O que se evidencia desde o início da exploração do homem pelo homem e da sociedade de classes é a luta de homens e mulheres laboriosos buscando meios para resistir à exploração e se organizarem para pôr fim a ela. Com o advento do capitalismo e o surgimento do proletariado, gerou-se a ideologia científica da classe operária e desenvolveram-se inúmeras formas justas de luta. Como não poderia deixar de ser, surgiu também o seu contrário: o oportunismo e o revisionismo.

Desde então, dois caminhos estavam traçados e em constante contenda: o revolucionário, que organiza e politiza as massas para lutar pelo poder, indo além da legalidade burguesa e da luta econômica, e o reformista oportunista, que subestima as massas, trafica com seus interesses e é sócio menor do sistema de exploração, ou seja, defende a linha burguesa no meio do proletariado.

No que se refere ao 1o de maio esta pugna fica evidente ao longo de toda sua história. Os primeiros resgatando o verdadeiro sentido da data: a luta; e os segundos não medindo esforços para seguir a burguesia e transformar o 1o de maio em data de confraternização e, pior, confraternização de classes.

Em 1871, a Comuna de Paris foi a primeira tentativa de tomada do poder pela classe operária. Em 1872, a I Internacional, tendo como integrantes Karl Marx e Frederich Engels, se reúne e é lançada proposta para que o dia 1º de maio fosse conhecido como o Dia do Internacionalismo Proletário, iniciando assim a luta por conquistar jornada de 8 horas de trabalho.

A GREVE GERAL

No ano de 1885, no USA, surge a Federação dos Grêmios e Sindicatos Operários, organização para a luta econômica dos trabalhadores estadunidenses fundada por militantes socialistas e anarquistas. O primeiro e marcante ato da Federação está ligado diretamente à concretização do 1o de maio como data de luta do proletariado. 

No ano seguinte, 1886, a Federação convocou uma greve geral no país, a iniciar-se no 1o de maio. As reivindicações centrais do movimento eram as mesmas que, em 1872, Marx e Engels levantaram na I Internacional: a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias (de segunda a sábado). Nesse dia, várias passeatas e comícios ocorreram no país, e a paralisação é considerada um sucesso. Porém, os 350 mil operários da cidade de Chicago, na costa oeste do USA, participam do movimento e enfrentam a reação da polícia que, num ataque aos grevistas, fez nove vítimas. No dia seguinte, mais quatro operários foram assassinados em choques com a polícia.

No dia 4, os líderes do movimento convocam um grandioso comício em Chicago contra as sucessivas repressões do Estado norte-americano. Neste ato, é dada continuidade à série de crimes cometidos contra os trabalhadores. A polícia do USA abre fogo contra os participantes do comício, que se reuniam no Mercado do Feno, no centro da cidade. O resultado foi terrível: 80 operários perderam a vida sob as balas da tropa, e os líderes locais da greve foram ferozmente perseguidos. Quinze participantes operários são presos, destes, oito da indústria metalúrgica permaneceram presos e foram condenados.

A CONDENAÇÃO

A condenação judicial foi implacável, apesar da intensa pressão dos operários do USA e demais países, que pugnavam pela liberdade dos operários presos.

Adolph Fischer, George Engel, Louis Ling, Albert Petsons e August Spies foram enforcados em novembro de 1886. Samuel Fielden e Miguel Schwab, condenados a prisão perpétua, e Oscar Neebe, a 15 anos de prisão. Os cinco condenados à morte foram acusados como líderes do movimento. Antes de ser executado, um dos operários, August Spies, destruiu moralmente seus carrascos com palavras que ficaram gravadas para sempre na memória de milhões de trabalhadores: "Com o nosso enforcamento, vocês pensam que destroem o movimento operário. Porém, com nossa morte, vocês apenas apagam uma faísca; mas, aqui e acolá o fogo se espalhará, em todos os lados. E será uma chama subterrânea que vocês nunca poderão apagar."

O DIA DO INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO

Em 1889, ao se fundar a II Internacional – sob a direção de Frederich Engels— a proposta de se fazer do 1o de maio o Dia do Internacionalismo Proletário é recolocada e, após votação, aprovada, passando a ser celebrado em todos os países como dia de lutas, greves e enfrentamentos contra o capitalismo.

Após a Revolução Russa de 1917 se intensificaram as comemorações de 1o de maio, onde era saudada a primeira revolução proletária da história. Na União Soviética milhões de operários, soldados do Exército Vermelho, camponeses, intelectuais tomavam as ruas em grandes desfiles celebrando a data e se lançando a novas batalhas, a produção a educação, o exercício do poder. A grande parada da Praça Vermelha iluminava os povos em luta e por mais que a imprensa burguesa procurasse difamar o evento um só sentimento enchia os corações e as mentes dos oprimidos de todo mundo: É Possível!

NO BRASIL

Segundo o pesquisador Evandro Dias, em abril de 1893, em São Paulo, enquanto preparavam a organização para comemorar o 1o de maio, trabalhadores brasileiros e estrangeiros foram denunciados, perseguidos e presos. Transferidos para o Rio de Janeiro, os estrangeiros sofreram espancamentos durante os nove meses de prisão. Dos maustratos os trabalhadores brasileiros também não escaparam. Não mofaram nos cárceres, mas foram advertidos de que se reincidissem, "o castigo seria mais severo".

O historiador Hermínio Linhares conta que o 1o de maio foi comemorado publicamente em Santos, em 1895, com discurso, conferências e homenagens aos mártires de Chicago. Caixeiros, cocheiros e demais empregados da época abandonaram o trabalho nesse dia para comemorar a data em praça pública.

Em 1900, operários da construção civil de São Paulo fundam a "Sociedade Primeiro de Maio". Em 1906 a COB (Confederação Operária Brasileira) — primeira experiência de organização operária de porte nacional — em manifestação no Rio de Janeiro combatia aqueles que viam a data como feriado. A COB chamava a classe operária ao combate pelas "8 horas de jornada, melhores condições de trabalho e autonomia sindical."

Em 1915, o 1o de maio foi comemorado no Largo de São Francisco, no Rio de Janeiro, com o afluxo de grande multidão, que protestou contra a ameaça de envolvimento do Brasil na guerra entre a Alemanha e a Rússia czarista.

Segundo o jornal paulista Folha da Manhã, no 1o de maio de 1935 várias manifestações se realizaram em recintos fechados. Os bairros operários estavam sendo "discretamente" patrulhados pela polícia de Vargas. Já o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, em 2 de maio do mesmo ano registra a manifestação na Esplanada do Castelo, destacando o discurso do representante da ANL (Aliança Nacional Libertadora). Registra ainda a presença da polícia sem que, no entanto, houvesse confronto.

Os inimigos do proletariado sempre procuraram roubar-lhe esta gloriosa data, transformando-a em um grande convescote onde a burguesia e o oportunismo se refestelam às custas da massa trabalhadora.

Durante o Estado Novo, por exemplo, o 1o de maio oficial procurava dar o caráter de confraternização entre operários, patrões e, particularmente, com o governo. Merece destaque o trabalho em se apropriar da luta das classes trabalhadoras e atribuir conquistas como salário mínimo, justiça do trabalho, entre outras garantias trabalhistas, a dádivas de Vargas — "o pai dos pobres". Outra "conquista" importante do governo de Getúlio foi a domesticação do sindicalismo, que passa a ser legal desde que colaboracionista, o que se reflete visivelmente no 1o de maio. 

Em 1940, por exemplo, foram entregues medalhas comemorativas à União Geral dos Sindicatos de Empregados do Distrito Federal — representante da classe operária — e a Confederação Nacional da Indústria, em virtude da cooperação prestada pelos profissionais sindicalizados por ocasião da inauguração do monumento da Praia Vermelha, em comemoração à derrota do levante de 19351. Em 46, já no governo de Eurico Gaspar Dutra, a data é utilizada para dar-se início a intensa campanha anticomunista, tanto no campo da propaganda quanto da repressão. O Jornal do Brasil noticia que, em reunião, o ministério deliberou que o governo tomaria, com a maior urgência, medidas "positivas contra a expansão do comunismo no Brasil."

Os showmícios, tão utilizados pelos atuais oportunistas, não são novidade, porque em 54, no segundo governo Vargas, realizou-se grande churrasco no estádio da Escola Nacional de Educação Física e Desporto, e a Associação dos Servidores do Trabalho, Indústria e Comércio ofereceu um show, do qual participaram vários artistas do teatro e do rádio, como Orquestra Ruy Rey, Grande Otelo, Jorge Veiga, Rosita Gonzales, Cauby Peixoto, Jackson do Pandeiro, Dircinha Batista e Emilinha Borba.

Durante o gerenciamento militar houve certa disputa entre o 1o de maio oficial e o promovido pelas organizações de esquerda e movimentos populares. A distribuição de prêmios de operário-padrão e as prisões por motivo de panfletagem, pichações, e outras formas de luta dividiam os noticiários.

Em 1981 militares armaram o que poderia ter sido uma das maiores carnificinas da história do Brasil. Na noite de 30 de abril realizava-se o show comemorativo da data com grande afluência de público ao Rio Centro (Rio de Janeiro). Dois militares colocariam duas bombas no local do show e seria armada uma patranha acusando as organizações de esquerda. Uma das bombas explodiu no carro matando um e deixado o outro ferido.

Com o passar do tempo, o "aumento dos espaços democráticos" e a prevalência do oportunismo, as diferenças entre o 1º de maio da direita autêntica e da falsa esquerda praticamente acabaram. Os artistas passaram a ser a atração principal. Quando muito, há um ou outro pronunciamento insosso de algum neo-pelego até a completa fusão com o ascenso do oportunismo ao centro do aparelho de Estado. Este ano o que se viu por todo o país foram sorteios, shows de "cantores sertanejos", tentando aparentar uma grande festa — quem sabe para comemorar o novo salário mínimo.

O agravamento da crise e o desmascaramento crescente do oportunismo e o surgimento de organizações classistas, cada vez mais combativas — tanto no campo como na cidade — têm reflexos também no 1o de maio. A distribuição de um panfleto, uma reunião em um acampamento na terra expropriada ao latifúndio ou uma manifestação com centenas ou poucos milhares de pessoas em uma grande cidade podem parecer pequenos diante dos mega-eventos produzidos pelos marqueteiros de plantão, mas calam fundo na consciência do proletariado e de seus aliados, que conseguem vislumbrar as grandes batalhas que se avizinham.

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1 Levante armado dirigido pelo Partido Comunista do Brasil, primeira tentativa do mesmo de chegar ao poder.
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