Uma floresta-escola, que proporciona a crianças e adolescentes a possibilidade de estarem mais perto da natureza. Este é o sonho concretizado da bióloga Eliana Maria Nicolini Gabriel

Sede da Escola do Meio Ambiente EMA 300x224 A andorinha sozinha que fez verão para todos – Entrevista com Eliana Maria Nicolini Gabriel
Sede da Escola do Meio Ambiente. Foto: Divulgação
Acreditar no seu sonho e transformá-lo em realidade foi o que fez a bióloga e professora Eliana Maria Nicolini Gabriel, de Botucatu, no interior do Estado de São Paulo, ao inaugurar a Escola do Meio Ambiente, em 2005. A instituição proporciona a alunos da rede pública municipal vivências em uma área de Mata Atlântica existente na cidade, que leva o nome de floresta-escola Irmãos Vilas Bôas.

Os alunos percorrem uma vez por ano trilhas, apelidadas de caminhos ecopedagógicos. São, no total, 15 trilhas diferentes (confira no final desta matéria as atividades de cada uma delas), que proporcionam experiências de aplicação prática dos conceitos de sustentabilidade.

Eliana contou sua história no projeto “Uma andorinha não faz verão?” e foi uma das vencedoras da 3ª edição do Prêmio Ecofuturo de Educação para Sustentabilidade, concedido pelo Instituto Ecofuturo.

Confira a íntegra da entrevista concedida pela bióloga à repórter da Envolverde, Alice Marcondes.

Como surgiu o projeto da Escola do Meio Ambiente?

A minha história profissional se confunde com a minha história de vida. Mais ou menos em 1992, eu morava em Jaú, trabalhava na Prefeitura e tinha vontade de desenvolver um projeto desse tipo, para que, quando eu tivesse filhos, pudesse mostrar para eles um despertar diferente de mundo. Jaú é uma cidade que tem como principal atividade econômica o plantio de cana-de-açúcar e que possui menos de 1% de área de floresta. Queria que meus filhos vissem coisas melhores e sempre vi em mim a possibilidade de gerar essa transformação. Então, nasceu o meu primeiro filho, o João. Eu morava em Botucatu e trabalhava em Jaú. Como não tinha conseguido implantar o projeto lá, abri mão pela estabilidade do João, que precisava ir para uma escola da rede pública na cidade onde nós morávamos. Por isto, eu saí do trabalho em Jaú e passei a trabalhar em Botucatu. Foi neste momento que eu conheci o lugar onde hoje está instalada a Escola do Meio Ambiente, que abriga a floresta-escola. É uma área de Mata Atlântica, em Botucatu, que pertence à Prefeitura e onde existe uma represa. A área estava completamente abandonada. Na mesma época engravidei pela segunda vez e nasceu a minha filha Ana Clara, que despertou em mim novamente aquela vontade de realizar o sonho de construir uma escola ambiental.

Trilha encantada   crianças com o espantalho 300x224 A andorinha sozinha que fez verão para todos – Entrevista com Eliana Maria Nicolini Gabriel
Crianças com o espantalho, na Trilha Encantada. Foto: Divulgação
Onde você encontrou apoio para a concretização do sonho da escola ambiental?

Eu sou bióloga, tinha prestado um concurso e já era professora da rede pública em Botucatu. Procurei a Secretaria de Educação, apresentei o meu projeto e eles apoiaram desde o início. A área onde está a floresta era utilizada para esconder carros roubados, então também era um problema para a administração pública. A represa era usada para nadar, mas como não tinha nenhum tipo de estrutura, aconteciam muitos acidentes e afogamentos. A construção da escola ia ser boa para todos.

Quando a escola foi inaugurada?

A Ana Clara nasceu em 2003. No período em que fiquei fora da sala de aula, por conta de seu nascimento, tive a possibilidade de escrever o projeto. Em abril de 2005, a Escola do Meio Ambiente foi inaugurada. No início era eu sozinha e tudo foi aos poucos tomando forma. Hoje em dia temos 11 monitores, mais 11 estagiários, cinco arte-educadores e dois auxiliares de serviços gerais. Nós atendemos cerca de quinze mil alunos da rede municipal a cada ano.

Como funciona o atendimento desses alunos?

Eles começam a vir aos três anos. A cada ano eles fazem uma das trilhas do projeto. A última é feita aos 17 anos. A visita acontece uma vez por ano, em horário de aula.

Eles podem visitar por conta própria, em dias diferentes da data em que vão com a escola?

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Adolescentes na horta da Trilha Agroecológica. Foto: Divulgação

Nós temos uma agenda bem apertada, então fica difícil. O que fazemos é estimular os professores para que eles desenvolvam atividades nas escolas onde trabalham. Nós já temos exemplos de experiências bem-sucedidas, como professores do ensino infantil aqui de Botucatu, que abordam a questão da educação ambiental em suas escolas e já receberam até premiações pelas inciativas. Em uma das escolas, uma criança tem um avô que é índio. Os professores levaram este avô para a sala de aula e as crianças puderam aprender um pouco da cultura indígena, com um índio de verdade, humano, e não de contos de fadas. Na Escola do Meio Ambiente nós temos a trilha indígena, mas são monitores fazendo o papel de índios. É uma experiência bacana, mas não é a mesma coisa.

Depois de sete anos de funcionamento da escola, você viu crescer uma geração de alunos de Botucatu. Como é isto para você?

Temos alunos que vieram quando ainda eram crianças e que hoje são estagiários aqui da Escola. Sinto como se tivesse uma missão e não pudesse desanimar nunca, porque se você não fizer, os outros não farão no seu lugar com a mesma determinação.

Quando você idealizou a escola, já tinha visto algo parecido em outros lugares?

Não. Eu só sonhava em trabalhar, enquanto bióloga, em um lugar que reunisse crianças e natureza. Eu acredito que a floresta sem o homem não é completa e o homem sem a floresta também não. A gente precisa promover essa união. Eu queria que não só os meus filhos não tivessem medo de formiga e de joaninha, mas que criança nenhuma tivesse medo da natureza.

Você tem planos para o futuro da Escola do Meio Ambiente?

Eu entrei numa empreitada agora para trazer a Umapaz (Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz) para dentro da Escola do Meio Ambiente. Quando eu falo em universidade, não é pensando em faculdade, é em universidade enquanto universo de possibilidades. Quero trazer pessoas de outras cidades que queiram conhecer a Escola e que queiram aprender os caminhos para replicar a ideia no lugar onde vivem. Quero também criar um pequeno curso, com mais vivências, que estimule as crianças a se tornarem porta-vozes destas ideias nos seus lares e locais de convivência.

Os custos para manutenção da Escola são altos?

Não. É algo equivalente ao gasto para manutenção de uma escola pública de pequeno porte. Nós contamos também com ajuda financeira de algumas instituições privadas.

Qual o tamanho da floresta-escola?

São 12 hectares de floresta, onde aproximadamente dez hectares são a área que a gente chama de Floresta Irmãos Vilas Boas. Dentro dessa floresta, tem áreas de Mata Atlântica e também um pouco de cerrado. Existe também uma represa formada por águas de nascentes.

Você já sabe o que vai fazer com o R$ 5 mil que ganhou do Prêmio Ecofuturo?

Vou ajudar meu filho João a fazer um intercâmbio. Eu creio muito que ele também pode ser uma luz nesse mundo. Ele é formado em relações internacionais e quer fazer um trabalho para ajudar pessoas na África. Vou custear isso para que ele sinta o prazer que é ajudar pessoas.

Confira as atividades oferecidas em cada um dos caminhos ecopedagógicos da Escola do Meio Ambiente.

- Trilha Encantada: um caminho repleto de fadas e espantalhos, dedicado a crianças de quatro anos.

- Trilha Indígena: nesta trilha as crianças de cinco anos aprendem sobre a cultura e os costumes dos índios.

- Trilha do Peabiru: a proposta desta trilha é ensinar para as crianças de seis anos um pouco mais sobre a história da cidade de Botucatu.

- Trilha do Tatu: crianças de sete anos saem em busca da água, que é o tesouro da floresta.

- Trilha do Jequitibá: o gigante da floresta é procurado pelos alunos de oito anos de idade.

- Trilha do Sujão: a abordagem sobre o lixo, destinada aos alunos com nove anos, é transmitida de forma divertida, com a participação ativa das crianças.

- Trilha Agroecológica: aos dez anos, as crianças aprendem nesta trilha a plantar, colher, preparar o alimento orgânico e saboreá-lo em um piquenique.

- Trilha da Água: alunos de 11 anos se tornam pesquisadores que buscam a vida na água da represa, nas nascentes e nas poças d’água do Ribeirão Lavapés.

- Trilha da Biodiversidade: todas as formas de vidas vegetais e animais são abordadas nesse caminho, destinado aos alunos de 12 anos.

- Trilha da Interação: comparar as diferentes formas de vidas existentes nos diferentes ecossistemas da escola é o principal objetivo dos participantes com 13 anos de idade.

- Trilha do Reconhecimento: reconhecer-se como parte integrante da natureza é o que mostra esta trilha aos seus participantes com 14 anos de idade.

- Trilha do InterSer com a Natureza: alunos do Ensino Médio com 15, 16 ou 17 anos percorrem este caminho, que tem como objetivo apresentar a interdependência das espécies no planeta.

- Caminho para Sentir a Natureza: destinado a deficientes auditivos e visuais e idosos, este caminho é participativo e proporciona vivências onde eles “leem” a natureza por meio dos sentidos.

- Caminho de Reverência à Vida: neste caminho, educadores, agentes de saúde, médicos, e pessoas que exercem atividades relacionadas à vida recebem cuidados semelhantes da equipe que conduz a trilha.

- Caminho para Paz: realizado à noite, à luz de velas. Os participantes percorrem um pequeno trecho de estrada para que em silêncio e, por meio de vivências carregadas de simbolismo, encontrem a paz para si e para o outro.

Veja mais fotos das trilhas e instalações da Escola do Meio Ambiente:

A arte de reutilizar e plantar 1024x767 A andorinha sozinha que fez verão para todos – Entrevista com Eliana Maria Nicolini Gabriel
Crianças realizando atividade de plantio. Foto: Divulgação

Caminho de Reverência à Vida 1024x771 A andorinha sozinha que fez verão para todos – Entrevista com Eliana Maria Nicolini Gabriel
Atividade do Caminho de Reverência à Vida. Foto: Divulgação

Conhecendo a floresta com outros olhares 1024x767 A andorinha sozinha que fez verão para todos – Entrevista com Eliana Maria Nicolini Gabriel
Crianças realizando a atividade "Conhecendo a floresta com outros olhares". Foto: Divulgação

Represa Prof. Jorge Jim formada pelas nascentes do Ribeirão Lavapés localizada na EMA 1024x682 A andorinha sozinha que fez verão para todos – Entrevista com Eliana Maria Nicolini Gabriel
Represa Professor Jorge Jim formada pelas nascentes do Ribeirão Lavapés, localizada na Escola do Meio Ambiente. Foto: Divulgação

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Crianças aprendem sobre a flora na Escola do Meio Ambiente. Foto: Divulgação

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Crianças realizando a Trilha da Água. Foto: Divulgação

(Agência Envolverde)
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