Beatriz não era uma pessoa ligada em Internet e muito menos em redes sociais, nunca fora.
Usava tanto o computador no trabalho, que preferia outras atividades no lazer, principalmente físicas, como malhar, pedalar, correr na Lagoa.
Passara ao largo do Orkut, mas uma noite em que viu seu namorado Marcos clicando e gargalhando no Facebook, lhe bateu uma inveja, não ciúme, não era ciumenta, mas uma sensação de que estava fora do jogo.
Providenciou seu ingresso na rede, no que foi ajudada por Marcos, fotógrafo "freela", que lhe fez fotos deslumbrantes para o perfil. Ela não era propriamente bonita, sardenta, olhos azuis, mas parecia esplendorosamente bela nas fotos de Marcos, sempre fora assim.
Tratou de adicionar família, colegas de trabalho, e seu melhor amigo, seu ex-marido Victor, pai de suas gêmeas de oito anos.
Victor, Marcos e Beatriz formavam um trio de amigos quase perfeito, discussões só sobre política, pois Victor era um tanto reacionário para os padrões de Marcos e Beatriz.
Com o tempo, amigos de amigos foram surgindo e ela encontrando afinidades maiores até do que com pessoas do seu relacionamento próximo.
Era o caso de Marinka, uma pintora, bem mais velha que Beatriz, uma pessoa mística, misteriosa. Conversavam sempre, Beatriz gostava do estilo exótico de Marinka, na arte e no próprio visual.
Certa noite, um amigo de Marinka, o gaúcho Fernando lhe pediu adição. Beatriz não gostava de adicionar quem não tivesse pelo menos cinco amigos em comum, mas por ser amigo de Marinka, adicionou, apesar da foto do perfil dele mostrar muito pouco, parecia nublada, ou mexida em "photoshop".
Logo que viu o mural de Fernando se encantou com suas postagens, poesias, literatura, arte, música, o mural era fascinante.
Beatriz passou a aumentar seu tempo "online", basicamente restrita ao mural de Fernando.
Um dia postou uma foto sua e numa fração de segundo viu um comentário de Fernando, "mora", logo retirado. Não pensou muito para concluir que era um anagrama de amor e nem precisou, pois logo veio outro "Roma", também rapidamente retirado.
Este estilo subjetivo dele levava Beatriz ao nirvana, era justo o que faltava na sua vida.
Tempo passando e ela cada vez mais apaixonada por este homem do qual nem a voz conhecia.
Marcos já andava com raiva do Facebook, inventava jantares e teatros para tirá-la dali. Quando vinha buscar as filhas Victor mal conseguia conversar com ela.
Fernando era esquivo, tímido e ela adorava isso nele. Se ela o mimava, com mensagens, músicas, reagia ao afago como bichinho assustado, como criança indefesa que esperava que algo lhe fosse cobrado em troca...ao invés de afastar, isso despertava nela ondas incontroláveis de carinho....
Tinha por ele um sentimento indecifrável, não era sexo, até porque gostava muito de Marcos neste particular, inclusive esta era uma maneira rápida de tirá-la do computador. Quando Marcos lhe acariciava os seios, não resistia às mãos ímpares dele. Duvidava muito que outro a levasse a este êxtase e tinha no fundo a certeza de que não trocaria Marcos por homem nenhum, muito menos por um desconhecido. Mas ao mesmo tempo, tinha paixão pela cabeça de Fernando, sensível, inteligente e surpreendentemente frágil.
Tão agitada estava, que até as meninas e o cachorro andavam carentes pela casa.
Sentindo que a situação só piorava resolveu colocar Fernando na parede e fazer com que viesse vê-la no Rio.
Depois de dois meses de insistência e de Beatriz postar as fotos mais lindas que Marcos fizera, finalmente, Fernando resolveu encontrá-la.
No grande dia, Beatriz tremia, entre feliz e apavorada. E se Marcos descobrisse?vPrecisava falar com alguém, até por questões de segurança, contou para Victor, ex-marido e atual melhor amigo. Este tentou dissuadi-la, falou dos perigos, contou casos escabrosos, mas a paixão a dominava.
Foi dirigindo até ao aeroporto, pensava pegar trânsito ruim, como isto não ocorreu, chegou mais de uma hora antes do desejado. Nesta altura uma taquicardia insuportável a acometeu, precisou de um remédio para se acalmar.
Um pouco antes da hora prevista e sem que nenhum avião chegasse do Sul, sentiu um leve toque no ombro. Virou-se e reconheceu imediatamente a face amiga Marinka de quem gostava muito. Não sabia se ficava feliz ou se lamentava este encontro, pois Fernando era discreto, podia não gostar.
Resolveu contar a história toda para Marinka que a ouviu pacientemente e depois num tom de voz grave e macio disse: --Ele não virá, ele não existe, Fernando sou eu....
Diante do espanto da outra, começou a contar, sem dar chance de contestação, como, ao se perceber apaixonada por Beatriz, inventara Fernando usando a foto de um primo falecido há oito anos.
Num misto de surpresa e ódio Beatriz saiu correndo dali, se jogou num taxi, absolutamente sem condições de dirigir. Queria Fernando, mais do que nunca, com aquela cabeça e aquele físico.
Durante quase dez dias não foi trabalhar, mal comeu, numa tristeza profunda, nem uma olhadela ao menos para o computador.
Um dia achou que precisava ao menos ver seus e-mails e se conectou.
O Facebook nos favoritos parecia chamá-la, não resistiu, entrou no mural de Fernando e viu uma postagem recente, feita duas horas atrás, Beatriz, de Chico e Edu Lobo. Sorriu entre lágrimas, curtiu e ficou pensando numa música para agradecer o carinho, não sem antes ir até a página de Marinka e excluí-la, sem dó.
Maria de Fátima Monteiro/dez/2011

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