graffiti Novo feminismo sobe pelas paredes no Brasil
Foto: Divulgação/Internet

Rio de Janeiro, Brasil, 8/1/2013 – Anarkia Boladona faz das paredes das ruas brasileiras um instrumento contra a violência doméstica. Autodefinida como “grafiteira político-feminista”, a artista representa uma nova corrente pelos direitos das mulheres, que busca linguagens menos acadêmicas, mais ousadas e populares. A entrevista acontece em movimento. Boladona, nascida como Panmela Castro, está pintando um mural diante de uma escola municipal do subúrbio do Rio de Janeiro, junto com outras jovens.

Mas, ao contrário do passado, quando começou a pintar paredes como pichadora, agora as autoridades a apoiam. “Já tinha o costume de escrever nas ruas desde adolescente, e depois comecei a desenhar. Quando passei para o desenho vi que as pessoas gostavam e comentavam no dia seguinte”, contou à IPS.

Boladona começou a pintar paredes “por indignação” até descobrir que podia utilizar seus desenhos para “contribuir com algo” que servisse à comunidade, um subúrbio pobre do Rio de Janeiro. “Por ser de uma família de mulheres, uma das temáticas que percebia era a da violência contra a mulher. Sempre esteve muito presente em minha vida, por minhas irmãs, minhas primas, minhas tias”, recordou.

A transição para o que chama de “feminismo político-grafiteiro” também teve a ver com sua origem familiar. Mulheres “influenciadas pela revolução feminista dos anos 1970”, acrescentando que, “ao mesmo tempo em que estavam presas ao casamento e ao patriarcado, eram mulheres que entendiam que tudo caminhava para ser diferente. Eu e minhas primas fomos criadas de uma forma diferente delas”. A educação foi diferente, e o caminho escolhido para lutar pelos direitos das mulheres também.

Hoje, aos 31 anos, se sente parte do feminismo de uma nova geração. “Creio que as feministas antigas tinham que ser muito radicais para romper os estereótipos. Por isto, tinham esses conceitos fortes, como o de não explorar o corpo nem a imagem do corpo”, afirmou. Tendo lutado no passado por um mundo “sem sutiã”, hoje estas novas feministas não duvidam em tirá-lo para defender uma boa causa por seus direitos.

“Avançamos tanto que nossa luta não é mais, por exemplo, para não explorar a imagem do corpo, mas para usar nosso corpo da maneira que queremos, ainda que o expondo. Temos a opção de trabalhar com nosso cérebro, com nosso corpo, da maneira que nos der vontade”, ressaltou Boladona. A artista escolheu trabalhar com sua arte com paredes como seu instrumento. E as utiliza para retratar os dramas sofridos por milhões de mulheres. Às vezes, a pintura começa com uma representação teatral. O mural que está fazendo é um protesto contra violência contra a mulher. Um número de telefone lhes indica para onde ligar e pedir ajuda.

A lei Maria da Penha, aprovada em 2006 para combater a violência doméstica e familiar contra a mulher, aumentou o rigor das penas, até chegar à de prisão. Um informe do Instituto Sangari indica que no Brasil uma mulher apanha a cada cinco minutos, sendo que em 70% dos casos os responsáveis são noivos, maridos, ex-companheiros ou familiares.

Os temas dos murais de Anarkia Boladona não se esgotam. Um mundo mítico feminino de flores, libélulas, Evas, bruxas apelando por um mundo com igualdade de direitos trabalhistas, culturais, e de liberdade sexual. “Luto principalmente pela igualdade de gênero. Que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens e, quando digo direitos não é apenas na lei. É um direito de igualdade cultural também”, ressaltou.

Silvana Coelho, de 23 anos, participa do mural. Dentro de um ambiente considerado revolucionário como o dos grafiteiros, aprendeu do que se trata essa luta cultural. “É um mundo de homens. Eu sofria muito assédio dos próprios artistas. Às vezes, me chamavam para pintar já com segundas intenções. Mas eu me revoltava e dizia a eles que sou artista da rua, não sou dessas mulheres da rua, estou aqui para fazer minha arte”, contou à IPS.

Enquanto a pintura do mural avança, aumenta a curiosidade entre homens e mulheres. Um grupo de senhoras, que se orgulha de ter, em média, mais de 90 anos, aprova a obra. “Antes era muito difícil um homem bater em uma mulher. Agora há homens que além de tirar o dinheiro de sua companheira também batem nela”, disse a aposentada Francisca de Oliveira, de 92 anos.

Um avô com suas duas netas também observa a obra. “Há pessoas que usam esta arte para denegrir, desmoralizar. Por outro lado, a arte destas moças levanta, faz refletir, educa, e isso na rua, ou seja, é acessível a todos”, diz o gráfico Mauro Torres. “É importante porque há pessoas que maltratam as mulheres”, diz sua neta Ingrid da Costa, de nove anos. A menina é parte de uma geração que, segundo Anarkia Boladona, hoje vive novas temáticas feministas.

Uma preocupação da artista é que, assim como no passado a luta era a liberdade sexual, hoje as pré-adolescentes e adolescentes da forte “cultura do bailes funk” das favelas se sentem obrigadas a manter relações sexuais porque, “do contrário, seus namorados as deixam por outras”. Segundo Boladona, “há uma inversão de papéis. Antes, a obrigação era manter a virgindade. Hoje, a obrigação é não ser mais virgem”.

Às vezes, as paredes não bastam para abordar tantos temas. Por isto, Boladona criou uma organização chamada Nami (mina, com as sílabas invertidas, gíria para mulher), que usa as artes urbanas para promover o direito das mulheres, especialmente das mais pobres. Daniele Kitty, estudante de arte e vice-presidente da Nami, teve que enfrentar seus pais por não aceitarem que “uma mulher fique pintando por aí”. E explicou que, “na verdade, estou aqui, como vocês veem, fazendo um trabalho”.

Trata-se de um trabalho que a Nami usa para aproximar-se das mulheres que não têm acesso nem a um jornal. “Não se pode ignorar um mural como este. Acaba sendo quase uma mensagem comercial na televisão. Uma mensagem subliminar que de tanto alguém ver e rever ao passar por ela acaba não se esquecendo”, afirmou a artista. O mural em questão pede “o fim da violência contra a mulher”. Uma flor, pintada por Silvana o complementa. “A mulher é sagrada, uma flor que se deve ter o cuidado de não machucar. É preciso regá-la com água, e também com amor”, afirmou. Envolverde/IPS

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