O "CHANCELER" ÁLVARO DIAS

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A biruta da política externa do governo Dilma Roussef está desgovernada. Não obedece ao regime dos ventos e, por mais que se negue, há uma disputa interna no Itamaraty sobre quem comanda quem, já que Patriota não comanda coisa alguma. Isso ficou evidente tanto na RIO + 20 como na fracassada missão ao Paraguai na tentativa de evitar a deposição do presidente Fernando Lugo.

No golpe "constitucional" contra Lugo prevaleceram as máfias brasileiras que atuam no agronegócio, Patriota foi mero espectador e quando chamado a intervir nem foi e nem veio, pelo jeito escondeu debaixo de alguma cama, ou mesa. As notícias divulgadas pela mídia brasileira que o presidente deposto estava resignado eram falsas, são inverídicas e as reações populares, omitidas pela mesma mídia, a de mercado, apenas reforçam a convicção que o que houve naquele país foi um ajuste de quadrilhas do latifúndio em parceria com as elites políticas e econômicas e grandes corporações do setor do agronegócio.

O povo dançou, o governo Dilma estrilou, depois sentou em cima e o novo "chanceler" brasileiro é o senador Álvaro Dias. Com desenvoltura incrível transita junto ao governo golpista do Paraguai, negocia com latifundiários/quadrilheiros chamados de brasiguaios e latifundiários/quadrilheiros do Brasil, nos interesses da MONSANTO e da CARGILL, principais financiadoras dos bandos envolvidos no esquema que depôs Lugo.

Uma boa parte das forças armadas paraguaias estava disposta a garantir a ordem constitucional, ou seja, Lugo presidente, mas foi desestimulada dentre outros pelo suposto chanceler brasileiro Antônio Patriota.

O governo de Dilma é cúmplice por omissão e fraqueza do golpe contra o povo paraguaio.

Os latifundiários brasileiros e brasiguaios conseguiram o milagre de transformar o Paraguai, um país de pequenas dimensões territoriais, num dos maiores produtores de soja transgênica do mundo. Toda essa soja é exportada pelo Porto de Paranaguá, no estado do Paraná, onde o "chanceler" Álvaro Dias foi eleito senador. Na maior parte das vezes a soja brasileira é "contrabandeada" para os brasiguaios e de lá reexportada, numa fraude que gera milhões de reais em prejuízo ao nosso País. Com um detalhe, a soja não sai do Brasil, é contrabandeada no papel.

Com Lugo esse esquema estava ficando difícil, principalmente levando-se em conta que o presidente, timidamente diante das resistências, ia abrindo espaços para a reforma agrária.

Como o Paraguai, desde o fim da guerra com a chamada Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) é uma espécie de protetorado do Brasil, refúgio de criminosos, a perspectiva de um fim nesse tipo de situação despertou o apetite golpista nas quadrilhas (latifundiários), grandes corporações do agronegócio e como não poderia deixar de ser de tucanos e afins (o ex-comunista e agora empedernido direitista Roberto Freira já manifestou apoio ao golpe) se movimentam para legitimar o ilegítimo.

É só voltar um pouco atrás no tempo. Quando inventou seu terceiro mandato, o ex-presidente Alberto Fujimori do Peru foi criticado e rejeitado por quase todos os países do mundo, exceto o Brasil. O presidente era Fernando Henrique Cardoso, deu apoio a Fujimori no golpe na esperança de fazer o mesmo por aqui, um novo mandato.

Não deu certo. Hoje tangenciam os esquemas dos grandes "negócios" com figuras como Álvaro Dias e outros, enquanto tentam voltar ao governo. Nem precisam. As diferenças entre o PT e o PSDB são de símbolo, de cores nas bandeiras, no mais são iguais.

E um pequeno diferença. Dilma não sabe a quantas anda a América Latina e nem a importância da integração latino-americana.

O papel que está exercendo o "chanceler" Álvaro Dias desmoraliza o governo Dilma, mostra um poder paralelo - principalmente o das empresas do agronegócio - e na prática restringe a ação do Executivo a uma política econômica neoliberal capaz de segurar o barco das políticas sociais com caráter assistencialista.

Nem o "capitalismo a brasileira" inventado por Lula (frase de Ivan Pinheiro, Secretário Geral do PCB) sobrevive nesse massacre - é um massacre da autoridade do governo, um desafio, o "chanceler" extrapola os limites de suja competência como senador - já que os grandes grupos econômicos se voltam para esse governo apenas na busca de recursos junto ao BNDES. Coisas como 300 milhões de reais para a Volks desenvolver um carro compacto.

Está assegurada e garantida a exportação de soja "paraguaia" pelo porto de Paranaguá e salvos os negócios de brasiguaios, latifundiários daqui e políticos do esquema.

Como Dilma vai resolver essa complicação não sei. Com certeza não será gritando com ministros, como dizem ser seu hábito. Ou vai buscar socorro em Lula, ou o governo vai ser engolido, como está sendo, em todas essas patriotadas.

E mais, o ministro da Fazenda, Guido Mantega afirma que a aprovação da emenda que destina 10% do orçamento para a Educação vai quebrar o Brasil. Os 46%, ou mais um pouco, de pagamento de juros de dívidas não. Esse é sagrado, mesmo com a revelação que bancos manipulam as taxas de juros e riscos, desde o sacrossanto Banco da Inglaterra.

Por detrás de toda essa reação de tucanos e afins está o ingresso da Venezuela no MERCOSUL, o que não foi previsto pelos golpistas. A Venezuela é um dos grandes mercados importadores em toda a América Latina, já que basicamente exporta apenas petróleo. À primeira vista um bom negócio, mas a perspectiva cada vez mais consolidada de vitória de Hugo Chávez nas eleições de outubro assusta.

A Venezuela é hoje um dos principais alvos dos EUA nessa parte do mundo. O Brasil nem tanto, a essa altura do campeonato já está cercado de bases militares por todos os lados, a Amazônia vai sendo progressivamente tomada nos traçados do Plano Grande Colômbia e o golpe no Paraguai acentua o domínio da Tríplice Fronteira. Envolve além do agronegócio, o aqüífero Guarani.

Dilma Roussef entende que os caminhos passam por Kátia Abreu (miss moto serra) e por conquistar a Prefeitura de São Paulo a qualquer custo.

É onde o horizonte da presidente termina.