Dia 16 de setembro, manhã agitada no Centro de São Paulo.

A Polícia Militar tentou levar a cabo uma reintegração de posse numa das avenidas mais famosas da capital, a São João. A ação policial visava desocupar o antigo prédio do Hotel Aquarius, onde residiam centenas de famílias organizadas pela Frente de Luta Por Moradia (FLM). Os moradores do edifício, que viviam no local há seis meses, não se renderam e enfrentaram a repressão.

A polícia estava nas redondezas desde as 6h e iniciou as agressões por volta das 9h, lançando balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Pedras, paus, fogos de artifício e objetos pessoais foram lançados contra os agentes de repressão da rua e do alto do prédio de 20 andares.

Um carro blindado da tropa de choque tentou furar as barricadas na entrada do prédio. Durante os confrontos, em frente ao Theatro Municipal, um ônibus foi incendiado. Outras barricadas com objetos encontrados na rua foram erguidas em diferentes pontos.

Parte do Centro ficou bloqueada por mais de oito horas e aproximadamente 30 linhas de ônibus tiveram seus trajetos alterados, muitos coletivos foram abandonados. Do alto do prédio ocupado, mulheres com crianças de colo protestavam contra a covardia policial e vários pedestres que passavam pelo movimentado local passaram mal com o gás lacrimogêneo. Algumas pessoas foram levadas ao hospital, uma delas com a perna quebrada.

O movimento afirma que ocupou o espaço porque ele estava desocupado e inutilizado há dez anos. O motivo principal do protesto foi o fato das pessoas não terem tido tempo de retirar seus pertences pessoais. O combinado eram 40 caminhões para a mudança, o que não foi cumprido. Este é o mesmo motivo pelo qual as duas tentativas anteriores de reintegração (no começo de junho e fim de agosto) não haviam dado certo: a falta de transporte suficiente.

Mauro Lopes, tenente -coronel da polícia fascista, disse à imprensa que, durante a madrugada, seus soldados negociaram uma saída pacífica e que foi “surpreendido” pela resistência. O oficial disse ainda que 40 caminhões estavam reservados para o transporte dos móveis, o que foi negado pelos moradores.

A reportagem de AND em São Paulo acompanhou os fatos. O saldo foi de mais de 70 detidos, incluindo crianças sendo amamentadas, deficientes e mulheres grávidas. Além disso, fotógrafos e bombeiros foram feridos e PMs se machucaram entre si. A estação República do metrô foi fechada, juntamente com todo comércio. A repressão promoveu o caos no Centro da maior cidade do país.

Um posto de gasolina na Av. Rio Branco foi usado como campo de concentração, onde, sob forte cerco da tropa de choque, os detidos eram humilhados. Em dado momento, uma senhora pediu a um PM para ir ao banheiro e ouviu como resposta: “Faça no chão”.

Os detidos foram encaminhados ao 3º DP, em Campos Elíseos, e, após serem ouvidos, foram liberados. Até a tarde deste mesmo dia, apenas duas pessoas continuavam detidas acusadas de “desacato à autoridade” e “resistência à prisão”. As duas estavam feridas, uma com o braço fraturado e a outra com nove pontos em um corte na cabeça. Após os tumultos, a PM cercou a região e fez a “limpeza” do prédio.

Na parte da tarde, quando a situação parecia “controlada”, mais truculência policial no Largo do Paissandu. Pedestres pediam calma, mas a PM continuou a desfilar por inúmeras ruas e novas bombas, repentinamente e sem qualquer razão, foram jogadas em cima de trabalhadores que se dirigiam para suas casas.

O comando da polícia, para tentar justificar a repressão, alegou que os confrontos iniciaram pela ação de “infiltrados”, e o monopólio da imprensa chamou os manifestantes de “baderneiros” e “vândalos”. Para tais representantes do velho Estado, o fato da polícia tirar de forma brutal a moradia de centenas de trabalhadores não configura um ato de “vandalismo”.

A FLM afirmou que “aproximadamente 800 pessoas, crianças e idosos serão jogados na rua, sem uma solução definitiva” e que este tipo de operação repressiva serve “à especulação imobiliária, sem levar em conta o problema social”.

Por seu lado, o gerente municipal Fernando Haddad, do PT, se prestou ao papel mais vil do oportunismo eleitoreiro. Indagado sobre a ação da polícia, afirmou que “oportunistas” estariam se aproveitando dos movimentos de luta por moradia para virar a população contra os sem casa provocando confrontos com a polícia. Sobre a ação policial em si, sabujamente declarou: “Cabe ao governo do estado comentar a ação da polícia, porque a polícia é um órgão do governo do estado. Ela não é subordinada a mim. Assim como o governador do estado, acho, não faz comentários sobre as pessoas que são subordinadas a mim, não é de bom tom fazer comentários sobre pessoas subordinadas a ele”.

O vídeo produzido pela reportagem de AND pode ser visto acima.

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