Uma catastrófica conjunção dos astros acometeu as três pontes usáveis de Campos. Não é de hoje que a velha Barcelos Martins está com problemas e, mesmo que não estivesse, ela foi concebida no tempo das carruagens. A ponte General Dutra arriou com as chuvas de janeiro. A ponte da Lapa também está com seus alicerces comprometidos. A ponte do casal Garotinho foi concebida num local desastroso para o trânsito e para a tranqüilidade da população e, ainda por cima, enfrentou um acidente que vitimou várias pessoas. Restou a ponte ferroviária, que vem sendo usada para o transporte de passageiros por trem, uma excelente idéia nascida em época de crise. Coisa rara. Não as épocas de crise, mas as boas idéias dos governantes, sobretudo em tempos críticos. Seus usuários pedem para que o transporte permaneça. Afinal, a Prefeitura dispõe de recursos financeiros em abundância para bancar duas iniciativas de caráter público: a reativação do transporte ferroviário, que nunca deveria ter sido abandonado no Brasil, e o transporte coletivo gratuito. Isto é desenvolvimento. Mais até do que ficar financiando indústrias com dinheiro dos royalties pelo Fundecam e a indústria sucro-alcooleira pelo Fundecana.

Mas será mesmo que o colapso das duas pontes rodoviárias e o acidente da ponte do Estado se devem a uma conjunção negativa dos astros? Claro que não. Os astros estão muito distantes da Terra e as pontes estão muito próximas do poder público. No caso das pontes General Dutra e da Lapa, faltou manutenção. No caso da ponte do Estado, o acidente ainda está sendo investigado. Agora, o poder executivo de Campos pretende construir mais uma ponte, contrariando todas as exigências que o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo fez para a ponte do Estado, inclusive com apoio dos representantes da Prefeitura. Com as movimentações de construção iniciadas sem estudos de impacto ambiental e de vizinhança, certamente a secretaria de obras e urbanismo vai conseguir da Feema a licença para a construção sem estudos de impacto ambiental, como ocorreu com a ponte do Estado. Também serão dispensados os estudos de impacto de vizinhança, sob alegação de que Campos ainda não regulamentou a lei acerca deste instrumento instituído pelo Estatuto da Cidade. Se os representantes independentes do Conselho de Meio Ambiente e Urbanismo não tomarem o devido cuidado, as decisões passam a ter uma forte coloração político-partidária.

Em reunião com ruralistas e ceramistas, o engenheiro Luiz Eduardo Cardozo, contratado como consultor pela prefeitura, demonstrou que o transporte de cana por caminhões pela ponte da Lapa só poderá ser realizado a partir de 15 de abril, mesmo assim com muitas restrições. Sem caminhões de cana, o tráfego pela ponte já está um inferno que afeta a cidade inteira. Imaginem com os caminhões. Além do mais, as águas do rio não baixaram o suficiente para os reparos necessários. As sapatas dos pilares estão repletas de lixo, o que dificulta as obras. Resultado da atitude das pessoas em relação aos rios e lagoas: latas de lixo.

Diante da avaliação do engenheiro Luiz Eduardo Cardozo, nossas esclarecidas lideranças empresariais revelaram seu normal irracionalismo. O presidente da Associação Norte Fluminense dos Produtores de Cana (Asflucan) propôs um encontro com o vice-governador e com o secretário estadual de obras. Quem sabe eles não trazem uma lâmpada de Aladim para os empresários pedirem o reparo urgente nas duas pontes e a conclusão veloz da ponte do Estado. Lembrem-se: apenas três pedidos. Já o presidente da Cooperativa Agroindustrial do Rio de Janeiro (Coagro), sempre bem falante e passando a idéia de que os ruralistas e usineiros são muito avançados, cobrou do secretário municipal de obras e urbanismo a conclusão das reformas no prazo estabelecido. O presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic) teve a genial e salvadora idéia de interditar a ponte da Lapa em sinal de protesto. Com esta manifestação, a ponte vai se auto-reformar.

Por fim, o presidente do Sindicato dos Ceramistas concluiu com brilhantismo que nós "Moramos na cidade da ponte que caiu". Só faltou a fala do presidente do Sindicato rural. Enfim, a reunião de presidentes terminou sem nenhuma proposta, ainda que emergencial e provisória. Talvez a solução esteja ainda na ferrovia. Quem sabe não é possível escolher pontos de embarque e desembarque nas duas margens do Rio Paraíba do Sul que não transtornem a circulação de veículos, pontos estes em que caminhões embarcariam a safra inexistente, segundo os próprios ruralistas e ceramistas, para serem colocadas em caminhões na outra margem.

Falta ainda uma ponte: a outrora denominada João Figueiredo, ligando os municípios de São João da Barra e São Francisco de Itabapoana. Ela foi iniciada num tempo de homens rudes e acabou abandonada. Agora, toda a campanha da prefeita de São João da Barra pela sua conclusão deve, necessariamente, passar por uma nova discussão. Como a ponte vai estreitar a calha do rio Paraíba do Sul, estudos de impacto ambiental são indispensáveis.

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