A "NOVA" AMÉRICA LATINA E OBAMA

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Barak Obama ligou para Lula e manifestou "apreço" pelo Brasil. Quer uma "extensa agenda de negociações" com o presidente brasileiro. Pelo menos seis secretários de Obama são sionistas. Lula aceitou ir conversando e conversando chegaram ao Haiti, onde o Brasil mantém tropas e detém o comando nominal das forças de intervenção da OEA – Organização dos Estados Americanos –. Não falaram sobre a suspensão do bloqueio político e econômico a Cuba. Lula, no dia da posse de Obama, manifestou publicamente esperanças que o norte-americano venha a suspender o cerco àquele país.

A idéia do Brasil receber presos da prisão de Guantánamo é descabida. O ato do presidente dos EUA determinando o fechamento da prisão e a suspensão dos "métodos de interrogatório especiais" – tortura – já sugere que os "presos" na base militar em Cuba (território ocupado) o foram ao arrepio da lei. Há uma admissão implícita dessa ilegalidade e da prática desses métodos de interrogatório. Incluem "falsa asfixia". Significa que o preso acredita que está sendo asfixiado, vai morrer e confessa que matou george bush.

A sensação que Lula causa em muitas de suas decisões é a de um peru em véspera de Natal. Zonzo, tonto, fazendo piruetas em torno de si mesmo e de repente é só sensação. Não há conseqüência em determinadas políticas do presidente brasileiro. Muitas coisas soam fachada. Exercício de retórica e políticas tipo quero voltar em 2014.

Os norte-americanos têm problemas sérios na América Latina. O império em crise se sustenta no modelo político e econômico que chamam de nova ordem mundial, mas é a mesma de tempos outros com nova roupagem. Necessita manter o controle de países chaves na região. O Brasil é o principal deles, mas a Venezuela de Chávez também por conta do petróleo.

A vitória de Evo Morales no referendo sobre a nova constituição da Bolívia reforça a posição do presidente e abre espaços para sua reeleição. A perspectiva de uma crise política grave na Bolívia, tentativa de golpe de estado é outra realidade. Elites bolivianas, como qualquer elite latino-americana adora Miami. Ou despejar dólares nas mesas de Lãs Vegas. Ou tirar retrato diante do letreiro de Hollywood. Neve em New York. Não são necessariamente colonizadas. São apátridas, capatazes de luxo, bem remunerados.

Os anos de intervenção militar no Haiti depois de um golpe de estado orquestrado pela Casa Branca não levaram o país a lugar algum, não construíram coisa alguma. Continua sendo o país mais pobre da América Latina, com os mesmos problemas dos tempos de Aristides. As tropas da OEA cumprem o papel de polícia. Força repressiva.

Há problemas com o governo da Nicarágua, do ponto de vista dos EUA. Com o novo governo de Honduras. A vitória da esquerda em El Salvador. Lugo no Paraguai e Corrêa no Equador. Não são governos dóceis aos norte-americanos, acostumados a tratar essa parte do mundo como América Latrina.

Os "métodos" democratas são bem diferentes dos métodos republicanos. Os tucanos por aqui têm o perfil de democratas. Soam civilizados, mas são bárbaros que aprenderam a comer de garfo e faca e perceberam que o fogo não se presta apenas a fogueiras para queimar trabalhadores. Ainda que façam esse uso dele.

Obama traz consigo, pelo menos nesses primeiros momentos, a chama de ser o primeiro negro presidente dos EUA – o país mais poderoso do mundo – e encarnar os "sonhos" de mudança.

Há dois componentes nesses "sonhos". O primeiro deles o de povos de outros países enxergarem nos EUA a solução dos problemas de seus respectivos países. A mídia cumpre papel decisivo nesse processo. Vende a matriz. O segundo o reconhecimento da importância dos EUA. Vale dizer, não sabem como caminhar ou temem caminhar sem a bênção dos ianques. Um é conseqüência do outro. Um sonho que acaba sendo  um pesadelo.

Venezuelanos, bolivianos, cubanos, nicaragüenses, equatorianos, paraguaios, boa parte dos hondurenhos, salvadorenhos já decidiram caminhar pelas próprias pernas em função de seus interesses. Brasileiros votaram em Lula duas vezes imaginando que seria assim. Ora é, ora não é, no fundo continua a mesma coisa.

A perspectiva de um presidente como josé serra, governador de São Paulo, as eleições presidenciais serão no próximo ano, agrada aos EUA e particularmente aos democratas. fernando henrique é homem de confiança do partido de Obama.

Vai ser dolorosa a descoberta que Obama é apenas um negro de alma branca. Pode ser demorada ou não, depende do sabão em pó que a Casa Branca vai usar para manter a imagem de enviado dos céus do novo presidente.

As políticas básicas dos norte-americanos não mudaram em nenhuma das decisões de Obama. As tropas vão sair do Iraque, mas gradativamente. No Afeganistão devem chegar mais soldados. Palestinos continuam à mercê do estado terrorista de Israel. Isso mesmo sendo Obama, Barak Hussein Obama.

Obama disse a Lula que quer discutir com ele a política brasileira de bio-combustíveis. É mais ou menos você não saber se índio quer apito e ficar na moita esperando para ver o que de fato o índio quer.

É só jogar a rede depois. Obama sabe que Lula no próximo ano é como os americanos chamam, um pato manco. Seu último ano e sem direito a um terceiro mandato.

Lula vai ter dificuldades neste final de governo. O modelo voltado para as exportações e plantado no agro-negócio está indo à deriva. O Brasil exporta cada vez menos. Os saldos foram favoráveis por conta dos preços. Exporta-se menos a preços mais altos.

Há muita gente parando de comprar e o "fabuloso" mercado chinês parece ter dado uma freada. Continuamos basicamente exportadores de matéria prima mesmo com algum ganho em tecnologia em outras áreas. Ainda assim somos um País dependente.

O "capitalismo a brasileira" de Lula não chegou ao fim do túnel, a luz está apagada ou não está visível e Lula tem poucas cartas nas mãos, ainda que as tenha. Tudo vai depender de quantos coelhos Obama vai conseguir tirar da cartola na crise que assola seu país, gera altos índices de desemprego e falências. Se a resposta não for rápida vira presidente de um mandato só e enterra conquistas dos próprios negros norte-americanos. Arrasta muita gente. 

Nos momentos de crise, nas emergências, os norte-americanos se lembram de chegar com os navios carregados de chicletes, um monte de geringonças que brilham, acendem e apagam a um toque (a pilha ou bateria é por fora, não está no pacote) e desandam a mostrar uma fantástica vontade de "ajudar".

Tem sido assim historicamente. 

Ou Lula acorda ou Barak Obama vai pavimentar o caminho para os tucanos e no primeiro ano de um governo seja serra ou aécio leva todo mundo no cartório e passa e escritura. E o Brasil ainda paga o imposto de transmissão de bens inter espertalhões. Cortesia da casa.

E acordar significa perceber que esse modelo está falido. Não leva a lugar nenhum. O caminho do Brasil é o caminho dos povos latinos. Não passa por Miami, Las Vegas, Hollywood ou New York. Quem gostava muito de Miami era Sérgio Naya, especialista em desabamentos. Ou a turma da Barra da Tijuca.

Quem gosta desse processo de recolonização são os barões da FIESP/DASLU. Um modelito usado por Michele Obama já deve estar a venda para o gáudio e a felicidade das enrugadas senhoras quatrocentonas no melhor contrabando e com garantia de originalidade.

Todo mundo vestido de Obama. 

Não é por aí. O "libertador" sinaliza para um lado, faz que vai, mas fica no mesmo lugar, só cria expectativas enquanto vai cimentando o processo vaselina no lugar de areia.

Já imagino a disputa encarniçada de madames e "madamos" por eventuais convites de um certo jantar, lógico,  no dia que Obama vier ao Brasil. A GLOBO nesse dia vai ao delírio e Miriam Leitão vai precisar ser amarrada à cadeira, do contrário dá uma de fanzoca explícita e histérica.

"Grita o nome do Cauby/ e depois de desmaiar/pega a Revista do Rádio e começa a se abanar"... 

Obama é só um mascate dos EUA e seus interesses com a mala cheia de truques e mágicas. Mas só truques é mágicas.  O ingresso para o show é caro, caro demais.