A grande crise que se avizinha

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A ética fascista em voga - expressa em atos exorbitantes de um judiciário tão “acima de qualquer suspeita” e no bombardeio midiático de seus propagandistas do monopólio da imprensa, com a Rede Globo à cabeça - segue açulando a opinião pública na ideia de que a solução dos males do país é mudar imediatamente o governo. Isto é, trocar seis por meia dúzia, trocando siglas partidárias no gerenciamento do velho Estado brasileiro, para seguir aplicando o mesmo receituário econômico ditado por Wall Street e ao gosto do “mercado”.

O establishment busca desesperadamente, com a ideia de grande faxina, salvar a credibilidade de suas instituições e alcançar a normalização da situação política para retomar a toda pressão os ajustes fiscais. Calculam que depor Dilma, dada à sua impopularidade e tamanha desmoralização do PT, seja a forma mais rápida para alcançar a estabilização política que necessitam para recuperar seus negócios. E assim que consigam fazê-lo, passarão prontamente a chantagear a opinião pública com o canto de que o atual gerenciamento afundou o país e que uma catástrofe é iminente, que sem fazer sacrifícios ela ameaça lançar o país no abismo. A velha e mesmíssima cantilena para impor ao povo o custo da crise deste sistema de exploração.

Mas enganam-se os que pensam e contam como certo que com “operações lava jato” vão moralizar as carcomidas instituições deste velho Estado em decomposição. Enganam-se os que pensam e contam como certo que a deposição de Dilma trará alguma estabilidade política. Desdenham da natureza e condição semicolonial e semifeudal de nossa sociedade carente da Revolução Democrática, iludindo-se poder erguer uma potência sobre bases podres que engendra corrupção como modus operandi. Subestimam a crise e os ânimos que atiçaram com toda a orquestração montada com o judiciário e o monopólio de imprensa. Mais ainda, desprezam as paixões desatadas e as feridas abertas. Ademais, creem que podem seguir manipulando os contingentes massivos que vão às ruas e fazer as manobras que melhor lhes servirem, quando o que é certo para os que protestam hoje, que sua decepção tem data marcada, pois, em essência, nada mudará. Qualquer que seja a saída levada a termo pelos donos do poder para credenciar esta ou aquela sigla, esta ou aquela figura na presidência do país, não porá fim à crise, tampouco à corrupção.

E tendo de qualquer forma tocar os ajustes fiscais e toda a política de exploração dos trabalhadores, de iniquidades para o povo e de subjugação nacional, mais do que nunca se levantará um mar ainda maior e mais tormentoso de descontentamentos e revoltas. E todas as paixões feridas desta crise se fundirão com a revolta popular frente ao desemprego, ao arrocho salarial, à carestia, às mazelas das epidemias que se proliferam país afora e todo tipo de cortes de sua recorrente política de austeridade que se despejará inevitavelmente sobre o país em pacotaços.

As mais amplas e profundas massas pobres do país e da juventude combatente, que até agora se mantém à distância deste imbróglio, porém mirando, pensando e discutindo amiúde e a seu jeito, não estão e nem ficarão indiferentes aos seus desfechos. O fato é que os efeitos da crise econômica seguem açoitando seu lar, seu bolso e sua mesa, seja pelo desemprego, seja pelo aumento indiscriminado dos preços dos alimentos, enfim, pelo deterioramento crescente dos serviços públicos (saúde, educação, saneamento, segurança, assistência social, etc.), pelos quais é quem mais paga.

Estados e prefeituras falidos atrasam salários de servidores e professores, fecham escolas e postos de saúde, cancelam a distribuição de remédios e dão como desculpa que não há dinheiro para nada. Derivam daí a volta enfurecida de epidemias como dengue, chikungunya, zika e a gripe suína (H1N1), resultante da total falta de saneamento, de ações preventivas e da ineficiente coleta de lixo, o descaso continuado para com a vida do povo. Para ele, mentem os que, em busca de popularidade, acusam Dilma, Luiz Inácio e o PT como culpados por tudo. Mentem Dilma, Luiz Inácio e o PT jactando-se de que ninguém fez mais pelos pobres do que eles. Nossa economia é enferma porque somos um país semicolonial e semifeudal e os governos aplicam a política que dita o imperialismo e o que um ou outro governo fez foi distribuir um pouco mais esmolas para ganhar popularidade e aplacar a revolta das massas.

No campo, a política petista foi de total favorecimento e de apologia ao latifúndio (travestido de agronegócio) e às mineradoras, na busca de impulsionar a produção primária para exportação (commodities: soja, cana, milho, gado, minério de ferro, petróleo) como lhe dita o império, enquanto a economia do país se desindustrializava e desnacionalizava ao extremo. Isto ao custo não só de paralisar por completo a já “reforma agrária” de papel do Estado, mas principalmente por encorajar os latifundiários e mineradoras, que avançaram ainda mais sobre as terras públicas. O que por consequência levou à espiral ascendente da ação genocida de massacres de camponeses e o assassinato de suas lideranças empenhadas na luta pela conquista da terra para quem nela vive e trabalha.

Diante desta caótica situação provocada pelos partidos que já passaram pelo gerenciamento do velho Estado, cada um dando sua contribuição para o seu apodrecimento, não há outra saída que não seja os trabalhadores irem às ruas levantar suas reivindicações na cidade e no campo, e avançarem na construção da Revolução Agrária, gritando fora todos os exploradores do povo e todos os oportunistas que se engalfinham numa interminável rinha para ver quem melhor pode servir ao imperialismo, à grande burguesia e ao latifúndio.

Mas as massas estão assistindo a toda esta imundice e fermentando seu ódio a estas classes de sanguessugas e privilegiados. As revoltas do povo, expressas em escaramuças localizadas com os aparatos de repressão do velho Estado, que surgem todo dia em diferentes partes do país, na cidade e no campo, são apenas ensaio para grandes batalhas. As massas dispostas a lutar clamam por uma guia que se coloque mais alta a indicar-lhe o caminho para a Nova Democracia, por romper os grilhões que as exploram e oprimem. Seguramente que, junto a elas, em seu seio, também fermenta e gesta a direção revolucionária para cumprir a grande tarefa.

Cabe agora ir às ruas para levantar as reivindicações populares mais sentidas e rechaçar todo este sistema político corrupto das várias siglas do Partido Único das classes dominantes e sua farsa eleitoral.