O MARAVILHOSO MUNDO DOS CEGOS

        No mundo dos cegos, encontram-se maravilhas jamais vistas por aqueles que possuem os olhos bem abertos para o mundo. Na verdade, as maiores, mais belas, mais desejadas e gostosas coisas da vida, não estão por aí, espalhadas na face da terra à disposição de todos. Estão, sim, reservadas para poucos, somente para aqueles que conseguem enxergar, não com os olhos, mas com a virtude da consciência, do respeito e da dignidade humana.
       Não enxergar é ter nos olhos a sensibilidade e a percepção de conseguir imagens criadas pela mente e, tenham a certeza de que todas são muito, maiores e belas do que as deixadas à nossa disposição. O Deus que tanto amamos não seria capaz de criar rios, cachoeiras, montanhas, lagos, pássaros, sons melodiosos e paladares deliciosos, se morasse na amplidão azul do céu e de lá dirigindo a nossa sensibilidade e percepção naturais. Não seria capaz de fazer tantas coisas e, se realmente as fizesse, não seriam tão belas e majestosas quanto aquelas que estão na imaginação dos que não enxergam.
       O homem precisa entender que em suas mãos, estão o destino do mundo e de tudo que nele existe. Compreender que só a honestidade poderá levá-lo ao caminho certo, subsidiá-la com respeito, dignidade e acima de tudo, sem preconceitos e parcialidades.                                 
      Ter a imparcialidade do cego que de todos se aproxima sem receios, indiferente à sua aparência física ou material; a dignidade de dar as mãos, sem perceber ou reconhecer na oponente, as suas nódoas ou ações indevidas. Apenas dar as mãos, transferir-lhes um pouco do seu calor humano e até diminuir-lhes as possíveis máculas.
      Como é maravilhoso o mundo dos cegos! Não ter o dissabor de observar nas feições daquele que lhe beija a face, os traços da traição e nem perceber nas mãos que lhe afagam, os instantes de retração, mas apenas as sentir. Não ver é uma dádiva e não castigo. É ter no seu olfato a sensibilidade de sentir o verdadeiro aroma das rosas, jasmins, gardênias e muitas outras, imaginando-as tão mais belas que, não teria o próprio Deus, a capacidade de criá-las.
       Poder sentir, através do seu apurado tato, as diferentes formas e variações de corpos e superfícies, sentindo-as como são: ásperas ou lisas, agradáveis ou intrigantes, sem influências da visão, sem repugná-las, apenas as aceitando. Criar através do seu sentido maior, formas e cores que justifiquem a percepção do seu tato e do seu ilusório, que sempre atingem a integridade da satisfação pessoal. Ser cego é poder analisar a cada fato com isenção, porque se não consegue o presenciar, é capaz de, com sua acuidade de sentimento, decidir pela verdade e não ser traído pela mídia no momento do fato. A insegurança que dirige seus passos pelos caminhos da vida é também a mola mestra que lhe possibilita dar tempo à mente, para uma decisão convicta e que, se por vezes errada, jamais o leva a um falso ideal.
       Caso não desfrute da queda de uma cachoeira, também não crava em sua alma a tristeza de uma lágrima que rola numa face sofredora, também não cria a paisagem de fundo, para o rebento das ondas do mar agitado, como não é capaz de criar o pano de fundo dos trovões. Mas, certamente, cria-os, porém sempre mais belos que a densa e branca espuma que sobe nos rochedos e, bem menos desagradáveis que o rigor do breu da noite e menos temeroso que os clarões dos raios.
       Ser cego é estar mais perto de Deus, melhor entendê-lo, senti-lo mais verídico, poder desfrutá-lo. Esse Deus até pequeno, tão pequeno que cabe na mente de cada um de nós. Possivelmente, uma partícula ínfima, razão porque não a detectamos nem a percebemos, por mais que se avance na ciência. Provavelmente, invisível, mas sua presença é indiscutível e inolvidável, divisível, multiplicável. Poderemos também somá-la, mas, jamais subtraí-la. Caso, isso ocorra, seremos apenas homens e não seres humanos.
      Os olhos que vêem o mundo não param mais de chorar e os que jamais o viram, são capazes de amá-lo.

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