Nabil Fahmy, MRE do Egito; Abdel Fattah al Sisi, Chefe militar do Egito; Sergey Shoigu,
Ministro da Defesa da Rússia e Sergey Lavrov MRE da Rússia após assinatura do contrato
de compra de armas russas pelo Egito e financiadas pela Arábia Saudita (13/2/2014) .

A imprensa-empresa israelense e iraniana noticiou ontem que Rússia e Egito fecharam negócio de armas no valor de $2 bilhões. Matérias especulativas em meses recentes já apontavam nessa direção, mas quando realmente acontece veem-se olhares de surpresa, porque o negócio significa a retomada de laços militares que passaram por rompimento de 40 anos que deixou gosto amargo em Moscou e no Cairo.

Ao que se sabe, o negócio estaria sendo financiado por Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, principais patrões da junta militar egípcia. Se alguém se interessar (desnecessariamente) por misturar política e moralidade, aí está um negócio que parece nada santo.

O Egito não está diante de ameaça de agressão armada, mas enfrenta, sim, situação aguda de insegurança interna, ampliada pelo caráter repressivo do regime, que parece ter voltado à era de Hosni Mubarak. Bem se pode dizer que o Egito é caso perfeito para um embargo internacional de armas.

Mas está emergindo um curioso consenso sobre o futuro trágico da Primavera Árabe, que põe lado a lado Rússia e Arábia Saudita. Os dois países concordam que o que o Egito enfrenta é terrorismo islamista. A Junta, é claro, insiste que a Fraternidade Muçulmana é puro terrorismo.

Barack Obama

Ironicamente, só o governo Obama aparece como voz dissonante. E insiste numa reconciliação nacional no Egito que leve a “democracia inclusiva, tolerante, governada por civis” – itens que absolutamente não encontram hoje, por causa do “ambiente político polarizado, a falta de um processo inclusive para redigir e debater a Constituição (...) e as prisões dos que se posicionam contra a Constituição”, etc. etc., como o secretário de Estado dos EUA John Kerry disse claramente em declaração recente.

Mas os conselhos dos norte-americanos caíram em ouvidos surdos, porque a junta militar no Cairo aposta no fato de que os EUA não têm meios para pressionar na direção da política que estão prescrevendo nem para apertar os parafusos contra os generais egípcios. Enquanto isso, o negócio com a Rússia dá aos russos ímpeto e meios para ganharem tempo com o governo Obama.

Mas os russos não podem não estar vendo que tudo isso tem sabor de coquetel geopolítico indigesto. Vejam bem: a Arábia Saudita paga salafistas na Síria com laços duvidosos com a al-Qaeda, os mesmos contra os quais luta o regime em Damasco, com a ajuda dos russos; e, no contexto do Egito, as mesmas Moscou e Riad parecem concordar que o islamismo é veneno. É claro que tem de haver outra explicação para tudo isso. 

A Rússia, pelo menos, é consistente sobre a absoluta necessidade de combater os salafistas – seja no Norte do Cáucaso ou Ásia Central ou Levante. Simultaneamente, o governo Obama fala diferentes falas, conforme a situação exija – e, na Síria, segundo as últimas revelações da mídia, enquanto aparentemente trabalha com a Rússia sobre a Conferência Genebra-2 e professa empenho no combate contra a al-Qaeda, não para, simultaneamente, de insistir no golpe (“mudança de regime”) contra o governo Assad.

Todas essas profundas contradições fazem do Oriente Médio uma espécie de arena para o jogo geopolítico entre EUA e Rússia. Há elementos para mais uma “guerra à distância” feita pelos EUA, na Síria. O Egito tem alta possibilidade de converter-se em batalha campal. Os fortes laços entre Rússia e Irã criam espaço político e diplomático para que o Irã negocie melhor com os EUA. Mas o namorico com os generais egípcios pode até levar a um namorico também entre russos e sauditas, bem agora quando Obama prepara-se para visitar Riad no final de março. O príncipe Bandar, chefe da inteligência saudita já esteve duas vezes em Moscou – e o golpe militar no Egito, ano passado, pode ser considerado sua obra-prima.

Onde entra Israel em tudo isso? Com certeza Israel partilha a angústia saudita por o governo Obama ter desistido de atacar a Síria. Israel também não conseguiu pôr fim ao engajamento EUA-Irã. Simultaneamente, já surgiu novo atrito entre EUA e Israel, também porque o governo Obama voltou a insistir sobre um acordo palestinos-israelenses. Kerry alertou sobre o perigo de Israel enfrentar campanha crescente de deslegitimação, em fala que causou mal-estar em Telavive.

Nessa conjuntura, o mínimo que Moscou pode fazer pelo Primeiro-Ministro Bibi Netanyahu é deixar-se ver em público de mãos dadas com ele. É o que está fazendo. De fato, a diplomacia russa não precisou de muito tempo para decifrar a charada de EUA-Israel. Faz lembrar famosa lição do surfe, de origens imemoriais – “Se o mar crescer, surfe” [1]. Porque, na dúvida entre serpentes venenosas ou recifes pontiagudos, sempre se pode remar para fora.

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11/2/2014, MK BhadrakumarIndian Punchline
Russia riding Middle Eastern waves
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The HinduAsia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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Nota dos tradutores
[1] Orig. “If it swells, ride it!”. Assista a seguir um swell épico:

http://redecastorphoto.blogspot.com.br

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