PARA ALÉM DOS LIMITES

O movimento acelerado dos tempos atuais chama nossa atenção para múltiplos aspectos. Por um lado reafirma idéias como conforto, progresso... Realmente o homem dispõe de maior tempo de vida, ao menos nos países mais adiantados, onde a longevidade já nos conduz bem próximo da possibilidade de se chegar aos cem anos de idade. Pensando-se que na Idade Média vivia-se menos do que meio século, houve um grande avanço em campos como na medicina, na engenharia de alimentos, na ampliação dos meios de higiene, enfim, temos possibilidades de viver uma vida mais longa em virtude de melhores cuidados físicos e também mentais. Digo mentais pois houve um grande avanço de conhecimento quanto ao psiquismo humano.

A Psicanálise trazida por Freud, quando lançou “A Interpretação de Sonhos” , em 1900, já percorreu uma extensa caminhada através de investigações clínicas e formulações teóricas que hoje em dia, com as transformações ocorridas na sociedade, com as novas formas de relacionamento, com os atuais modelos político-sociais, tornou-se possível uma indagação: a Psicanálise praticada por Freud é a mesma que a praticada na atualidade, ou falamos de uma outra Psicanálise quando, por exemplo, inserimos formulações de Lacan ou de Bion, para citar autores de proeminência e de percursos diferentes?

Mas... há uma aceleração que precisa ser pensada. Justamente aquela que busca ultrapassar limites, colocar-se numa região perigosa que pode defrontar o homem com a morte. Existem esportes que servem a tais situações – que são denominados de esportes radicais. Os alpinistas, os que saltam de cordas elásticas sobre abismos, chamado de Bungy jumping , os velejadores que atravessam os mares enfrentando ondas bravias, os corredores nas pistas de corridas, os atletas malhadores na conquista de formas corporais consideradas atraentes, tudo isso faz mobilizar o desejo numa tal intensidade que ele não encontra um ponto de parada.

Esse excesso se, por um lado, impede o ganho de pequenos sentidos, por outro lança a pessoa numa corrida desenfreada a um lugar do nunca alcançável. Alcançável em significação, em estado de satisfação provisório que permite usufruir sentimentos e conhecimentos.

Quantos não se viram numa situação de angústia ao presenciarem tais situações, a viverem mesmo que através de uma tela cinematográfica tais audácias?

Se caminharmos um pouco mais e olharmos para a força empregada com a finalidade de conquistar tal condição, poderemos perceber que os fins estão sendo justificados pelos meios. O fim é o prazer em alto nível, um estado de gozo pleno, de tesão contínuo. Para isso temos toda uma farmacopéia que se expressa desde as drogas menos comprometedoras até aquelas de forte interferência no sistema nervoso central. Aí estão os anabolizantes, as anfetaminas, a maconha, a cocaína, o Prozac...

A questão aqui não é de ordem moral, o que significa dizer que não se está defendendo o uso ou não uso desses meios. A questão está sim em se analisar um sintoma que se amplia no meio social, o que torna os micro movimentos de uma sociedade, os ganhos contínuos resultantes do trabalho, algo pouco atraente e, mais ainda, gerando verdades que irão justificar um modus vivendi alternativo, o que muitas vezes se aproxima de meios perversos e socialmente desonestos. Seria o mesmo que impor uma “sociedade avacalhada.”

O valor deixa de estar na construção do sentido, para se deslocar justamente para um lugar virtual. Permanência de um lugar vazio, de um buraco contínuo que somente cessa de existir e de insistir no momento em que o impacto ocorre. Nessas situações, que ora se descreve, a corrida se dá para tamanha intensidade de angústia que o indivíduo experimenta, se não a morte biológica, algo da ordem do indizível.

Se olharmos o imaginário social vamos encontrar figuras inspiradoras desses fortes afetos. Pode-se pensar em que a guerra do Iraque afeta o equilíbrio dessas forças internas a cada um. Nossa participação nos atos de violência enquanto pessoas que assistem, que fruem as lutas. Em que tais lutas justificam as contradições de amor e ódio vividas entre as pessoas, no âmbito das famílias, no âmbito das sociedades?

O que podemos afirmar é que tais questões têm uma função no equilíbrio ( ou desequilíbrio ) mental das pessoas, das sociedades. Essa é uma contribuição da Psicanálise. Nesse jogo de dentro e fora, de interior/exterior estamos todos implicados.

Assim, a questão da violência ganha um olhar diferente quando somos levados a outros vértices de análise que não aqueles ditados pelas ordens jurídicas, pelas normas de segurança.

Não se extermina a violência, nem a droga. Mas se reconhece sua função, se traz à luz o papel que desempenha tanto na história pessoal quanto nas tramas que se foram criando na sociedade para gerar suas condições de convívio.

O fantasma tem de ser reconhecido .

Dizia Freud que ao se lidar com as forças inconscientes precisamos identificá-las, dar-lhes um nome. O mesmo dizem certas religiões – reconhecer, nominar aquilo que perturba. O nome é revelador. A partir do nome toda uma transformação pode ocorrer.

Agora, retomando-se a questão desses “heróis” atuais que encarnam as figuras que expressam o prazer no seu mais absoluto estado, que podem ser reconhecidos na vida de personagens como Elvis Presley, Jimmy Hendrix, Jim Morrison, Judy Garland, Ayrton Sena, James Dean, Marilyn Monroe. Podemos perguntar o que conduziu pessoas tão talentosas, tão conquistadoras de sucesso, a um final trágico.

Não se trata, em termos do pensamento atual, de uma complexidade. Trata-se mais de uma confusão, de um desejo de re-instaurar uma idéia primária de completude, quando vivia-se um período indiferenciado. Daí a ausência do nome. Tais personagens procuram encontrar o “barato” da experiência, num inominado que ao mesmo tempo permite todas as denominações, o que nunca pode ser traduzido num nome, mas que, em muitas dessas experiências acaba por atingir esse absoluto e mostra-se exclusivamente na morte física.


Experiência impossível de ser trazida.


O Sétimo Selo , Ingmar Bergman

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