexto, consigam transgredir os meus conceitos de justiça e legalidade. Mantenho a fiel verdade no meu inabalável princípio de vida.

Desprezo, veementemente, às notícias desconexas, as montagens irreais, impulsos sentimentais, "figuras que envergonham" e as frases que nada dizem.

Não consigo entender a humanidade andando na contramão do simples, a qual maquia verdades ou ainda utiliza um linguajar "acadêmico", quando deve usar o seu discernimento e cultura para se posicionar lado a lado daqueles que necessitam entender o que falam, para adquirirem um pouco de cultura e confiança.

Por vezes, indago-me:

-  Será que a cultura e o saber ocupam espaço na estrutura psíquica do orgulho humano?

Não quero acreditar! Tolhido da liberdade de expressar o seu puro sentimento,

obviamente, o meu "eu" sentir-se-ia oprimido por não levar a verdade a quem de direito, caracterizando sua falta de inteligência e incapacidade de ação lógica, isto é, fazer fluir aos demais as suas idéias, mesmo que sejam simples.

A sociedade contemporânea está sequiosa por conhecimento, não tenho dúvidas, mas me pasma a falta de atitudes político-administrativas que possibilitem a interação mais efetiva, uma convivência mais próxima e sem discriminações, acelerando o aparo das arestas que, certamente diminuirão as desigualdades e, facilitarão o entendimento. Ainda aumentarão o respeito, alargarão os horizontes da paz e até, quem sabe, despojarão o homem dessa verdadeira praga a qual se chama "orgulho".

Com a certeza de que escrevo, tão somente o que sinto, não temo às críticas de parceiros ou de competidores, porque apenas o tempo e as futuras gerações poderão avaliar e reconhecer o meu legado. Garanto-lhes que não serão grandes pedaços de pensadores consagrados ou não, que comporão esse legado, mas, inevitavelmente, apenas os argueiros do "eu", único, autêntico e simples.

Tanto os sentimentos do "eu" como os de "vocês" serão partilhados com "ele", pois, assim, será possível para todos "nós" entendermos que "vós" e também "eles", assimilaram a simplicidade e a nobreza do respeito, como também o significado da palavra "amor".


  

GRANDE SERTÃO: VEREDAS 2007.

Condorcet Aranha

Nesses sertões brasileiros,
Na minha infância querida,
Via tantos boiadeiros,
Pelas estradas da vida.
Passavam bois e boiadas,
Regidas por cavalheiros,
E eu criança intrigada,
(Dizia:):
Por quê chamam boiadeiros?

Na minha pura inocência,
No cavalo é cavaleiro,
E achava com consciência:
Quem monta boi: Boiadeiro.
Mas, são coisas do passado,
Que hoje fico a recordar,
Tal qual aquele ditado,
Que consegui me lembrar:

"Lá em cima, daquele morro,
Passa boi, passa boiada,
Passa até o meu avô,
Com a cueca remendada."

Mas volto agora ao presente,
Ao novo "Sertão: Veredas"
Boiadeiro é "inteligente",
E usa blusas de seda.
Veste terno com gravata,
E até preside o Senado,
Nos conta tanta bravata,
E nos deixa envergonhado.

Nesses sertões brasileiros,
Quase não vejo as boiadas,
Vejo o avô, não boiadeiros,
De cuecas remendadas.
Sinto hoje, Rui Barbosa,
Vergonha em ser brasileiro.
Sertão? Guimarães Rosa,
Só tem hoje um boiadeiro

Podem crer meus co-irmãos,
Desse povo altaneiro,
O sertão está nas mãos,
De bem poucos boiadeiros.
Quem fica a ver as estradas,
Dos sertões tão brasileiros,
Só vêem passar boiadas,
Do senhor Renan Calheiros.