AH! ESSES INTRÉPIDOS PARAQUEDISTAS

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A reação dos golpistas de 1964 às pressões populares pela abertura dos chamados baús da ditadura tem sido no mínimo histriônica, ainda que perigosa e encontrando ecos visíveis dentro das forças armadas.

O que é incompreensível. Uma instituição carregar o peso histórico de uma atitude vergonhosa, o golpe de 1964 e de procedimentos, digamos assim, que mergulharam o Brasil numa noite sombria e cheia do sangue arrancado nas câmaras de tortura da repressão impiedosa e covarde.

O que pretendiam os militares que saltaram de paraquedas em comemoração ao golpe militar? Mostrar vigor, força? Ou desafiar um governo que não enfrenta o problema de peito aberto, mas contorna-o, mantendo a impunidade de torturadores?

1964 é mancha que nunca será apagada da História do Brasil e nem pode. A punição dos torturadores é fundamental para que o País possa, de fato, encontrar perspectivas democráticas. Dentro do quadro atual temos uma democracia consentida e como tal não temos democracia alguma.

Sobral Pinto, quando detido num quartel em 1964, explicou a um desses coronéis da tortura que democracia "não é como peru a brasileira, ou é democracia, ou não é".

As manifestações que ocorrem todo o Brasil exigindo a punição de militares que comandados de fora para dentro derrubaram um governo legítimo e instauraram um governo de terror, refletem o repúdio à tortura e a barbárie e não podem ser incorporadas pelas forças armadas como um fato restrito a grupos políticos contrários ao golpe e hoje com presença na vida nacional.

É o direito à verdade.

Os intrépidos pára-quedistas que saltaram comemorando o golpe escondem a coragem diante dos presos indefesos nas câmaras de tortura numa demonstração vazia de covardia, escondidos atrás da saia de uma anistia feita exatamente para torná-los impunes diante dos crimes cometidos.

Não há coragem nesse tipo de atitude. É um claro desafio ao governo, uma cusparada no rosto de cada brasileiro, de cada família de desaparecido, de cada torturado, no túmulo - os que existem - de cada uma das vítimas da barbárie militar.

O que fez um estudante diante do Clube Militar no Rio de Janeiro foi apenas manifestar o asco diante dessa covardia.

Saltar de pára-quedas com a bandeira do Brasil aberta não é uma atitude de coragem, pelo contrário. Esse patriotismo não é o mesmo de militares dignos como Teixeira Lott, Moreira Lima, major Cerveira, capitão Lamarca e outros tantos - milhares - expurgados no golpe traiçoeiro e ditatorial.

Bazófia!

São corajosos e determinados quando conseguem colocar adversários políticos indefesos em paus de arara. Tratar-lhes a choques elétricos. Estuprá-los. Assassiná-los e desovar seus corpos na covardia dos falsos atropelamentos ou resistência à prisão, nos caminhões da FOLHA DE SÃO PAULO, o jornal da DITABRANDA.

O conhecimento dessa história é decisivo para que se possa fazer desabrochar a democracia substantiva que até hoje não encontramos e que passa por ampla participação popular, à revelia de um modelo político e econômico moldado segundo os interesses dos mesmos grupos que financiaram e mantiveram o regime de 1964 e foram decisivos na repressão brutal e estúpida.

O que o governo Dilma vai fazer diante de tantos desafios? Não sei. Lula tinha o hábito de uma no cravo e outra na ferradura. Dilma, segundo alguns dos seus ministros, o de gritar com subordinados.

Que grite então com os insubordinados que teimam em manter 1964 como página em branco de nossa história. Que desafiam as tentativas de contar cada página desse período sombrio em gestos como os saltos de pára-quedas a pretexto de mostrar uma valentia que não têm, exceto quando diante de indefesos.

O Brasil ao longo de sua história viveu períodos agudos, nos quais decisões importantes se fizeram necessárias. As forças populares têm o desafio de organizar e mobilizar as massas à medida que o mundo institucional não é nada além de um clube de amigos e inimigos cordiais.

Não se trata de um espetáculo grotesco de pára-quedistas disfarçados de patriotas, ou patriotas no sentido canalha da palavra. O disfarce, o pretexto para ações terroristas como a tentativa de explodir o Riocentro e manter intactos os ditadores.

Os governos de Lula e Dilma longe de permitirem o reencontro das forças populares se mostraram forças neoliberais disfarçadas em "capitalismo a brasileira", como bem definiu Ivan Pinheiro, secretário geral do PCB - Partido Comunista Brasileiro - e recheados de políticas populistas.

O dinheiro gasto com programas sociais não chega perto da soma do lucro dos bancos privados que operam no País.

O PT - Partido dos Trabalhadores - se transforma num PSDB do B imerso em alianças as mais espúrias e complicadas e projetos populares se transformam em projetos eleitorais. Esgotam-se aí, como se eleições, dentro do modelo que temos, fossem capazes de mudar as estruturas do Brasil.

Hoje somos apenas parte do grande plano das potências que controlam o mundo - EUA e Israel - e que por aqui se chama GRANDE COLÔMBIA. Nem GRANDE BRASIL.

A história contada e exposta aos brasileiros vai nos permitir ter consciência da importância da mobilização popular para que intrépidos pára-quedistas não possam mais e nem encontrem caminhos mais, para aventuras como o golpe militar de 1964.

A punição dos torturadores é essencial para um necessáro suspiro de alívio de brasileiros.

Os crimes que cometeram são imprescritíveis, contra a humanidade e esse caráter já foi reconhecido pela OEA - Organização dos Estados Americanos.

A história completa do golpe de 1964 é dever do governo, é conquista democrática. Não é salto de pára-quedas.