Indústria da soja não vai comprar de quem desmatou a Amazônia

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Monitoramento da safra 2008-2009 descobriu soja plantada em áreas recém-desmatadas; a boa notícia é que as empresas do setor reafirmaram seu compromisso com a floresta,anunciando boicote a essa produção e corte de crédito de quem desafiou a moratória em vigor desde julho de 2006.
Brasília, 14 de abril de 2009 – As principais empresas comercializadoras de soja ligadas à Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e à Associação Nacional das Empresas Exportadoras de Cereais (Anec) anunciaram hoje que não vão comprar soja da safra 2008-2009 que tenha provocado desmatamento na Amazônia. E mais: não haverá crédito para os fazendeiros que desafiaram a moratória, em vigor desde julho de 2006. A reação da indústria é uma resposta clara aos resultados do segundo monitoramento do Grupo de Trabalho da Soja (GTS), que detectou fazendas que plantaram o grão em áreas recém desmatadas na Amazônia.

O anúncio das empresas foi feito durante evento no Ministério do Meio Ambiente (MMA), em Brasília, e contou com a presença do ministro Carlos Minc, do presidente da Abiove, Carlo Lovatelli, de representantes da indústria da soja – como Bunge, Cargill, ADM e Amaggi –, do diretor-geral da Anec, Sergio Mendes, e também das organizações não-governamentais que compõem o Grupo de Trabalho da Soja.

“Quem achou que a moratória não era para valer vai perder dinheiro e mercado. A indústria da soja está dando um exemplo de respeito à floresta e aos consumidores, que não querem ser co-autores da destruição da Amazônia”, disse Paulo Adário, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace. “A medida é ainda uma grande notícia para o governo, que assumiu metas para reduzir drasticamente o desmatamento, e para o mundo, assustado com as mudanças climáticas”.

De acordo com os dados divulgados hoje, na última safra, foram monitorados 630 polígonos em 46 municípios do bioma Amazônia, totalizando 156.714 hectares, tendo sido identificadas 12 áreas com soja em aproximadamente 1.396 hectares de área plantada.

Para as ONGs que integram o GTS, a metodologia de monitoramento mostrou-se eficiente, mas terá que ser aperfeiçoada, já que o padrão de derrubada da floresta na Amazônia está mudando. Segundo análise dos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2002 as áreas acima de 100 hectares representaram 55% do total desmatado na região, enquanto os desmatamentos menores do que 25 hectares ocuparam 20%. Em 2008, a participação de grandes desmatamentos caiu para 22% da área total desmatada e as derrubadas menores que 25 hectares pularam para 47%.

“É inegável a importância do comprometimento da indústria da soja na redução do desmatamento da Amazônia. Agora a indústria tem o desafio de segregar os fornecedores que insistem em desafiar a moratória”, disse Adario. Segundo ele, com isso a indústria atenderá a vontade de seus clientes que não querem contribuir para a destruição da Amazônia e, por consequencia, para as mudanças climáticas.

O Greenpeace cobrou, na reunião, o compromisso assumido pelo governo de acelerar o cadastro das fazendas de forma a permitir que o monitoramento e a identificação dos desmatadores possam ser feitos facilmente, com o uso de mapas de propriedades e imagens de satélite.

Minc reconheceu o esforço conjunto de diferentes setores – como governo, indústria e sociedade civil – para garantir maior proteção à floresta. “Reconheço o esforço positivo e credito a diminuição expressiva do desmatamento a pactos como a moratória da soja”, disse ele. Minc se comprometeu ainda a destinar um excedente de R$ 5 milhões do PPG-7 (Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) para o cadastramento ambiental rural, além de atribuir à resolução do Banco Central de cortar o crédito para quem derrubar a floresta a redução do desmatamento na Amazônia – medida essa que está em constante ameaça por pressão do Congresso.

O Brasil é quarto maior emissor de gases do efeito estufa do mundo devido à destruição das florestas e deve se comprometer a zerar o desmatamento na Amazônia até 2015. O Brasil precisa liderar países em desenvolvimento com grandes extensões de florestas tropicais a assumirem metas concretas para reduzir suas emissões e exigir ajuda para isso na Conferência do Clima (COP 15), que em dezembro reunirá mais de 200 países em Copenhagen. Para evitar uma catástrofe climática, será preciso que, em 2020, os países desenvolvidos reduzam em 40% suas emissões com relação aos níveus de 1990, além de disponibilizar cerca de US$ 30 bilhões por ano para acabar com o desmatamento tropical, que responde por cerca de um quinto das emissões globais.