É PROIBIDO PROIBIR AS CAÇADAS DE PEDRINHO!

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Para nunca esquecermos: a dignidade dos atletas que
fizeram a saudação do Poder Negro no pódio olímpico.

Ridículo atroz: os patrulheiros cricris que tentaram e não conseguiram fazer com que o Ministério da Educação vetasse a adoção nas escolas do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, agora atraíram o movimento negro para sua cruzada obscurantista e retrógrada. Estão submetendo esta questiúncula ao Supremo Tribunal Federal.
Levamos tanto tempo para nos livrar da censura ditatorial e agora esses aprendizes de Dona Solange querem trazê-la de volta! Repulsivo.
Repito o que pessoas familiarizadas com a literatura estão carecas de saber:

Para nunca esquecermos: a abjeta censura, que levava 
o "Jornal da Tarde" a substituir notícias por receitas.

É o sonho das editoras: que, a cada ano, troquem-se todos os livros, maximizando-lhes as receitas. Houve tempo em que eu recebia desses tentáculos da indústria cultural, para escrever pequenas críticas, o pacote anual de lançamentos paradidáticos. Folheava-os e quase vomitava; sentia enorme dó das novas gerações. 
Aquilo servia para torná-las consumistas bem adaptadas a uma sociedade desumana, não para estimular-lhes o espírito crítico e contestatório, como Lobato fazia admiravelmente. Mil vezes melhor para nós seria se a meninada estivesse hoje curtindo O Sítio do Picapau Amarelo ao invés da saga Harry Potter!
Quanto ao movimento negro, que sempre apoiei em suas causas justas --defendi com unhas e dentes as cotas universitárias e sou sempre o primeiro a denunciar a vandalização de templos umbandistas por hordas nazistóides--, lamento muito que se tenha colocado a reboque desses intriguentos de boutique.
Pregar a censura, explícita ou velada, dá péssima imagem a quem o faz. Os antigos companheiros de jornada deveriam lembrar-se de que, quando nós (os brancos revolucionários, seus aliados) chocávamos os racistas fazendo coro com a afirmação de que  Black is beautiful!, havia outro slogan lapidar, surgido nas barricadas parisienses: É proibido proibir!
Nenhum dos dois defasou. Devemos repeti-los sempre, para exorcizar tanto o fantasma da Ku Klux Klan, quanto o de Torquemada.

* jornalista e escritor. http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com