"Todos os povos são racistas". Esta declaração feita pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss levou os incautos e enfurecidos a considerá-lo racista. Na verdade, ele estava apenas expressando uma realidade cultural. O etnocentrismo é marca de todos os povos, mas a cultura ocidental o refinou. Primeiro, valeu-se da ciência para demonstrar a superioridade dos brancos sobre outras cores de pele. Depois, até os pensadores progressistas e de esquerda criaram o mito da superioridade do ocidente sobre outras etnias. Claro, uma raça superior só pode criar uma cultura superior. Estranha-se apenas que as primeiras civilizações — mesopotâmica e egípcia — tenham sido produzidas por populações mestiças. Os brancos demoraram muito a demonstrar suas capacidades, mas agora ainda se deslumbram com elas.

Se examinarmos o processo evolutivo dos hominídeos (grupo zoológico a que pertence o Homo sapiens), concluiremos que só na África ele está completo, da origem à atualidade. Houve migração de hominídeos anteriores ao H. sapiens para a Europa e Ásia. Contudo, pesquisas recentíssimas revelam que os hominídeos pré-sapiens não evoluíram fora da África até o estágio sapiens. Só na África este processo aconteceu. Assim, foram migrantes africanos do H. sapiens, portanto negros, que conquistaram Ásia, Europa, Oceania e América, mudando os traços físicos como forma de adaptação.

Estas mudanças não comprometeram a base sapiens. As diferenciações não foram tão grandes a ponto de darem origem a raças desiguais. A humanidade, com todas as diferenças físicas, compartilha 99,6% dos genes. Apenas 0,4 dos genes produz as diferenças, o que não nos autoriza a falar de desigualdades raciais. Todavia, não podemos ignorar tais diferenças. Neste caso, melhor substituir a expressão "raça" por "variedade fenotípica". Raça é um termo muito contaminado que nos leva a pensar em desigualdades inatas. Variedade fenotípica aponta para diferenças externas apenas, conservando o mesmo genótipo.

A recente reaparição de James Watson, cientista que, juntamente com Francis Crick, revelou a existência do DNA, causou muita polêmica. Valendo-se da ciência, ele vem tentando demonstrar a inferioridade de negros e asiáticos, a homossexualidade e a obesidade com resultantes de falhas genéticas. Como já comentei aqui neste espaço, quando a genética se arroga como a única forma de ciência a explicar as diferenças, ela cai no geneticismo. É o que tenta demonstrar Watson, corroborado por cientistas amarelos e negros, inclusive. O chinês Bruce Lahn, naturalizado norte-americano, defendeu esta postura em prol de Watson.

Em entrevista à Folha de São Paulo, edição de 05/11/2007, Charles Murray, cientista político autor do livro A Curva do Sino, publicado em 1994 e considerado racista, pegou mais leve. Ele sustenta que uma diferença micro de 0,4% expressa-se, no plano macro, em desigualdade. Mas acaba recorrendo ao meio externo para explicar o que ele chama de desigualdade. A seu ver, os judeus ashkenazis têm um QI muito alto não propriamente por razões genéticas, mas por exercício intelectual exigido por seus livros sagrados. O entrevistador perguntou-lhe por que o judeu Paul Wolfowitz, ex-presidente do Banco Mundial, não se saiu muito bem em sua função, enquanto o negro Nelson Mandela revelou-se de notável inteligência no processo que culminou com o fim do apartheid, na África do Sul. Ele respondeu que, nos dois casos, não se deve levar em consideração a raça, e sim a pessoa. Ora, ora, ora.

A ciência não é e talvez nunca seja neutra. Como, politicamente, eu sou progressista, acabo também usando as revelações da genômica para defender a tese de que, entre os humanos, existem apenas variedades fenotípicas (externas), sendo a base genotípica (interna) a mesma. Vou mais longe ainda: todos os seres vivos têm inteligência e desenvolvem aptidões para viver. Creio que minha interpretação está mais próxima das descobertas científicas atuais que a interpretação de Watson e Murray.

 

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