DILMA, DAVOS E CUBA

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A principal característica da mídia de mercado no Brasil e no mundo de um modo geral é com quinquilharias. O jantar de Dilma em Portugal, a escala técnica do avião da presidente em Portugal. Os dois hotéis onde se hospedaram a presidente e os ministros que a acompanharam a Davos e depois a Cuba para a reunião do CELAC.
A propósito dos assuntos tratados linhas pessimistas, notícias alarmantes, pronunciamento do general Chagas conclamando ao golpe e dizendo que as Forças Armadas estão vigilantes. A direita paulista ensandecida queimando fusca de trabalhador.
Esse tipo de mídia não tem nenhum compromisso com o Brasil, com os brasileiros. Apostou em vender alienação no mercado do ser humano transformado gradativamente em rês. A grande preocupação é com o BBB e sobre quem seria ou não eliminado. O grande espetáculo, o banho de piscina com brothers e sisters nus,
O governo Dilma é passível de críticas, e muitas. Exceto quanto ao caráter da presidente. Em meio a todo esse noticiário de armarinho vendendo agulhas e baixando os preços das calcinhas, a presidente veio a público e esclareceu de forma dura e enfática. Nem cartão corporativo, nem dinheiro do tesouro, “eu pago as minhas contas”.
Imagino os artifícios e esforços que o padrão Diogo Mainardi, ou Merval Pereira, o imortal que ninguém conhece, a língua ferina e viperina de Miriam Leitão, o cinismo de William Bonner e seu JORNAL NACIONAL de mentiras e trucagens, omissões e disfarces, imagino, faz para manter o “nível de qualidade” das farsas diárias e das análises e ficções sobre o Brasil e o governo.
Esse tipo de mídia sequer percebeu que o discurso de Dilma em Davos foi de capitulação total e absoluta ao capitalismo, ao que chamam de nova ordem, ao mesmo tempo que renegava políticas intervencionistas na área econômica, embora as faça num ou noutro momento.
E que sua presença em Cuba na reunião do CELAC foi contraponto do estilo Lula, uma no cravo, outra ferradura.
O governo Dilma não tem politica externa e por aí a mídia apenas tangencia, pois essa ausência agrada ao que William Bonner chamou de “nossos amigos americanos”.
É nesse vácuo que o País vai perdendo sua posição de país decisivo no contexto da América Latina, à medida que ignora a Venezuela, a Bolívia e olha meio que rabo de olho para a Argentina. Não percebe que o processo de integração latino-americana é essencial para a sobrevivência e para o crescimento efetivo, na direção de justiça social e reformas estruturais indispensáveis.
Nem percebe a importância da política externa para que internamente possa se afirmar e alargar os horizontes do Brasil. Afastou-se do Irã, governo com quem Lula mantinha ligações mais estreitas e muito menos percebeu as mudanças naquele país com o novo governo e o acordo sobre energia nuclear. O Irã foi buscar 78 bilhões de dólares em investimento e está saindo com perspectivas de mais de cem bilhões.
Tudo isso dentro da estrutura capitalista, perversa e que leva o presidente de uma gigante do mercado farmacêutico a declarar que “não produzimos remédios para indianos, mas para ocidentais que podem pagar”. A BAYER, que foi uma das financiadoras do golpe de 1964 e da construção do aparelho repressor – DOI/CODI – que torturou e matou centenas de brasileiros que se opuseram à barbárie militar.
Na primeira página da FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 29 de janeiro, uma das preocupações é ensinar sobre se arroz deve ser cozido com a panela destampada, se é ruim guardar ovos na porta da geladeira e se cebola colocada em molho de água reduz o ardor dos olhos.
Uma foto de Dilma conversando com Fidel Castro, ali chamado de ex-ditador. É óbvio que não existe dicionário na FOLHA e nem alguém que conheça história e se existir omite, distorce e mente. Com direito a algumas mínimas exceções – colunistas. E alguns assim mesmo.
O pedido de asilo para Edward Snowden, nem pensar. Desagrada as “nossos amigos americanos”.
A fragilidade da oposição não significa que Dilma vá ser reeleita sem problemas. A mídia podre e venal de mercado é forte. É o principal partido de oposição no Brasil. O discurso colorido de um dos netos, o de Miguel Arraes, Eduardo Campos, pode criar complicações, pois o discurso empoado de Aécio parece fadado ao fracasso. Não tem o brilho intelectual de Tancredo Neves e nem a sabedoria política. Já o governador de Pernambuco tem sem-vergonhice de sobra para falar qualquer bobagem que agrade ao eleitor e a mídia principalmente. Espera ser catapultado a um eventual segundo turno montado nesse setor da vida política brasileira.
Ou Dilma mostra a cara do seu partido e sua história, ou corre o risco de num segundo turno ficar difícil definir quem é o menos ruim, logo, o tolerável. Quanto a pagar a sua conta, não há dúvidas. Seu problema não é de caráter, é de malabarismo e é por aí, nos escorregões e tropeços de alianças inacreditáveis que pode cair da linha que escolheu para equilibrar-se.