"TÁ TUDO DOMINADO"

A decisão do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) de deixar o País diante da incapacidade do governo estadual do Rio de Janeiro de garantir sua integridade física e de sua família, face às ameaças das chamadas milícias que controlam o estado, mostra a falência das instituições.

Um representante do povo, eleito com expressiva votação, autor de denúncias contra o crime organizado, não encontra amparo onde deveria encontrar para que suas denúncias - todas comprovadas - sejam apuradas e transformadas em ações efetivas de combate a bandidos.

O estado do Rio de Janeiro é vítima de sucessivos governos corruptos e comprometidos com o crime organizado, ou por ligações diretas, ou por omissão. O último governador fluminense a enfrentar esse tipo de organização foi Leonel Brizola. De lá para cá o crime impôs a lei do "tá tudo dominado".

Milícias são "organizações" formadas basicamente por policiais militares, civis, pistoleiros a serviço de empresários, quadrilhas do tráfico, que cobram propina para garantir a integridade de cidadãos e seus negócios. Aquela velha história dos tempos de Al Capone em Chicago. A "proteção", como chamavam, ou o "seguro", contra assaltos e prejuízos outros.

Quem não paga sofre as conseqüências e muitas vezes é executado para servir de exemplo. Não raras UPPs - Unidades de Polícia Pacificadora - se viram envolvidas nessa prática.

Um negócio assim, que quando o traficante passa o policial olha para outro lado. Não é com ele, exceto o pagamento no final de semana.

O assassinato de uma juíza mostrou o grau de poder das milícias e a falência do Estado como instituição.

As características do governo Sérgio Cabral não diferem das do governo do casal Garotinho. São quadrilhas distintas. Mas quadrilhas.

O saque contra o Rio de Janeiro - o estado - é pleno e absoluto, a insegurança é uma realidade e aquele assalto pé de chinelo transformou-se em uma grande "empresa", que encontra eco e apoio em setores do próprio Judiciário, omissão do Legislativo e complacência do governo Cabral.

Uma das grandes especialidades do governo Cabral, aliás, é legalizar ilegalidades através do escritório de advocacia onde sua mulher é sócia. Caso da casa do apresentador de tevê Luciano Huck, em Angra dos Reis. Construída em área de preservação ambiental não teve problemas para obter os documentos necessários, algo assim como habite-se. Recorreu aos serviços do escritório da mulher de Cabral e pronto.

Grupos empresariais como o de Eike Batista são hoje os principais acionistas de um complexo que em poucos anos terá devastado todo o Rio de Janeiro, ferido todas as leis ambientais, levando situações de gravidade sem medida e garantindo um "futuro" de caos, o que geralmente chamam progresso.

É apenas privilégio deles, pois exclui a imensa e esmagadora maioria da população e se volta apenas para interesses dessas elites.

Se a decisão do deputado Marcelo Freixo - cujo crime é ser íntegro no cumprimento do seu mandato - se materializar, ou seja, se o parlamentar e sua família buscarem abrigo num país europeu, é um claro caso de necessidade de intervenção federal no Rio de Janeiro.

Há dias, num batalhão da Polícia Militar - adereço do crime organizado e das elites - criado e construído para servir de prisão a policiais militares acusados de quaisquer crimes, chamado de "colônia de férias", um carregamento de cerveja foi apreendido (por acaso, denúncia anônima). Serviria para uma das muitas festas que ali acontecem.

Numa demonstração de força - que não existe, é só para inglês ver e diante do fato tornado público - os policiais criminosos foram transferidos para o sistema presidiário de Bangu. Vão ficar lá, com certeza, até que tudo seja esquecido e possam retomar o antigo esquema, na "colônia de férias".

A cerveja fora encomendada por um tenente envolvido no assassinato da juíza.

E, provavelmente, terá vinda de algum mercado, ou supermercado, ou distribuidor, como parte do pagamento de "proteção" feito às milícias.

É difícil imaginar um quadro pior.

É válida e perfeita a expressão popular "tá tudo dominado".

Para alguns integrantes do governo Cabral a decisão do deputado é fricote. É a típica reação de políticos corruptos incapazes de explicar ou impossibilitados de o fazer, refiro-me a omissão e cumplicidade.

Para outros é puro exagero.

Para as vítimas da milícia - que não podem falar - é uma realidade encontrada a sete palmos abaixo da terra.

A dimensão dessa falência institucional não se aplica apenas ao Rio. No Espírito Santo o crime organizado monta plantão no palácio do governo onde um figurante Renato Casagrande segura a caneta para o chefão Paulo Hartung.

Em Minas e em São Paulo duas aberrações políticas, Geraldo Alckimin e Antônio Anastasia pontificam na corrupção e nos desmandos.

O ex-presidente Lula costumava dizer que uma das necessidades do País era de uma Assembléia Nacional Constituinte. A tarefa prioritária seria a de refazer o institucional remendado com a Constituição de 1988, sob a tutela do regime militar que se encerrava.

É uma luta que não será travada nos limites desse institucional. Mas na necessidade dos partidos e movimentos populares virem às ruas e garantir o futuro de cada cidadão, inclusive dos seus representantes que não se submetem aos donos, aos chefões. Do contrário Sarney, que tomo aqui como símbolo dessa degradação, vai imortalizar-se nele e em outros que virão, tal e qual antes dele, ACM, ou FHC.

"Tá tudo dominado" sim.
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