"TIPIFICAR O CRIME"

O secretário de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame não estava na festa do governador Sérgio Cabral e vários secretários e assessores em Paris. Isso não quer dizer nem "a" e nem "b", quer dizer que o secretário não estava em Paris.

O STF (Supremo Tribunal Federal) concedeu liberdade à cúpula do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Decisão do ministro Marco Aurélio Mello que se fundamentou em outra decisão, análoga, tomada em 2007 pelo próprio STF.

Jogo do bicho é contravenção. Beltrame quer uma lei especial para a tipificação do jogo do bicho como caminho mais curto para manter presos os principais contraventores do seu estado, evitando manobras jurídicas que os coloque em liberdade e acabem garantindo impunidade.

O jogo do bicho em si não difere dos jogos bancados pela Caixa Econômica Federal. É um jogo de azar, uma ilusão vendida a preços mais baixos aos que gostam de jogar. Mas todos são jogos num País onde o jogo é ilegal.

Por trás de figuras como Aniz Abrahão David, Aílton Guimarães Jorge - o capitão Guimarães -, Julio César Guimarães Sobreira, Antônio Petrus Kalil - o Turcão - e todos os outros banqueiros do jogo do bicho no Rio de Janeiro existem várias outras modalidades criminosas para além do jogo do bicho, resultado natural - para o mundo do crime - dos lucros obtidos e da necessidade de lavar o dinheiro.

Carlos Cachoeira é banqueiro do jogo do bicho em Goiás e no entorno do estado, inclusive a capital federal.

Não há diferença alguma entre o presidente de qualquer banco comercial ou de investimentos e qualquer um desses criminosos, exceto o fato que banqueiros do Santander, Itaú, Bradesco, etc, são garantidos por lei e hoje até por dinheiro público no caso de algum aperto.

Grécia e outros países da União Européia assistem isso de forma deprimente nas chamadas políticas de austeridade, onde a conta é paga pelos trabalhadores.

O capitão Guimarães, por exemplo, é uma figura repulsiva, ligado ao mundo da repressão na ditadura militar. E mesmo depois de cooptado pelo jogo do bicho - foi carcereiro dos banqueiros na primeira prisão deles após o golpe de 1964, era de fato capitão do Exército - teve papel de importância num papel inverso. Cooptar os banqueiros do jogo do bicho, em troca dos olhos fechados do governo, para a repressão a adversários do golpe.

Não houve exceção no apoio da cúpula do jogo do bicho à ditadura militar. Guardadas as devidas proporções, algo como o acordo firmado entre o governo do presidente Roosevelt e as máfias do contrabando nos EUA durante a Segunda Grande Guerra. Militares norte-americanos chegaram à conclusão que para policiar o litoral do país e evitar a presença de submarinos alemães, era necessária a colaboração das máfias, profundas conhecedoras dos caminhos dos descaminhos do crime organizado.

Em recentes publicações sobre atividades da cúpula da repressão no Rio se mostrou que vários dos chefões - também não existe diferença entre um torturador e um banqueiro e suas modalidades criminosas - freqüentavam um dos mais tradicionais restaurantes do Rio de Janeiro, onde, curiosamente, costumavam se reunir figuras da esquerda.

Lá, nessas revelações, está que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então diretor geral da REDE GLOBO DE TELEVISÃO, era freqüentador assíduo da mesa da repressão. Nem poderia ser diferente. A GLOBO nasceu no pré-golpe e transformou-se no poder que é durante o golpe. Foi cúmplice ativa da repressão e agora, sabe-se que até o doutor Roberto Marinho, imortal e impoluto guardião da "democracia", também planejou o seu atentado.

Nos desfiles carnavalescos de alguns anos atrás o mesmo José Bonifácio - o Boni - aparecia abraçado a Castor de Andrade, então o banqueiro do jogo do bicho mais famoso e diretores, ambos, da escola de samba Mocidade Independente. Como era visível que a transmissão da REDE GLOBO enaltecia aos píncaros qualquer desfile da Mocidade Independente, afinal era o chefe, ou não seria melhor eram os chefes?

A estrutura do jogo do bicho no Rio de Janeiro - e em outros estados - possibilitou uma estreita colaboração desses banqueiros com a repressão, logo, na prisão de inúmeros adversários do regime militar e em troca a garantia da impunidade, ou da livre exploração dessa modalidade de apostas, digamos assim.

A cumplicidade que havia entre o bicho e a ditadura só fez aumentar a corrupção na máquina policial e nos setores repressivos do regime. Um dos seguranças de Aniz Abrahão David, Marco Povoleri - à época - foi um dos mais brutais torturadores nos primeiros anos do regime militar. Era cabo do Exército.

O xis do problema não está no jogo do bicho em si. Banqueiros dos chamados bancos comerciais e de investimentos extorquem pessoas, extorquem governos, controlam estados - instituições - e colocam, como agora, um bloco inteiro de nações, países da União Européia, debaixo dos seus juros enquanto massacram a classe trabalhadora.

Foi assim no início do governo de Barack Obama nos EUA. Bancos e empresas foram salvos com dinheiro público e trabalhadores (incluindo os de classe média) postos no olho da rua, literalmente, sem casas e sem empregos.

A mídia de mercado no Brasil, podre como agora se vê sem margem para dúvidas no caso da revista VEJA, braço do crime organizado, não noticiou num único momento, por exemplo, que uma das fábricas da GENERAL MOTORS nos EUA foi ocupada por trabalhadores na luta por seus direitos. O fato ganhou tal dimensão que o próprio presidente Obama teve que vir a público apoiar os trabalhadores e forçar a empresa a cumprir suas obrigações.

Da primeira leva de recursos liberados para a "salvação nacional de bancos", por extensão de empresas, todos os executivos da GM receberam um prêmio pelo desempenho. Que desempenho?

O jogo do bicho em si é o menor dos problemas que o secretário José Mariano Beltrame tem na área de segurança pública. O jogo do bicho e seus desdobramentos, aí sim. A cumplicidade entre o poder instituído, o Estado e sua máquina, em qualquer dimensão e os desdobramentos do jogo do bicho.

Combater o jogo não vai, por si só, mudar uma realidade que permite a Carlos Cachoeira ter no jogo do bicho só um negócio a mais. O grosso dos negócios está em comprar partidos como o PSDB, boa parte da totalidade dos partidos com representação no Congresso Nacional, inclusive figuras do principal partido do governo, na compra da mídia de mercado, na realização de grandes "negócios" em que o jogo é uma ponta.

É lógico que não. Sérgio Cabral e sua troupe de deslumbrados estava em Paris, ou qualquer lugar da Europa, ou passando o réveillon num lugar deslumbrante da Bahia (o tal do acidente de helicóptero) às expensas de criminosos como Carlos Cachoeira e seus entornos, seus braços, seus tentáculos, seus cúmplices, seus laranjas.

Essa cumplicidade, nessa confusão toda que assistimos, torna o jogo do bicho o mais inocente dos crimes, mesmo que se possa alegar seja o ponto de partida. Só que para gente como Carlos Cachoeira o jogo do bicho é apenas um negócio, pequeno agora, em relação aos outros "negócios".

Conseqüência do jogo do bicho? Tudo bem, mas transformar o jogo do bicho num alvo preferencial em termos de segurança pública é a mesma coisa que imaginar que o soldado da Polícia Militar do Rio que jogou spray de pimenta num cachorro que latiu para ele é um ser humano normal.

Dizem os ficcionistas que os alienígenas não virão em paz. É possível que alguns estejam em algumas PMs espalhadas pelo Brasil. O do spray de pimenta, o coronel dos latifundiários Mário Pantoja (massacre de Eldorado do Carajás)

Beltrame tem imagem de homem honesto, sério, mas no governo Sérgio Cabral e nos rumos que toma a segurança pública no Rio de Janeiro, a corrupção policial e a polícia como instrumento das elites, essa imagem some e fica a de alguém que parece não ter noção exata do que significam essas ligações perigosas de seu chefe. Vale para ele e os chefiados por Marconi Perillo, Agnelo não sei das quantas em Brasília, Aécio/Anastásia em Minas, ou Alckmin e Serra em São Paulo.

Sem contar, evidente, que vale para a mídia de mercado e hoje a revista VEJA, desde os fatos mostrados pela REDE RECORDE, se apresenta não como o principal, mas o puleiro desse galinheiro de podridão que se enxerga num horizonte muito maior que o jogo do bicho.
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