e88 A face oculta da contaminaçãoPequim, China, 21/12/2011 – Aumentam os protestos ambientalistas na China, que abriga 21 das cem cidades mais contaminadas do mundo. Os críticos garantem que as autoridades manejam em público estatísticas parciais da poluição. Os responsáveis pelos assuntos ambientais de Pequim afirmam que esta capital já cumpriu seu objetivo anual de “dias de céu azul” para 2011, declarando que a qualidade do ar este ano foi melhor do que em 2008, ano em que a cidade recebeu os Jogos Olímpicos.
As últimas declarações foram motivo de piadas na internet. Muitos entendem que o governo encobre os reais níveis de poluição. No dia 18, a estatal Agência de Notícias Xinhua informou que Pequim desfrutou de 274 dias de “céu azul” este ano. “Pequim teve redução generalizada na concentração de vários contaminantes em 2011”, disse Zhuang Zhidong, subdiretor do Escritório Ambiental Municipal. A agência admitiu que a capital chinesa também experimentou “vários dias com ar de má qualidade, devido às más condições meteorológicas”.
O Escritório culpou vários fatores, entre eles ventos mais fracos e aumento da umidade por não conseguir dispersar os contaminantes atmosféricos. Os cibernautas do site mais popular de microblogs chineses, Sina Weibo, reagiram com desdém às últimas declarações. “Por acaso, hoje é o Dia dos Inocentes?”, perguntou um usuário, depois citado no South China Morning Post, publicado em Hong Kong. “Sugiro que as autoridades ambientais de Pequim usem óculos de sol com lentes azuis para que cada dia tenha o céu azul”, brincou.
O especialista ambiental Steven Q. Andrews disse à IPS, por e-mail, que “o Escritório perdeu credibilidade diante da população chinesa. O governo controla o ozônio e as partículas finas, mas não informa publicamente” esses números, afirmou. “Também há preocupações significativas quanto à precisão dos controles do Escritório”, acrescentou.
“Por exemplo, antes, o Escritório fechou as estações de controle criadas para medir a contaminação rodoviária e afirmou que isso melhorou a qualidade do ar”, apontou Andrews. “Ao não informar o particulado fino, o governo pode argumentar que a qualidade do ar melhorou na capital, mesmo que a severa contaminação aérea e os impactos sobre a saúde tenham aumentado”, acrescentou.
No começo deste mês, moradores de Pequim protestaram pelas grandes discrepâncias entre as leituras oficiais do Escritório sobre a qualidade do ar e as obtidas dos controles realizados pela embaixada dos Estados Unidos. A sede diplomática produz suas próprias leituras sobre a poluição e as transmite por meio da rede social Twitter. A desigualdade entre os dois registros está no tamanho das partículas aéreas que medem. As leituras oficiais medem as maiores, conhecidas como PM10 (partículas até dez micrômetros de diâmetro), enquanto a embaixada norte-americana mede as mais finas, PM2,5, consideradas mais perigosas para a saúde humana porque penetram mais profundamente nos pulmões.
Segundo um informe de Andrews, publicado no site ambiental China Dialogue, os funcionários do governo anunciaram nos últimos dois anos que a qualidade do ar em Pequim foi boa, ou mesmo excelente, quase 80% do tempo. Em contraste, as medições da embaixada dos Estados Unidos concluíram que, em cerca de 80% dos dias, houve níveis de contaminação prejudiciais para a saúde.
A pressão pública, cada vez maior, levou no mês passado os funcionários governamentais a anunciarem que revisariam os padrões de qualidade do ar. As avaliações propostas indicam que até 2016 cidades de todo o país exigirão controles medindo as PM2,5. “Os diferentes dados são colhidos usando diferentes métodos de controle. Estes dois não são comparáveis. Para PM2,5 podemos ter, e temos, dados de controle, mas estes não estão disponíveis para o público. Divulgar os dados sobre qualidade do ar e ambiental é um assunto muito sério”, disse à IPS o vice-presidente do Escritório, Du Shaozhong.
“Atualmente, o público sente que a informação que o governo divulga não é tão boa como a da embaixada norte-americana. Deveríamos melhorar nosso sistema de difusão de informação e criar métodos mais amigáveis para os usuários, como aplicações para telefones celulares”, afirmou Du. “Acreditamos na informação que divulgamos, porque temos muitos escritórios de controle da qualidade do ar e produzimos dados precisos. A qualidade do ar em Pequim melhorou gradualmente”, acrescentou.
Porém, os moradores da cidade têm um olhar muito diferente a respeito. No começo deste mês, céus cobertos pela poluição forçaram o cancelamento de 700 voos no aeroporto de Pequim. As autoridades culparam o mau tempo. O governo descreveu o cinza smog que envolveu o céu com se fosse uma “ligeira contaminação”, mas a embaixada dos Estados Unidos disse que os valores registrados eram “perigosos”, ou superavam a escala.
O temor do ar contaminado fez disparar as vendas de máscaras do tipo cirúrgicas. Alguns estabelecimentos comerciais esgotaram completamente seus estoques. Dados do Taobao Mall, o maior site de vendas pela internet na China, indicaram que foram vendidas 30 mil dessas máscaras apenas no dia 4, quando foi determinada a suspensão dos voos. Já em novembro, os blogs destilavam indignação diante da notícia de que, aparentemente, vários dirigentes chineses compraram sofisticados filtros de ar para o complexo Zhongnanhai, sede do Partido Comunista, enquanto asseguravam que a capital não tinha nenhum problema de contaminação.
Os custos são elevados. Um informe divulgado em 2007 pelo Banco Mundial diz que cerca de 750 mil pessoas morrem a cada ano na China por se exporem à poluição, tanto em espaços abertos quanto fechados. “Coloquem funcionários do governo e especialistas para trabalharem na área com maior concentração de PM2,5, aposto que serão mais eficientes”, postou no Weibo um usuário que se identificou como Fanfanstudio. Outro usuário, chamado Linye Neo, simplesmente escreveu: “a rádio de Hangzhou disse que Pequim está coberta por areia amarela, engarrafamentos e ar venenoso. Pequim tem tudo”. Envolverde/IPS

 

(IPS)
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