A FAXINA

Chegou finalmente um dia que se tornou impossível entrar no atelier e trabalhar, tamanha era a desordem que estava ali dentro, claro que isso sempre aconteceu em uma segunda feira que é o dia mundial de fazer tudo a que nos propomos fazer, e adiamos.
Pois é lá fui eu para a tal faxina, ao começá-la, decidi fazer uma faxina geral mesmo, no meu espaço e na minha vida, foi assim como um exercício que eu me impus, tudo o que eu ia jogando fora ou organizando, fazia a mesma coisa interiormente.
Tinha uma porção de pequenos tubos de tinta, daqueles que nem se fabrica mais da marca hering, bem pequeninos e que me lembro ter ganhado de minha mãe quando tinha uns oito anos de idade, imagina isso, eu guardava apenas de recordação, foi tudo pro lixo, e guardei na gavetinha das recordações dentro de mim, a imagem daqueles tubinhos que tanto me incentivaram a descobrir a arte dentro de mim, maravilha, um peso a menos. Depois foram aquelas dezenas de pincéis de pontas gastas que eu sempre guardava achando que poderia servir para dar algum retoque, refazer algum detalhe... Não serve, lixo. Olho para a gavetinha dentro de mim das coisas que guardei na esperança de serem reaproveitadas, e vejo que não servirão para mais nada, apenas para lembrar-me de que aquilo não tem mais a função que teve um dia... Jogo tudo fora e libero mais um espaço nas gavetinhas do coração.
Pano velho... Tudo que é trapo que eu via na frente guardava para limpar os pincéis, só que muitos deles são de um tecido que não absorve nada, então os jogo fora e noto que apenas faziam volume, assim como várias recordações que eu insistia em manter vivas em minha mente, ocupando um espaço valioso que poderia servir para armazenar novas experiências... Limpei também, lixo com tudo aquilo.
As roupas velhas para trabalhar... Santo Deus havia ali um brechó inteiro, nunca vi tanta velharia, fiquei olhando aqueles farrapos e imaginando que para criar uma linda obra eu não precisava me vestir de mendiga, podia muito bem trabalhar mais bem arrumadinha, e assim eu fiz, coloquei tudo em sacos de lixo e os coloquei na lixeira, assim como as velharias que estava guardando na preciosa estante que esta dentro de mim.
Quantos potes sujos e latas velhas cheias de resíduos de velhos trabalhos, nem pestanejei, arremessei no cesto, olhei bem no fundinho de mim mesma, e joguei também aqueles baldes ressecados e borrados de tinta seca e já desbotada com que um dia pintei minha juventude.
Assim fui fazendo, jogando coisas fora, mudando outras de lugar, organizando o que ainda poderia ter utilidade, e fazendo uma lista de coisas novas que eu precisava para repor o que joguei fora. E foi assim também comigo naquelas horas tão preciosas, joguei sacos de mágoas no lixo, mudei de lugar o que estava me incomodando, pondo em segundo plano, e reorganizei tudo o que acreditava ainda ser útil em minha vida, mas não insubstituível, e por fim fiz uma lista de todas as coisas novas e maravilhosas com que ainda pretendo enfeitar a estante de minha vida, as gavetinhas continuarão a guardar apenas as coisas boas, e umas delas ficarão trancadas guardando algumas dificuldades que eu ainda não tive coragem de lidar, mas as chaves estão bem à vista esperando outra segunda feira daquelas que tenho prometido a mim mesma pegar todas as chaves perdidas e abrir todas aquelas trancas e cadeados, limpar as gavetas e abrir as janelas para que o sol ilumine bem aquele espaço escuro dentro de minha alma, e seque as tintas que borraram por vezes o colorido com que eu pintei os dias de meus sonhos.
Agora depois de limpar, e de me limpar, vou tomar um banho quente, e tirar o resto da poeira que insiste em fazer lacrimejar os meus olhos.

Cristiane Campos   25/09/2007

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