Os tempos de uma “sobriedade punitiva”

Estamos em uma época onde o sofrimento é confrontado pela moral e reforçado pelo discurso da ética,ambos,mecanismos constituídos objetivando massacrar a investigação da subjetividade que constitui cada um de nós , coagindo as possibilidades em conhecermos aquilo que tanto tememos ver : Nós mesmos .

A exposição do sofrimento,da dor psíquica ainda hoje leva milhares de pessoas a manterem ocultos seus  conflitos, afinal,ainda se tem em relação as neuroses, bem como,a saúde mental,  o  esteriotipo  da “loucura”,imputando  ao indivíduo o sentimento de culpa  fazendo-o esconder-se não apenas das estruturas delineadoras do senso comum, mas,também  de si mesmo, através dos inúmeros mecanismos de defesa, afinal,não nos  dispomos assumir nossas fragilidades,sendo,as mesmas,conceituadas  de “derrota”por uma  sociedade de estruturas conceituais onde todos devemos nos submeter aos  padrões e conceitos que revelam a fragilidade das relações de poder.

Então , nesse instante submetemos-nos às estruturas , fazendo-nos “miseráveis alvos de  nossas misérias”, reféns nós mesmos  e,ao mesmo  tempo,partícipes do masoquismo que necessitamos ter objetivando sentimos-nos vivos em tórridas noites tropicais  e glacias existências.

O sofrimento psíquico indica a verdade do desejo massacrado pela opressão, sendo a mesma indicadora do desejo e na contemporaneidade,buscamos soluções velozes esquecendo-nos que as mesmas são “mentiras” fragmentadas no intuito de manter incautos o que negamos existir. Então , tornamos-nos “majestades assentadas nos tronos do onirismo dourado, dentro de nossos inexpressíveis castelos de areia de areia construídos nos tempos de tão curto reinado. Somos imperadores sobre nossas próprias alucinações em rompantes alimentadas por delirantes  desculpas , quando pensávamos ser alguma coisa sem nada sermos.

Tornamos-nos a loucura sociável,hipocritamente tolerada aos olhos dos que fingem nos enxergar , aplaudindo em nós os seus desejos reprimidos ou mesmo,transferindo
 àqueles que estão emocionalmente expostos ao sofrimento suas neuroses, seus grilos, suas frustrações decorrentes das perdas decorrentes da incapacidade em assumirem-se.Então , projetam no outro , observando tal um vouyer que desfalece de prazer por entre as fechaduras ,mas  continuamente renunciam-se transformando sempre alguém no opróbrio, no  impuro, no resto,no estranho,no perigo iminente,no mal súbito, no que está com prazo de validade vencido e imputa-lhes o título da loucura

Torna-se “simples” definir  diferenças como “loucura”, no entanto se argüirmos o que venha ser isso , ouviremos uma definição que jamais estará próxima sequer daquilo que corresponde a complexidade existencial do indivíduo.A subjetividade, nossos conteúdos internalizados em congruência com a forma própria que cada um de nós tem de lidar com o que é particular poderá ser analisada ,no entanto,jamais poderá ser encerrada em definições ,classificações e transferências.
 
Portanto, podemos compreender nossas dores psíquicas , nossos conflitos internos capacitando-nos na resignificação dos mesmos ,no entanto, jamais conseguiremos arrancá-los de nossa trajetória vivencial , pois,são as nossas marcas impostas pelas nossas escolhas mediante às condições que encontramos para suportarmos o conflito DOR E PRAZER,Vida e morte, Amor e ódio.

Estamos cerceados por medos , solidão , depressão , dependências químicas e emocionais , ansiedades, repressões , castrações , desamparo e desajustes sociais profundos, então, sentimos-nos altamente vulneráveis requerendo das aquisições externas , do consumo patológico o prazer ao qual não conseguimos estabelecer internamente.

Durante as etapas do desenvolvimento psicosexual, os que são  abruptamente reprimidos,  castrados , punidos , mal saciados não conseguindo obter o prazer decorrente da  auto- erotização, impedindo assim, que sintam-se como fontes  geradoras de prazer  para si , necessitam do deslocamento  para o objeto , para as drogas,para os bens de consumo , para o que está exposto sob apreciação e desejo de muitos, aproximando-os da virilidade tão buscada elevando temporariamente  as defesas egóicas, onde o indivíduo imagina poder todas as coisas, assim,colocamos-nos em rota de colisão com o nosso Ser existencial.

Podemos  chamar tal o fenômeno de  Prazer Egóico  Superficial, sendo esse imperceptível  frente as necessidades não satisfeitas , perdendo o “efeito mágico”, resultando no empobrecimento das relações afetivas , o aumento  crescente do número  indivíduos com as mais diversas psicopatologias; o crescimento vertiginoso da violência, o consumo exagerado de substâncias psicoativas , o afastamento da produção cultural , a busca desmedida por prosperidade financeira , a disputa individual por poder , a submissão do homem à tecnologia.

Na contemporaneidade , mas precisamente na globalização, nos deparamos com  propostas rápidas de consolidar tudo que o homem , em toda sua história, sempre buscou e não pode estabelecer .  propostas sedutoras da concretização de uma busca sem critérios . Vivemos o tudo posso , porém nada assumo . Buscamos alcançar tudo aquilo que nossos olhos “desejam” ,mas não conseguimos alcançar o que os nossos sentimentos e emoções necessitam para o contato efetivo com o prazer. Negligenciamos continuamente nossas dores e na tentativa  de ocultar a extensão de nossas feridas negando a compreensão do desejar,do ter e o ser sendo que  frente as constantes frustrações, o indivíduo retoma  o processo de uma busca incessante desencadeando a si mesmo inúmeros transtornos, sendo isso,bem evidenciado nas personalidades obsessivas-compulsivas   e  comorbidades.

Introjetamos a onipotência , a onipresença e a onisciência na tentativa em exercer o total controle sobre a realidade como forma de não ter contato com nossos horrores, não suportamos em nos deparar com nossas próprias fragilidades, tornando aprazível  contemplar o fracasso ou seu extremo sucesso   nos outros  como forma de negar as nossos próprias derrotas e feridas.

O encantamento é o prenúncio da auto-renuncia que, muitas vezes, consiste na forma patológica onde, a busca do amor objetal,  possibilita-nos a ilusão do encontro com nós mesmos  à  partir  do outro.

Estamos em um período onde as exigências estéticas , culturais, sociais ,políticas e econômicas constituem a unificação e o delineamento de uma maneira de pensar ,viver e sentir  coletiva.Para fazermos parte dessa engendrada estrutura nos é necessário a aprovação social , onde “cada um é o outro e o outro não é ele mesmo”, constituindo assim um processo contínuo de fragmentação da personalidade sendo nós,as própria vítimas. 

Volto sempre a afirmar que viver é biológico, torna-se muito simples para uma espécie tão complexa como a  nossa . Basta-nos manter a respiração e pronto, estamos vivos, mesmo que, vegetativamente  .

Existir está  na complexidade  do fenômeno psíquico . No existir estão as crises não aceitas como desígnios  do destino , das “forças espirituais”ou outras grandes  crendices tolas e vazias, dessas que  buscamos para  justificar , amenizar as circunstâncias .

Ser nós mesmos consiste na elaboração daquilo que somos, ou não; daquilo que sentimos ou não; daquilo que gostamos  ou odiamos. Portanto, os parâmetros autoritários nada mais são que possibilidades efêmeras em instituir a castração através dos mecanismos de defesa em relação não àquilo que suportamos, mas em relação ao que o outro não suporta em si mesmo, transferindo seus horrores , suas inaceitações , suas frustrações transformando o que chamam de loucura, na justificativa massacrante do desejo fundando assim o senso comum,que irá ser visto frente a intencionalidade do discurso : “Fulano é um louco”,Isso é loucura, sandice etc e tal , objetivando o exercício  de controle sobre a realidade.
 
Para a cultura ocidental o debate sobre a loucura pode ser suspeito,pois por detrás do mesmo existe aquilo que menos deseja-se compreender, aquilo que desejam sistematizar em torno de classificações “homogêneas”, desmerecendo a multiplicidade constitiuinte da subjetividade da história vivencial do indivíduo , gerando a concepção da polaridade normal –anormal, tentando estabelecer um campo específico da ação clínica onde nos depararemos com imprecisões ,limitando a compreensão do fenômeno psicopatológico relegando ao mesmo o obscurantismo,ao misticismo e aos estigmas   afastando a compreensão da história dos indivíduos.

A loucura abala as relações de poder, pois o mesmo somente é poder em virtude das fragilidades que o constitui. Assim as estruturas de repressão são articuladas objetivando recalcar os gritos ,os olhares e as profundas manifestações  que conhecem tão bem, que prefeririam desconhecer. Lidar com as diferenças é uma questão árdua, pois perturba a familiaridade próxima  com a “loucura” e , nesse momento,o mesmo e o outro se confrontam na tentativa em  massacrar a diversidade impondo às mesmas certezas tão abaláveis.
Então, impor o olhar determinista da cura,consiste no assassinato psíquico daquele que de tão livre e vivo,incomoda-nos,pois,estamos encarcerados e um tanto quanto limitados.

(...) nossa sociedade não quer reconhecer-se no doente que ela persegue ou que encerra; no instante mesmo em que ela diagnostica a doença, exclui o doente. As análises de nossos psicólogos e sociólogos, que fazem do doente um desviado e que procuram a origem do mórbido no anormal, são, então, antes de tudo, uma projeção de temas culturais. Na realidade, uma sociedade se exprime positivamente nas doenças mentais que manifestam seus membros... (Foucault, 1984, p.74).

Nunca a psicologia poderá dizer a verdade sobre a loucura, já que é esta que detém a verdade da psicologia.

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS