O CONCEITO DO PRECONCEITO

A questão do interminável conflito palestino-israelense continua na ordem do dia e a provocar reações dos mais diversos tipos, como tenho constatado nos correios eletrônicos para mim enviados. A grosso modo, alguns leitores comportam-se como se estivessem na arquibancada do Maracanã torcendo pelo Flamengo ou Fluminense. Fora das ofensas (pobre da minha mãe, que Deus a tenha...), há opiniões discordantes educadas, mas sempre batendo na tecla do senso comum, seja de um lado ou de outro. Aqui ninguém é dono da verdade, mas é necessário um mínimo de distanciamento emocional, sem dogmatismos, para tentar analisar os acontecimentos.

É preciso acabar de uma vez por todas com o (pre)conceito de que qualquer critica ao governo israelense é antissemitismo (a nova ortografia sem o hífen), da mesma forma que os antissemitas clássicos aproveitaram o embalo para assacarem conceitos racistas com base até no velho e surrado Protocolos dos Sábios de Sião. Para quem não sabe, trata-se de um documento apócrifo, sem base científica, formulado pelo serviço secreto do Czar, no início do século passado, portanto antes da Revolução Bolchevista de 1917, que falava de um suposto domínio judaico mundial, seja no capitalismo ou na luta revolucionária socialista.

O problema é que o tal documento rodou o mundo, foi incorporado a Minha Luta de Adolf Hitler e continua na ordem do dia cem anos depois. Há hoje até alguns setores que se autodenominam socialistas – o tal socialismo de tolos, como diria o insuspeito Vladimir Lênin – que se valem, consciente ou inconscientemente, de tais teses racistas. Ou seja, na prática, o suposto antissionismo acaba nutrindo o sionismo, o nacionalismo judaico que se vale dos antissemitas para sustentar suas teses e até mesmo de chantagens emocionais para descontar em cima dos palestinos, que pelo andar da carruagem estão se transformando nos armênios do século XXI, ou seja, um povo sem padrinhos e que sofreu genocídio por parte do então império Otomano. No caso dos armênios, só agora, depois de quase cem anos alguns setores turcos reconheceram o genocídio.

Enquanto Dona Hillary Clinton, a substituta de madame Condoleezza, começa a dar seus pitacos a favor de Israel, o mesmo acontecendo com o presidente Barack Hussein Obama, o que torna no mínimo complicado os Estados Unidos continuar como mediador de uma crise da envergadura do atual conflito na região, o mundo gira.

No Rio de Janeiro, sob o reinado de Eduardo Paes, o maior jornal carioca, O Globo, continua a enaltecer o tal "choque da ordem". Editores pautam jovens repórteres para saírem às ruas à cata dos mendigos. Os locais são anunciados e no dia seguinte, seguindo a pauta de O Globo, a tropa de Paes recolhe os mendigos, mas ninguém se importa para onde estão levando estes brasileiros excluídos. Setores da classe média que cobram a "limpeza da rua" pouco se importam, da mesma forma que os repórteres e editores, qual a saída que o Poder Público municipal oferece para estas vítimas de um sistema cruel como o capitalista, ainda mais o selvagem.

O Rio está cercado pelos dois lados: a mediocridade estadual e municipal. O Governador Sergio Cabral vai a Davos como figura decorativa e que rasteja em torno dos poderosos do planeta, como é do seu feitio, e que nem sabem quem é a figura. Lula desta vez sentiu os ares e optou pelo Fórum Social Mundial 2009. Menos mal, mas resta saber se pretende colocar em prática o ideário de um outro mundo possível (e necessário, diga-se de passagem) ou ficará apenas na retórica, optando pelo esquema Henrique Meirelles.

Outro fato que vale destacar, e que foi jogado meio para escanteio pela mídia conservadora, é o aniversário do MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terras, que completou 25 anos de luta. E, como sempre, a mídia conservadora tratou de forma preconceituosa o mais importante movimento social brasileiro. Ou seja, os veículos que historicamente sempre tiveram ódio dos brasileiros que lutam pela reforma agrária, não mudaram.

Foi assim em 1964, quando os jornais mencionados e mais outros assacavam injúrias e mentiras contra o governo que instalou o processo mais progressista feito no país até hoje em matéria de reforma agrária, o de João Goulart, derrubado exatamente por defender e levar adiante reformas de base necessárias para a formação de um Brasil mais justo em termos sociais.

Por causa das mentiras e manipulações midiáticas, o Brasil mergulhou numa noite que durou 21 anos, e cujos reflexos continuam presentes até hoje. Ou seja, ainda é necessário se lutar por uma reforma agrária, porque ainda não foi concretizada, uma luta que ganhou novos contornos em função das mudanças ocorridas no país nas últimas quatro décadas. Mas, O Globo, a Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo repetem a história de sempre na base de "se há povo organizado e mobilizado, somos contra".

É por aí que se pode entender o motivo de tanta manipulação contra os movimentos sociais, em particular o MST.
 


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