“POETAS DO TEMPO”

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Queridos leitores do jornal “  O Rebate”, trago está semana a poesia de um grande “viajante” de nossa contemporaneidade, José Carlos Farias, o poeta Malungo, com sua poesia impregnada
de psicodelismo, luzes coloridas e flash’s da periferia, Malungo/PE nos faz pensar em novos “temperos”, pra escrita e para um mundo menos miserável.  Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

OBRA VERSIFICADA
NÃO IDENTIFICADA

Ao som de um hino evangélico,
Surge um boi mameluco; boi de fita.
Um boi maluco, psicodélico; que rumina
Saudades e defeca solidão.
Xabu nos computadores e o mofo deu nos cd's.
Deu o zererê, cachorro em 90: bundalelê

...E o artista continuou discriminado
e jogado a boléu.

Fidalgos mendigos jantando pão com pão
no cinco pontas.
...E lá se vai a tua cabeça a boiar
nas águas do Capibaribe.
Ela está bêbeda por ter enchido a cara
de vinhoto no bar Savoy.

Ela está inchada pela derrota
do time do coração...

Mas pula da água suja pro calçamento
escaldante e sai dançando
ao som de um maracatu

afrociberdélico pela rua da Imperatriz.
Todos os termômetros da cidade
enlouqueceram!

Eles marcam zero grão de terra
na cara dos sem.

E vem você de novo,
fazendo bamburim de xoxota.

Pena que você não nota
que o prêmio é dividido por mais de cem:

Uma tuia de machos esperando
numa fila sem fim.

Derrubei a grande estante
por cima dos bacharéis!

Eles são senhores, caros senhores;
Valendo pouco mais de dois mil réis.
Um verso perverso, louco;
Como o gato de Alice
e o seu sorriso sacana.

Catedráticos de fama se estarrecem.
E os mendigos do Brasil
Com suas roupas de amianto agradecem.
a-gra-de-cem!!!


CARROCEIRO TRANSCENDENTAL
Lá em Peixinhos, a arte mora na favela.
As bandas, o lixo do Beberibe: É o groove suburbano!
Goiamuns plugados se esbarram nas vielas.
Todas as orelhas do mundo viradas para Recife.
Só aqui, não se ouve o novo som Pernambucano.
A luz do sol se reflete nas águas sujas do rio
(nos zincos dos barracões).
Urubus dão rasantes nas montanhas de lixo.
Nas carroças ferro velho, tralhas e papelões,
Carne de rato; pés sujos nos telhados da consciência.
Mocambos, almas encardidas
e balas perdidas sem clemência.
Geladeiras incandescentes iluminam a tua cozinha.
Paredes transparentes revelam as terceiras intenções.
Coloque o plugue e peça linha.
Viaje chutado, num burro sem rabo
rumo a outras dimensões.

MEUS OLHOS EM MANHATTAN

(flashes de terror)
Na luz da manhã, as aves turbinadas:
Fanático mergulho surreal.
Kamikazes e passageiros voando para o fim.
O alvo se aproxima rapidamente;
Explode tudo em nome de Alá.
As cabeças dos irmãos em chamas;
A fumaça irrita os olhos de São Pedro.
Gritam Help (S.O.S em desespero).
A Águia se debate entre os dentes do Leão.
Tudo ruindo; como um sonho mau diante
de todos.
A pedrada e o Golias; inesperada queda.
Fogo; e as torres desmoronam
Inacreditavelmente
Pelos olhos da TV.
O Grande Satã, o pó e as cinzas
passeando pelo ar.
Babel se cala numa nuvem surda de
fumaça e sangue.
Sementes e plantações:
Colheita de frutos amargos bumerangues.
Ganância, maldade e prepotência.
Em todo mundo desfila uma fome digital.
Bombardeios matando pessoas inocentes.

COMPUTADORES A LENHA, CHIPS A VAPOR
Mãos analfabetas folheiam cordéis digitais.
Paralíticos binários dançam
cirandas ancestrais.
Os alto-falantes vomitam
os sons dos sintéticos baiões.
Um bando alienando o povo
com seus forrós charlatões.
Neurônios, fios e tomadas.
Circuitos e impulsos nos pés
Dançando em maracatu elétrico.
Das mãos saem faíscas;
Palmas pro coco de roda!
Um pensamento plugado na eletrosfera
E um cérebro iluminando quarteirões.