Histórias do Futebol

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8 da manhã, Renato é cutucado, é sua mãe que o acorda. É hoje que ele vai ter
a chance de realizar seu grande sonho, jogar pelo Grêmio Foot-Ball
Porto-alegrense.É apenas um teste, mas não deixa de ser pelo Grêmio, seu
time do coração.O teste é às 10:30, seu amigo passa daqui a pouco, os dois
irão juntos.

Muitas vezes Renato lembra de seu pai, gremistão fanático.E foi ele quem deu
o nome de Renato ao Renato.Claro, é uma homenagem ao Portaluppi.O maior
jogador da história do Grêmio.Aquele maravilhoso ponteiro, rápido, atrevido
e goleador que deu ao Grêmio título do Mundial em 83, o pequeno Renato
sabia, e tinha como objetivo, e necessidade também, jogar no Grêmio, para
saudar seu pai já falecido e tentar dar uma vida melhor pra sua mãe.

Dona Elsa via em seu filho a possibilidade de uma vida mais digna, e queria
ver Renato feliz e realizado jogando pelo Tricolor.

Aírton chama por Renato no portão:
- Renatooo, vamo lá cara!!!
- Já vai!! - grita lá de dentro Dona Elsa.

...

Já passa da hora do almoço, Dona Elsa está apreensiva, seu falecido marido
queria ver seu filho vestindo a camisa tricolor, era inegavelmente seu
grande sonho.Ela olha aflita para o portão de cinco em cinco minutos.Nada.

A mãe de Renato então, pra se distrair, decide ir lavar a louça, coisa
pouca, afinal ela almoçou sozinha.Sente um vulto passar e logo em seguida um
beijo, claro que era Renato.O guri tinha uma expressão tristonha, e suas
palavras pareciam estampadas no seu rosto:
- Mãe, não passei.

Depois de almoçar a comida requentada de sua mãe, olha pra ela e diz, sem
nenhuma empolgação e até gaguejando um pouco, recebera um convite pra jogar
no Internacional.Dona Elsa abre um sorriso, mas percebe que o filho não está
igualmente feliz.Afinal, era o Inter, jogar no rival, no maior de todos os
rivais, não passava na cabeça do guri.Muito menos na de seu pai.

Renato passou a noite toda pensando no convite, sua mãe deu força, o apoiou,
mas ele não podia fazer aquilo com seu pai.

...

Alguns anos mais tarde, numa tarde de domingo, uma bola é cruzada na área e
Renato sobe incrivelmente mais que todos e manda a gol, uma verdadeira
patada, mas com a cabeça.GOL !! Sem chance nenhuma para o goleiro.O, já nem
tão guri, mas jovem ainda, Renato, corre emocionadíssimo, radiante, em
direção às arquibancadas do estádio. Olha pra sua mãe e beija o distintivo
de sua camisa.

O estádio? Beira-Rio; o distintivo? O do Internacional...

Renato tinha certeza que seu pai via de algum lugar aquilo, e pedia
desculpas como podia.E sentia-se desculpado só de ver sua mãe feliz, e saber
que agora ela vivia bem melhor de que só com a aposentadoria do seu velho.

Histórias como esta cansam de acontecer com Grêmio e Inter, Cruzeiro e
Atlético, Bahia e Vitória, Corinthians e Palmeiras: é quando a paixão por um
clube, tem de ser deixada de lado por causa de uma necessidade, a
financeira.