JUSTIÇA DIVINA?

Imprimir

Como todo militante revolucionário que aprendeu o bê-a-bá do marxismo, eu já tentei encarar as religões como projeção para outro plano de nossas dores, angústias e aspirações.
Ópio do povo, como disse Marx, mas num sentido diferente do que a maioria atribui: o ópio então era usado para aliviar as dores, assim como os homens recorreriam às promessas de justiça no além para melhor suportar as injustiças e sofrimentos que marcavam seu cotidiano.
No entanto, ao longo da minha vida, vi muita coisa que me fez colocar um grande ponto de interrogação sobre este assunto.
Como, p. ex., o episódio da velha raposa da política que tudo fez para se tornar presidente da República, embora não tivesse nem de longe carisma para chegar ao Planalto nos braços dos eleitores.
Ele conspirou para que fosse negado ao povo o direito de eleger o presidente pela via direta e para que um bando de parlamentares depois desertasse das hostes governamentais e lhe fornecesse os votos necessários para ganhar a eleição pela imunda via indireta.
Com todo seu maquiavelismo, ganhou mas não levou. A morte frustrou seus planos perfeitos.
De quebra, devemos à sua arquitetura política oportunista um dos piores presidentes da nossa História, o coronelão nordestino que lambia as botas dos militares e fez a Nova República nascer velha e condescendente com os crimes que haviam sido perpetrados em duas décadas de arbítrio.

Justiça divina? Sei lá. Mas que parece, parece..
Assim como o caso de Wellington Manezes, a besta humana que executou sem motivo 12 crianças, por desequilíbrio mental e também em função de sua mais do que evidente compulsão por holofotes.
Uma das repulsivas mensagens que deixou definia os procedimentos a serem adotados no seu enterro. Sonhava em receber atenções fúnebres dignas de um santo.
Foi, pelo contrário, sepultado na última sexta-feira (22), num cemitério da zona norte do Rio de Janeiro, como corpo não-reclamado, já que nenhum parente quis saber dele e das lembranças do seu ato execrável.  O enterro foi feito pela Santa Casa.
Wellington agora está ao lado de indigentes não identificados, tão insignificante na morte como o foi em vida, de nada tendo adiantado o nefando massacre com que tentou mudar este destino.
Ponto a favor da existência da justiça divina.

* jornalista e escritor. http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com