Se prestarmos atenção aos fatos acontecidos a partir de 1º de abril de 1964, data do golpe militar que derrubou o presidente constitucional do Brasil, João Goulart e voltarmos um pouco mais no tempo, fica claro que o projeto político das elites brasileiras só varia no contexto de tempo e espaço. Na essência continua a ser o mesmo. Isso significa que a luta de classes é a verdade absoluta em todo o processo político institucional ou não no País.

A princesa Isabel assinou a “lei áurea” em maio de 1888 e o fez sabidamente diante de uma realidade política e econômica que não tinha nada a ver com propósitos de libertar os escravos e construir uma sociedade justa e democrática. Parte das elites valeu-se da grande campanha abolicionista para alcançar objetivos próprios ao perceber que o modelo do chicote, da chibata e do tronco estava esgotado. 

Novas formas e métodos de escravidão teriam que ser adotados e isso começava por incluir também mão de obra branca que começava a acumular-se nas cidades. Pressões internacionais – sempre movidas por razões econômicas, nunca pruridos éticos ou libertários –, um conjunto de fatores que acabaria por levar à falência o modelo que continua se valendo da escravidão. Os donos perceberam isso.

O chicote, ou chibata, o tronco, foram sendo substituídos gradativamente e hoje a televisão cumpre esse papel com uma eficiência impressionante. Consegue que escravos sintam-se cidadãos/ãs, parte de algo que não existe. Uma democracia lato senso. Temos uma democracia adjetivada a despeito da constatação de Sobral Pinto que “democracia não como peru. Não existe a brasileira, ou a francesa. Ou é democracia, ou não é”.

Fiscais do Ministério do Trabalho libertam quase que diariamente centenas de trabalhadores submetidos ao regime de escravidão e não raro são vítimas de ameaças. Em Unaí, MG foram assassinados por um latifundiário que hoje é prefeito da cidade, pois “gera progresso e empregos.” Não é por acaso que veste roupas e plumagens tucanas.

Quando Golbery do Couto e Silva, um dos arquitetos do golpe e de pelo menos dois governos do período ditatorial (Castello Branco e Ernesto Geisel) disse que “vivemos períodos distintos de sístole e diástole, ora de abertura, ora de fechamento”, estava dizendo que em qualquer circunstância, ou situação, o modelo político e econômico seria o mesmo, preservando os interesses dos donos do Brasil.

Que diferença existe entre a mentalidade de um latifundiário de 1888 e a de um assassino de Chico Mendes? Ou dos donos de terra do agronegócio em tempos de superávit na balança de pagamento?

Nesse tempo entre a abolição – o decreto da princesa – e o agronegócio muitas vacinas foram descobertas, inclusive contra a raiva, nenhuma delas contra a forma tacanha de ser dos grandes proprietários de terra.

O que a ditadura militar fez, entre outras “contribuições” ao capitalismo, foi unir os produtores rurais (ensinou-os a comer de garfo e faca, a tomar banho, a falar ao invés de grunhir) aos luzidios e udenistas burgueses da cidade, resultando na realidade que conhecemos e vivemos hoje de elites que permanecem tacanhas e bisonhas, mas sempre capazes de enfrentar e vencer os trabalhadores.

Trocaram o chicote e o tronco pela televisão. Pelo intervalo comercial. Que dita e norteia o que comer, o que vestir, enquanto nos programas ensinam e mostram como deixar de ser para virar rês, gado tangido e guiado segundo a ótica do “progresso e da geração de empregos”.

O golpe de 1964 foi a reação dos donos – os de dentro e os de fora – às perspectivas de ascensão dos trabalhadores. E o governo Goulart não era nem de longe socialista e tampouco as reformas de base que propunha mudariam o caráter capitalista do sistema.

Militares foram apenas e tão somente os cães de guarda dessas elites, historicamente tem sido assim aqui no Brasil e na imensa e esmagadora maioria dos países do mundo. São como se detivessem o poder do juízo final. O céu para os donos, o inferno para os trabalhadores.   

Só que agora trabalhadores têm direito a divertir-se diante da telinha, acreditando que o mundo do Big Brother seja o mundo normal e real. Não percebem que é uma nada sutil ironia dos donos. É o mundo do Big Brother sim, tão somente isso.

No máximo generais ganharam o direito de colocar faixa presidencial, estufar o peito cheio de condecorações e câmaras de tortura, onde praticaram todas as formas possíveis de barbárie e estupidez, do “simples” pau de arara, aos estupros, assassinatos, ganhando inclusive contornos internacionais – os donos assim o mandaram – na Operação Condor.

O Brasil ora foi de Roberto Campos, ora foi de Delfim Neto, ora foi de Mário Henrique Simonsen. Campos e Simonsen morreram, Delfim continua lépido e fagueiro e hoje é defensor intransigente do governo Lula.

A grande tarefa, o grande desafio da organização popular permanece como tarefa e desafio a despeito de extraordinários avanços – MST por exemplo –. mas a massa acredita piamente no que William Bonner diz que é real, a despeito de ser considerada idiota e passiva na classificação do próprio Bonner.  Homer Simpson.

O chicote e o tronco ganharam caixas coloridas e terminam em pequenos comprimidos brancos ou não, capazes de ou restituir um desgarrado à normalidade anormal do modelo, ou jogar num almoxarifado os irrecuperáveis.

Ao invés da Casa Grande e da Senzala, os castelos de tecnologia e a “miséria colorida” – mas dolorida e sofrida – das favelas e dos amontoados urbanos em formigueiros onde a divisão do trabalho diluiu o ser e não tem cara e nem forma.

A luta pela abertura dos baús da ditadura não significa tão somente expor as vísceras de um regime ditatorial imundo, sórdido, brutal, assassino. Bruce Willys mata centenas num filme só na cultura que abençoa Silvester Stallone. Nem mostrar o caráter perverso de um “patriota” padrão Brilhante Ulstra. 

É parte importante da tarefa e do desafio da formação e da organização. 

Compreender o papel de uma instituição – Forças Armadas – que ao longo da História tem sido instrumento permanente dos donos do Brasil. Os que compreenderam o tomaram o caminho de um País diversos desse dos donos foram sendo expurgados e eliminados.

Resgatar a História. Sem a História como um todo não vai ser possível encontrar caminhos para nos livrarmos de 1964. Ou alguém tem dúvida que vivemos o “1984” de Orwell, ou o “Admirável Mundo Novo” de Huxley na “sociedade do espetáculo” de Débort?

Uma caravana de reses, com respaldo do poder público está sendo convidada para a festa de retorno de uma “sister” – volta à sua cidade – excluída do BBB e que já declarou que pode estudar uma proposta para posar nua. Posar nua é o de menos. Nascemos nus. 

E só as elites conseguem vestir-se. Trabalhadores permanecem nus.

O que Golbery quis dizer é isso. No azul ou no amarelo vai ser sempre o mesmo. O que fizeram em 1964 foi perceber e se antecipar – como sempre – aos trabalhadores. Nem azul, nem amarelo. Só o chicote e o tronco em forma de “Deus, pátria e família”.

Neste momento preparam o golpe branco da eleição de José Serra, a qualquer custo e preço, mesmo que esse custo e preço impliquem em porta dos fundos do presidente da extinta suprema corte – STF DANTAS INCORPORATION LTD – e Lula acredita que o leme está em suas mãos.

Nunca saiu das mãos deles, os donos. Ora é valsa, ora é marcha.

Os trabalhadores dançam. Mas num imenso salão que não é nada mais que a grande Senzala de hoje, como foi da ditadura e tem sido ao longo dos tempos.

A estrutura do modelo é a mesma. Que diferença existe entre Gilmar Mendes e Brilhante Ulstra? Só de método. São iguais.

São pagos pelos donos.
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