NEM CRIACIONISMO, NEM EVOLUCIONISMO, MAS TUCANOS

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Quando Clarence Darrow, um dos mais notáveis advogados norte-americanos de todos os tempos provou no célebre processo do macaco que o bispo de Ulster estava enganado sobre o momento da criação, três mil e poucos anos, isso exibindo uma pedra de dez mil anos e mostrando que para Deus um ano poderia ter milhões de anos do nosso calendário, sepultou o criacionismo.

Volta hoje com incrível força na cegueira vendida pelos senhores do dízimo, na ilusão de casas no céu.

Charles Darwin provocou revolta entre religiosos ao provar que o ser é resultado de um processo evolutivo, além de ter enterrado em cova profunda as pretensões de superioridade ariana.

Mas nada disso, no entanto, supera o poder tucano de ter criado o céu, a terra, a vida, tudo o que existe e está por existir.

É o que se deduz da fala de candidatos do PSDB nessas eleições municipais de 2012. O prefeito da minha cidade, Juiz de Fora, só não está dizendo que foi ele o fundador da dita, mas toda a história gravita em torno de não sei quantas ruas asfaltadas, quantas casas construídas, quantos não sei o que, tudo o dinheiro do governo federal e sem falar nas embromações que foram prometidas e não cumpridas.

FHC se arvora em criador do Plano Real. Era ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco (a quem traiu da forma mais mesquinha possível) e chegou a dizer que se não fosse ele não haveria o Real. José Serra apropriou-se dos medicamentos genéricos, criados pelo ministro Jamil Haddad, quando de sua passagem pela pasta da saúde.

E vai por aí afora.

Tucanos não dizem, mas se consideram enviados divinos para salvar cada cidade brasileira, cada estado brasileiro, o Brasil, mesmo que isso aconteça com privatizações, entrega do patrimônio público, compra de votos de deputados, senadores, práticas despudoradas em campanhas eleitorais.

São pródigos no exercício da mentira eleitoral, da demagogia, se o marqueteiro mandar, choram, derramam lágrimas, só que crocodilos.

Não têm o menor pudor em fazê-lo. Foram gerados no ventre do neoliberalismo, dos arranjos políticos mais escusos possíveis e carregam a arrogância de criadores de tudo o que existe e vai existir à sua volta, à volta de cada um de nós.

Num dado momento acabam sendo descobertos. Caso de José Serra, enrolado em casa inclusive, para explicar a D. Mônica como é o negócio de Soninha do PPS (partido de Roberto Freire, o que virou paulista e foi conselheiro de qualquer coisa a 12 mil reais por mês, à espera de um mandato). É que Soninha declarou na tevê que é "amante" de Serra.

A moça, por sua vez, começou sua carreira como vereadora do PT.

Não tem muita diferença. O partido de Dilma está se esfacelando, deixando a militância órfã de sua história de luta, virou um conglomerado de notáveis com assento no conselho deliberativo e na diretoria executiva do clube de amigos e inimigos cordiais que forma o poder político no Brasil.

O clube PTSDB.

Eu um ano e meio de governo a sucessora de Lula desmontou o "capitalismo a brasileira" do ex-presidente e colocou o Brasil a reboque do que chamam nova ordem mundial. Continuamos mancos e dependentes.

O processo de desmanche dos serviços públicos. Voltou ao esquema tucano. Mereceu elogios de FHC.

Tucanos transformaram uma das mais belas aves da fauna brasileira num símbolo degradante da política nacional.

Carregam o maior escândalo da História recente do País, a compra de votos para a reeleição de FHC. Valeu de tudo, desde dinheiro vivo, a concessões de canais de tevê e emissoras de rádio.

FHC imagina que tirou Zeus do trono no Olimpo e ocupou seu lugar.

Nem falo de Aécio, pego trôpego pelas ruas do Rio de Janeiro ao sair de um bar.

Dias depois de lançar sua candidatura a presidente da República, em peregrinação por gabinetes de banqueiros e grandes empresários paulistas, ciceroneado por FHC. O ex-presidente não admite a candidatura do atual governador paulista e já rifou o parceiro José Serra, em péssima situação nas pesquisas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo.

Toda essa movimentação resulta num "ajuntamento" de tucanos, evangélicos e ruralistas, no processo de sucateamento de algo bem maior que se possa imaginar, a independência do País, a sua soberania.

A coté o PMDB, uma espécie de organização político partidária com características de urubu, à espreita e na espera das carniças que sobram nesse jogo. E como é um urubu monstruoso, costuma levar bem mais que carniças. Leva boa parte do filé do Estado brasileiro.

Há uma obsessão de redes de tevê em escolher o maior brasileiro de todos os tempos. Sem controle, sem critérios e sem que o nosso povo tenha a percepção histórica de vários personagens que desde 1500 tiveram destaque na tentativa de construir a nação livre, soberana, próspera e justa.

FHC aparece em muitos deles disputando com Neymar e Luan Santana.

Dá bem a medida da esculhambação.

A falência do modelo é visível. Salta aos olhos. É como se o Estado estivesse todo enrolado numa grande teia, mas que na verdade protege os integrantes do clube de amigos e inimigos cordiais e mantém o povo à distância.

É uma luta que só vai ser vencida nas ruas, na construção do poder popular.

E já começa atrasada, o precipício se mostra mais próximo e mais aterrador com o governo Dilma Roussef. A petista que abraçou o neoliberalismo.